São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2000


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Rodada de hoje promove a estréia do baixo clero da Copa JH
Módulos Amarelo, Verde e Branco iniciam participação no Nacional, extrapolando o gigantismo de sua 1ª década
Com mais 50, Brasileiro volta aos 70


FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

A Copa João Havelange começou na semana passada, mas a rodada que tem o seu ponto alto hoje simboliza a verdadeira abertura do torneio -ou pelo menos a que tem a sua cara.
Afinal, é nesta tarde que vai a campo pela primeira vez boa parte das equipes dos Módulos Amarelo (correspondente à segunda divisão), Verde e Branco (ambos terceira divisão), que representam 78% do total de participantes do Campeonato Nacional mais inchado da história.
São 116 clubes, divididos em quatro módulos. A primeira divisão, codinome Módulo Azul, reúne 25 times. O Módulo Amarelo, 36, e os Verde e Branco, 55.
O diferencial em relação aos últimos anos -e que faz das quatro divisões um único torneio- é que todos os 116, embora com probabilidades distintas, podem ser campeões.
Para a segunda fase se classificam 16 equipes, sendo 12 do Módulo azul, três do Amarelo e uma dos Verde e Branco.
Enquanto a rodada de hoje do grupo de elite tem apenas sete partidas programadas, o domingo do baixo clero terá 25 jogos, envolvendo 50 times.
Isso porque 39 deles ainda aguardam a sua vez de estrear -os sul-matogrossenses Comercial e Operário, que completam a lista dos 91 "pequenos", já se enfrentaram, anteontem à noite.
Esse amontoado de equipes, que remonta aos "Brasileirões" dos anos 70, quando a política ditava o número de participantes, é, como no passado, consequência da desordem da cúpula dirigente do futebol nacional.
A Copa JH é fruto de uma batalha de tribunais travada entre o Gama e a dupla CBF-Clube dos 13, que pôs em risco a realização do Brasileiro-2000, seguida de uma virada de mesa que acabou por inchar o torneio.
Vendo por outro lado, pelo prisma dos que têm saudade dos enormes Nacionais organizados pelo almirante Heleno Nunes, a rodada de hoje é um prato cheio.
Clássicos regionais aos borbotões, equipes folclóricas dos rincões mais distantes e "gols da rodada" de duração interminável.
É a chance, por exemplo, de ver em ação, nem que seja por segundos, o lendário ASA de Arapiraca (AL), citado por Chico Buarque e Francis Hime como referência de eterno perdedor (na canção "E Se", de 1980, que diz, como algo impossível de acontecer: "E se o Arapiraca for campeão").
Eufórico com a inédita conquista, este ano, do Campeonato Alagoano, sobre o CSA, o presidente do ASA, Luciano Machado, tem planos ambiciosos para a disputa do Módulo Verde.
Questionado se pensava em brigar pelo título, o dirigente não titubeou: "Olhe, estamos montando uma equipe para isso".
Ele diz que, após o surpreendente título, cobrará uma retratação dos compositores. "Estou esperando que eles (Chico e Hime) mudem a música", brinca.
Um bar de Arapiraca se deu mal. Até julho, quando o ASA foi campeão, tinha pendurada na parede uma placa com a inscrição: "Só vendo fiado quando o ASA for campeão".
"Agora ele (o dono do bar) está lascado", diverte-se Machado.
Como os saudosos dos anos 70, o dirigente só vê vantagens na Copa JH. "É o único Brasileiro que ajuda financeiramente os clubes da terceira divisão", afirma, se referindo aos R$ 2.000,00 para custear hospedagens nos jogos em que o time é visitante.
Se a cidade ficar numa distância de até 400 km, o Clube dos 13, promotor do torneio, pagará ainda um ônibus leito; se ultrapassar isso, as equipes receberão 23 passagens de avião.
Outro que comemora é o presidente do Central de Caruaru (PE), Leonardo Chaves, que apresenta, no entanto, outros motivos.
"Tem que acabar com essa história de que futebol no Brasil é só São Paulo, Rio, Minas e Rio Grande do Sul. Craque tem em todo o lugar. Um campeonato desses, embora financeiramente não seja muito importante, dá oportunidade de todos os clubes do país participarem", diz ele, cuja equipe disputará o Módulo Verde.


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