São Paulo, quinta-feira, 06 de agosto de 2009

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Elite do atletismo assume o doping

Um dos principais técnicos do país, Jayme Netto declara ter sido induzido por fisiologista da Unesp a ministrar o EPO

Treinador afirma que outros atletas, além dos cinco já flagrados, podem ter feito uso do hormônio detectado em teste-surpresa em junho

Tom Dib/Lancepress
O tecnico Jayme Netto Jr., que assumiu a culpa pelo doping de cinco integrantes da seleção brasileira de atletismo, em entrevista ontem, em Bragança Paulista

JOSÉ EDUARDO MARTINS
ENVIADO ESPECIAL A BRAGANÇA PAULISTA
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

De técnico da equipe brasileira na conquista de duas medalhas olímpicas no revezamento 4 x 100 m a mentor do maior caso de doping da história do atletismo nacional.
Assim acabou a carreira de Jayme Netto Jr. "O atletismo, para mim, acabou", disse o treinador ontem, na sede da equipe Rede Atletismo, em Bragança Paulista, após assumir a culpa pelo doping sistemático de cinco integrantes da delegação brasileira que disputará o Mundial de Berlim a partir do dia 15.
De acordo com o técnico, outros atletas brasileiros também podem ter, inconscientemente, feito uso de EPO (eritropoietina). "Há outros casos no Brasil, e a tragédia poderia ter sido ainda pior. Nunca antes tinha sido feito um exame [fora de competição] dessa maneira", falou o treinador, que se recusou a revelar o nome de outros possíveis envolvidos na fraude.
Além de Bruno Lins Tenório de Barros (200 m e 4 x 100 m), Jorge Célio da Rocha Sena (200 m e 4 x 100 m), Josiane da Silva Tito (4 x 400 m), Luciana França (400 m com barreiras) e Lucimara Silvestre (heptatlo), que foram flagrados, outros oito atletas realizaram teste-surpresa no dia 15 de junho, em Presidente Prudente.
A EPO, no entanto, só é considerada doping em grande quantidade, pois o organismo também produz o hormônio.
Em sua defesa, Netto diz ter sido induzido a ministrar EPO -que é mais utilizada por competidores de provas de resistência- pelo fisiologista Pedro Balikian Jr., da Unesp. A intenção era acelerar a recuperação física dos atletas. Balikian não atendeu as ligações da reportagem para comentar o caso.
"Sei que o treinamento é importante, mas há substâncias que podem favorecer. Ele me explicou que essa contribuiria na recuperação, e eu acreditei", alegou Jayme, que também teria recebido a EPO de Balikian.
"Não minimiza o meu erro. Mas ele me apresentou diversos estudos que mostraram a eficiência da substância e me garantiu que não haveria risco [de ser flagrado]", disse ele.
Ontem, assim que desembarcaram da Alemanha, onde já faziam aclimatação para o Mundial, os atletas foram direto para a sede da Rede conversar com os diretores da equipe.
Segundo o treinador, os esportistas não sabiam qual substância era injetada. "Eles não tinham a menor noção. Achavam que era aminoácido, receberam as injeções na barriga", disse Jorge Queiroz de Moraes Junior, presidente da Rede.
O dirigente ainda revelou um caso contado por uma das atletas, que teria ocorrido após as primeiras aplicações, em abril, também em Prudente. "Como ela tinha que viajar, o fisiologista deu a ela uma seringa em um isopor e pediu para ela mesma aplicar. Mas pediu que, depois, ela devolvesse a seringa."
Jayme e o técnico Inaldo Justino de Sena foram demitidos da Rede. Já a situação dos atletas será avaliada após o julgamento da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
O inquérito será presidido pelo advogado Thomaz Mattos de Paiva, e a suspensão pode variar de dois a quatro anos.
Até o julgamento, os treinadores estão suspensos, e os atletas foram desligados de programa de apoio da Caixa Econômica Federal.
Dos 45 classificados ao Mundial, seis foram flagrados no antidoping. Lucimar Teodoro (400 m com barreiras), também da Rede, teve positivo durante o Troféu Brasil.


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