São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nem Jesus salva o Universal do fiasco


SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Nem mesmo a fé ajudou o Universal, time de futebol da Igreja Universal do Reino de Deus, na disputa do seu primeiro torneio. No mês passado, o clube ficou em último lugar na segunda divisão do Estadual do Rio de Janeiro.
Como se não bastasse a má campanha, o Universal não venceu sequer um jogo na competição, para desespero dos seus torcedores -a maioria fiéis da Igreja Universal. O time acumulou sete empates e cinco derrotas.
""Fizemos várias correntes, mas nada adiantou. Se Deus não quis, vamos deixar para a próxima. Com certeza, ele nos abençoará", disse o goleiro Fábio Maia, tentando explicar o fracasso do time.
A desastrosa campanha da equipe obrigou os líderes da igreja a intervir no futebol, no melhor estilo Eurico Miranda, vice-presidente de futebol do Vasco, famoso pelo temperamento explosivo.
Somente durante a competição, quatro treinadores passaram pelo cargo no Universal. ""Os resultados não apareciam e procuramos melhorar. Mesmo assim, ainda pretendemos jogar no Maracanã contra um clube grande do Rio", disse o pastor Ricardo Bandeirante, supervisor do clube.
Para tentar reverter a péssima campanha, jogadores e torcedores fizeram uma série de reuniões espirituais, mas nada ajudou.
""Faltou um algo mais. Mesmo assim, tenho a certeza de que, se todos fossem convertidos, a história poderia ser diferente", disse o lateral-esquerdo Serginho.
O jogador faz parte do grupo de fiéis da Igreja Universal. Apesar de ser de propriedade da igreja, os diretores do Universal não levam em consideração a religião dos atletas para contratá-los.
""Somos profissionais dentro do campo. Queremos sempre os melhores", disse Bandeirante.
A torcida do Universal é um caso à parte. Nos jogos, os torcedores cantam versões evangélicas dos gritos das organizadas -""Juiz, ladrão, Jesus é a solução"- costumam gritar para protestar contra a atuação do juiz.
Quando ocorriam pênaltis contra o time da igreja, os torcedores surpreendiam os adversários. A maioria levantava as suas mãos na arquibancada e gritava em coro a palavra ""queima" -uma alusão às cerimônias de exorcismo praticadas nos templos .
""Teve um jogo em que Jesus se mostrou presente. O adversário errou o pênalti", conta Serginho.
Embora tenha decepcionado, o Universal, fundado há menos de um ano, tem boa estrutura para os padrões da segunda divisão do Rio. Os jogadores recebem entre três a cinco salários mínimos.
Além de pagar aos atletas os salários em dia, a diretoria montou uma estrutura profissional.
Atualmente, o time utiliza as instalações do modesto Internacional de Jacarepaguá, localizado na zona oeste do Rio.
O estádio, que tem capacidade para cerca de 5.000 pessoas, foi totalmente reformado -as paredes pintadas, o gramado plantado e a arquibancada reconstruída. Apesar do alto investimento, ninguém na cúpula da igreja fala sobre valores em relação ao projeto.
De acordo com o pastor Ricardo, o principal objetivo do Universal é evangelizar os jovens.
""Sabemos do alcance do futebol entre os jovens. Por isso, decidimos investir no futebol. Queremos tirar os jovens das drogas e levá-los para um lado mais saudável do futebol. Mesmo assim, temos que chegar entre os grandes para conseguirmos evangelizar um povo cada vez maior", acrescentou o pastor e dirigente.


Texto Anterior: Adão barra Paulo Nunes no Grêmio
Próximo Texto: Panorâmica: Defesa de Salt Lake interroga banidos de COI
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.