|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AÇÃO
Disneylândia no inferno
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
Muito antes de Ernest Hemingway eternizar o velho pescador-aventureiro Santiago nas páginas
de seu clássico O Velho e o Mar,
histórias de homens do mar já
fascinavam audiências.
O sucesso de Amyr Klink, o navegador e aventureiro solitário
que fatura alto encabeçando a lista dos livros mais vendidos, é a
maior evidência desse poder dos
mistérios do oceano.
Melhor a cada viagem e livro,
como escritor, Amyr tem a seu favor a simples tradução das experiências vividas, a verdade.
Quando fala de medo, saudade
ou felicidade, não precisa rebuscar a linguagem para passar seus
sentimentos.
Outro dia ganhei do amigo Vavá Ribeiro o livro The Big Drop,
clássicas histórias de surfe em ondas grandes, editado por John
Long.
São 32 relatos nos quais Mark
Foo, Gerry Lopez, Derek Hind,
Greg Noll, entre outros, contam
experiências próprias ou que testemunharam.
Entre as tantas envolventes narrativas, de cara me ative à apresentação de Jay Moriarty ao
mundo do big surfe. Em que pese
a influência que a foto que acompanha o texto tenha exercido, a
história é marcante.
Aos 16 anos, James Michael Moriarty remou para o outside de
um Maverick's (EUA) gigante.
Era 21 de dezembro de 1994, dia
mais tarde batizado de Big Monday. Remou para sua primeira
onda, e, quando resolveu desistir
de surfá-la, era tarde.
""Fiquei em pé, olhei para baixo,
e vi nada se não ar, 35 pés de vazio. Tive uma fração de segundo
para pensar "Oh, m..." quando a
prancha voou contra meu corpo e
o lip me pegou pelas costas.
O impacto foi terrível: fui socado contra o fundo numa terrível
turbulência. Tentei me concentrar em ficar relaxado. Fui rolando e sacudindo, e tive sorte de encontrar o fundo com os pés. Demorei muito para subir. Mantive
meus olhos abertos e tudo estava
preto.
Sabia que, se não subisse logo, a
próxima onda estaria sobre mim;
então, nadei o mais rápido possível que pude para poder respirar.
A segunda onda não foi tão ruim
quanto a primeira, mas me rolou
um bocado".
Dias depois, o havaiano Mark
Foo morreria surfando em Maverick's. A onda, então ainda novidade no cenário do surfe, começava a se firmar como a mais temida do planeta.
Aqueles dias na praia de Santa
Cruz, na Califórnia, ganharam
espaço na mídia. O jornal New
York Times, a rede de TV NBC e
publicações locais destacaram os
incidentes e as titânicas ondas e
questionaram como o garoto Jay
havia sobrevivido ao ""wipeout for
the millennium", segundo a capa
da revista ""Surfer".
Parece claro que existe um forte
componente genético para as habilidades do californiano. A
imensa maioria de surfistas do
planeta jamais remaria naquele
inferno gelado que para ele é como a Disneylândia.
Mas ele sobreviveu para contar
sua história. E não só pela sua cadeia de DNA. Treinou sério desde
os 13 anos para desenvolver suas
habilidades naturais, e, com certeza, a sorte também estava ao
seu lado. Cada um tem e conta a
história que merece.
Super Surf
De hoje até domingo, será
disputada a terceira etapa do
Brasileiro, em Ubatuba (SP),
com duas novidades: a Celebrity Session que homenageará os campeões do Festival de Surf da cidade e a doação de um quilo de alimento
ou agasalhos pelos atletas.
Jefrey's Bay
Dois brasileiros estão nas
quartas da quinta etapa do
WCT, na África do Sul. Peterson Rosa eliminou o líder do
ranking, Sunny Garcia, enquanto Flávio Padaratz, o Teco, venceu Renan Rocha.
Aventura
O Raid Brotas Extreme, válido pelo Brasileiro de corridas
de aventura, será disputado
entre os dias 7 e 9, em Brotas
(SP). Serão percorridos cerca
de 220km. As 25 equipes disputarão uma vaga para o
EMA de 2000.
E-mail
carlosarli@revistatrip.com.br
www.uol.com.br/folha/pensata
Texto Anterior: Popov vence os 100 m livre no Europeu Próximo Texto: + Esporte - Academia: Lúdico, ciclismo indoor dá nova "cara" ao fitness e atrai adeptos Índice
|