São Paulo, sexta-feira, 06 de agosto de 2004

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Só comida assusta Brasil, à vontade na "Gaza" olímpica

Entre os prédios anônimos dos EUA e as cercas de Israel, delegação olímpica nacional faz festa monitorada por agentes, barreiras eletrificadas e câmeras de segurança

ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

O jovem Che joga xadrez e ensina um pouco de geopolítica dentro da Vila Olímpica de Atenas.
No conjunto habitacional que concentrará durante as próximas semanas a nata do esporte mundial, o medo e o orgulho contrastam a metros de distância.
Uma imagem da altura de dois andares do guerrilheiro argentino e outra do seu companheiro de revolução Fidel Castro ilustram a concentração que abrigará os 156 atletas cubanos nos Jogos.
É algo bem distinto do que adorna os prédios israelenses: uma grande cerca azul, com dois guardas na porta, formando uma segunda barreira dentro da barreira maior que cerca toda a Vila.
Bem perto dali, um conjunto de sete prédios com várias bandeiras verde-amarelas indica a concentração brasileira. Do alto de uma das habitações, avista-se toda a lateral do conjunto vizinho, na qual as paredes não exibem nenhum sinal patriótico. É a base dos EUA.
Explica-se: o próprio Comitê Olímpico Americano pediu a seus atletas que se comportassem de maneira discreta em Atenas, para não cutucar o antiamericanismo que só fez crescer pelo mundo após a guerra no Iraque.
Já a cerca olímpica de Israel tem motivação histórica: em 1972, terroristas palestinos invadiram a Vila de Munique e deixaram um saldo de 11 atletas do país mortos.
Entre EUA e Israel aparece o prédio brasileiro. Antes dos Jogos, a Polícia Federal torcia para não ficar perto dos americanos dentro da Vila. Não deu, e a piada já corre solta entre os atletas nacionais: o Brasil está na "Faixa de Gaza" da Vila Olímpica.
"Ficar perto de EUA e Israel não compromete a nossa segurança", diz o chefe da missão brasileira, Marcus Vinícius Freire, que explica que cada país indica onde gostaria de ficar sem saber quem está ao lado. A única coisa que o Brasil pôde escolher foi se alojar longe do barulho do restaurante principal, que pode servir 5.200 pessoas, e da zona internacional -local com lojas e lanchonetes, onde o atleta pode encontrar a imprensa.
O restaurante, aliás, é um dos locais que Freire aponta como tendo potencial de problema. "Você chega, senta e não sabe quem está do lado", diz ele.
Outro ponto-chave para a segurança é o transporte da Vila para os locais de prova. Cada ônibus que deixa o conjunto leva dois seguranças e segue protegido por um carro com mais quatro agentes. Quem habita um dos 366 edifícios da Vila tem a proteção de uma cerca eletrificada, de policiais que circulam pelo conjunto e de câmeras de vigilância.
Contudo a Vila segue a regra das demais instalações olímpicas e, a uma semana dos Jogos, ainda é um canteiro de obras -árvores e grama são plantadas às pressas.
Ontem, o Comitê Organizador disse que 171 dos 202 países que estarão nos Jogos têm algum representante na Vila. Mas é pouco, e a área de 1,2 milhão de metros quadrados está quase deserta.
A segurança ostensiva e a falta de gente parecem não afetar quem tentará o estrelato. "A Vila é ótima", diz a ginasta Daiane dos Santos, que habita pela primeira vez a residência olímpica oficial.


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