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Elite do atletismo assume o doping
Um dos principais técnicos do país, Jayme Netto declara ter sido induzido por fisiologista da Unesp a ministrar o EPO
Treinador afirma que outros atletas, além dos cinco já flagrados, podem ter feito uso do hormônio detectado em teste-surpresa em junho
Tom Dib/Lancepress
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O tecnico Jayme Netto Jr., que assumiu a culpa pelo doping de cinco integrantes da seleção brasileira de atletismo, em entrevista ontem, em Bragança Paulista
JOSÉ EDUARDO MARTINS
ENVIADO ESPECIAL A BRAGANÇA PAULISTA
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
De técnico da equipe brasileira na conquista de duas medalhas olímpicas no revezamento 4 x 100 m a mentor do
maior caso de doping da história do atletismo nacional.
Assim acabou a carreira de
Jayme Netto Jr. "O atletismo,
para mim, acabou", disse o treinador ontem, na sede da equipe
Rede Atletismo, em Bragança
Paulista, após assumir a culpa
pelo doping sistemático de cinco integrantes da delegação
brasileira que disputará o Mundial de Berlim a partir do dia 15.
De acordo com o técnico, outros atletas brasileiros também
podem ter, inconscientemente,
feito uso de EPO (eritropoietina). "Há outros casos no Brasil,
e a tragédia poderia ter sido
ainda pior. Nunca antes tinha
sido feito um exame [fora de
competição] dessa maneira",
falou o treinador, que se recusou a revelar o nome de outros
possíveis envolvidos na fraude.
Além de Bruno Lins Tenório
de Barros (200 m e 4 x 100 m),
Jorge Célio da Rocha Sena (200
m e 4 x 100 m), Josiane da Silva
Tito (4 x 400 m), Luciana França (400 m com barreiras) e Lucimara Silvestre (heptatlo), que
foram flagrados, outros oito
atletas realizaram teste-surpresa no dia 15 de junho, em
Presidente Prudente.
A EPO, no entanto, só é considerada doping em grande
quantidade, pois o organismo
também produz o hormônio.
Em sua defesa, Netto diz ter
sido induzido a ministrar EPO
-que é mais utilizada por competidores de provas de resistência- pelo fisiologista Pedro
Balikian Jr., da Unesp. A intenção era acelerar a recuperação
física dos atletas. Balikian não
atendeu as ligações da reportagem para comentar o caso.
"Sei que o treinamento é importante, mas há substâncias
que podem favorecer. Ele me
explicou que essa contribuiria
na recuperação, e eu acreditei",
alegou Jayme, que também teria recebido a EPO de Balikian.
"Não minimiza o meu erro.
Mas ele me apresentou diversos estudos que mostraram a
eficiência da substância e me
garantiu que não haveria risco
[de ser flagrado]", disse ele.
Ontem, assim que desembarcaram da Alemanha, onde já faziam aclimatação para o Mundial, os atletas foram direto para a sede da Rede conversar
com os diretores da equipe.
Segundo o treinador, os esportistas não sabiam qual substância era injetada. "Eles não
tinham a menor noção. Achavam que era aminoácido, receberam as injeções na barriga",
disse Jorge Queiroz de Moraes
Junior, presidente da Rede.
O dirigente ainda revelou um
caso contado por uma das atletas, que teria ocorrido após as
primeiras aplicações, em abril,
também em Prudente. "Como
ela tinha que viajar, o fisiologista deu a ela uma seringa em um
isopor e pediu para ela mesma
aplicar. Mas pediu que, depois,
ela devolvesse a seringa."
Jayme e o técnico Inaldo
Justino de Sena foram demitidos da Rede. Já a situação dos
atletas será avaliada após o julgamento da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
O inquérito será presidido
pelo advogado Thomaz Mattos
de Paiva, e a suspensão pode
variar de dois a quatro anos.
Até o julgamento, os treinadores estão suspensos, e os
atletas foram desligados de
programa de apoio da Caixa
Econômica Federal.
Dos 45 classificados ao Mundial, seis foram flagrados no
antidoping. Lucimar Teodoro
(400 m com barreiras), também da Rede, teve positivo durante o Troféu Brasil.
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