São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2000


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AÇÃO
Disneylândia no inferno

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

Muito antes de Ernest Hemingway eternizar o velho pescador-aventureiro Santiago nas páginas de seu clássico O Velho e o Mar, histórias de homens do mar já fascinavam audiências.
O sucesso de Amyr Klink, o navegador e aventureiro solitário que fatura alto encabeçando a lista dos livros mais vendidos, é a maior evidência desse poder dos mistérios do oceano.
Melhor a cada viagem e livro, como escritor, Amyr tem a seu favor a simples tradução das experiências vividas, a verdade. Quando fala de medo, saudade ou felicidade, não precisa rebuscar a linguagem para passar seus sentimentos.
Outro dia ganhei do amigo Vavá Ribeiro o livro The Big Drop, clássicas histórias de surfe em ondas grandes, editado por John Long.
São 32 relatos nos quais Mark Foo, Gerry Lopez, Derek Hind, Greg Noll, entre outros, contam experiências próprias ou que testemunharam.
Entre as tantas envolventes narrativas, de cara me ative à apresentação de Jay Moriarty ao mundo do big surfe. Em que pese a influência que a foto que acompanha o texto tenha exercido, a história é marcante.
Aos 16 anos, James Michael Moriarty remou para o outside de um Maverick's (EUA) gigante. Era 21 de dezembro de 1994, dia mais tarde batizado de Big Monday. Remou para sua primeira onda, e, quando resolveu desistir de surfá-la, era tarde.
""Fiquei em pé, olhei para baixo, e vi nada se não ar, 35 pés de vazio. Tive uma fração de segundo para pensar "Oh, m..." quando a prancha voou contra meu corpo e o lip me pegou pelas costas.
O impacto foi terrível: fui socado contra o fundo numa terrível turbulência. Tentei me concentrar em ficar relaxado. Fui rolando e sacudindo, e tive sorte de encontrar o fundo com os pés. Demorei muito para subir. Mantive meus olhos abertos e tudo estava preto.
Sabia que, se não subisse logo, a próxima onda estaria sobre mim; então, nadei o mais rápido possível que pude para poder respirar. A segunda onda não foi tão ruim quanto a primeira, mas me rolou um bocado".
Dias depois, o havaiano Mark Foo morreria surfando em Maverick's. A onda, então ainda novidade no cenário do surfe, começava a se firmar como a mais temida do planeta.
Aqueles dias na praia de Santa Cruz, na Califórnia, ganharam espaço na mídia. O jornal New York Times, a rede de TV NBC e publicações locais destacaram os incidentes e as titânicas ondas e questionaram como o garoto Jay havia sobrevivido ao ""wipeout for the millennium", segundo a capa da revista ""Surfer".
Parece claro que existe um forte componente genético para as habilidades do californiano. A imensa maioria de surfistas do planeta jamais remaria naquele inferno gelado que para ele é como a Disneylândia.
Mas ele sobreviveu para contar sua história. E não só pela sua cadeia de DNA. Treinou sério desde os 13 anos para desenvolver suas habilidades naturais, e, com certeza, a sorte também estava ao seu lado. Cada um tem e conta a história que merece.

Super Surf
De hoje até domingo, será disputada a terceira etapa do Brasileiro, em Ubatuba (SP), com duas novidades: a Celebrity Session que homenageará os campeões do Festival de Surf da cidade e a doação de um quilo de alimento ou agasalhos pelos atletas.

Jefrey's Bay
Dois brasileiros estão nas quartas da quinta etapa do WCT, na África do Sul. Peterson Rosa eliminou o líder do ranking, Sunny Garcia, enquanto Flávio Padaratz, o Teco, venceu Renan Rocha.

Aventura
O Raid Brotas Extreme, válido pelo Brasileiro de corridas de aventura, será disputado entre os dias 7 e 9, em Brotas (SP). Serão percorridos cerca de 220km. As 25 equipes disputarão uma vaga para o EMA de 2000.
E-mail
carlosarli@revistatrip.com.br
www.uol.com.br/folha/pensata

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