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Nem Jesus salva o Universal do fiasco
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Nem mesmo a fé ajudou o Universal, time de futebol da Igreja
Universal do Reino de Deus, na
disputa do seu primeiro torneio.
No mês passado, o clube ficou em
último lugar na segunda divisão
do Estadual do Rio de Janeiro.
Como se não bastasse a má
campanha, o Universal não venceu sequer um jogo na competição, para desespero dos seus torcedores -a maioria fiéis da Igreja
Universal. O time acumulou sete
empates e cinco derrotas.
""Fizemos várias correntes, mas
nada adiantou. Se Deus não quis,
vamos deixar para a próxima.
Com certeza, ele nos abençoará",
disse o goleiro Fábio Maia, tentando explicar o fracasso do time.
A desastrosa campanha da
equipe obrigou os líderes da igreja
a intervir no futebol, no melhor
estilo Eurico Miranda, vice-presidente de futebol do Vasco, famoso pelo temperamento explosivo.
Somente durante a competição,
quatro treinadores passaram pelo
cargo no Universal. ""Os resultados não apareciam e procuramos
melhorar. Mesmo assim, ainda
pretendemos jogar no Maracanã
contra um clube grande do Rio",
disse o pastor Ricardo Bandeirante, supervisor do clube.
Para tentar reverter a péssima
campanha, jogadores e torcedores fizeram uma série de reuniões
espirituais, mas nada ajudou.
""Faltou um algo mais. Mesmo
assim, tenho a certeza de que, se
todos fossem convertidos, a história poderia ser diferente", disse o
lateral-esquerdo Serginho.
O jogador faz parte do grupo de
fiéis da Igreja Universal. Apesar
de ser de propriedade da igreja, os
diretores do Universal não levam
em consideração a religião dos
atletas para contratá-los.
""Somos profissionais dentro do
campo. Queremos sempre os melhores", disse Bandeirante.
A torcida do Universal é um caso à parte. Nos jogos, os torcedores cantam versões evangélicas
dos gritos das organizadas
-""Juiz, ladrão, Jesus é a solução"- costumam gritar para
protestar contra a atuação do juiz.
Quando ocorriam pênaltis contra o time da igreja, os torcedores
surpreendiam os adversários. A
maioria levantava as suas mãos
na arquibancada e gritava em coro a palavra ""queima" -uma
alusão às cerimônias de exorcismo praticadas nos templos .
""Teve um jogo em que Jesus se
mostrou presente. O adversário
errou o pênalti", conta Serginho.
Embora tenha decepcionado, o
Universal, fundado há menos de
um ano, tem boa estrutura para
os padrões da segunda divisão do
Rio. Os jogadores recebem entre
três a cinco salários mínimos.
Além de pagar aos atletas os salários em dia, a diretoria montou
uma estrutura profissional.
Atualmente, o time utiliza as
instalações do modesto Internacional de Jacarepaguá, localizado
na zona oeste do Rio.
O estádio, que tem capacidade
para cerca de 5.000 pessoas, foi totalmente reformado -as paredes
pintadas, o gramado plantado e a
arquibancada reconstruída. Apesar do alto investimento, ninguém na cúpula da igreja fala sobre valores em relação ao projeto.
De acordo com o pastor Ricardo, o principal objetivo do Universal é evangelizar os jovens.
""Sabemos do alcance do futebol
entre os jovens. Por isso, decidimos investir no futebol. Queremos tirar os jovens das drogas e
levá-los para um lado mais saudável do futebol. Mesmo assim, temos que chegar entre os grandes
para conseguirmos evangelizar
um povo cada vez maior", acrescentou o pastor e dirigente.
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