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VÔLEI
O sonho acabou
CIDA SANTOS
COLUNISTA DA FOLHA
Um dos magos do vôlei, Júlio
Velasco, ex-técnico da Itália,
gostava de usar a seguinte frase:
quem vence comemora, quem
perde explica. Talvez por isso a
pergunta que fica depois dos Jogos de Atenas não é sobre o brilhante desempenho da seleção
masculina, mas sobre o que aconteceu com o feminino.
Nas conversas, nos e-mails, a
questão é inevitável: como um time, que estava vencendo por 24 a
19, pode perder o set? Para quem
não lembra, a seleção tinha uma
vantagem de dois sets a um. Se
ganhasse o quarto set, fecharia o
jogo e chegaria pela primeira vez
à uma final olímpica.
O técnico Zé Roberto pediu tempo duas vezes, mas nada adiantou: dos nove pontos finais que as
russas fizeram, seis foram com erros das brasileiras. A derrota foi
por 28 a 26. A decisão foi para o
quinto set. O Brasil teve mais
uma vantagem, 13 a 10, e novamente não venceu. Perdeu o jogo
e a vaga na final.
Logo após a partida, Zé Roberto
resumiu o resultado: "Não dá para explicar o inexplicável". Difícil
mesmo de entender. Virna e Érika, as duas principais atacantes
do time e também as mais experientes, simplesmente não conseguiram colocar a bola no chão.
Acredite: na manhã do jogo,
Érika estava com cólicas. Sassá,
esforçada, mas ainda um tanto
inexperiente, ficou com a difícil
função de substituir Érika. Sobrou então para a oposta Mari,
20 anos e na sua primeira Olimpíada, a ingrata missão de decidir
sozinha as bolas de segurança
contra um bloqueio gigante.
Mari marcou 37 pontos na partida, mas acabou carregando o
fardo de ter errado as últimas bolas do jogo. Está certo: Fernanda
Venturini, mesmo com o passe na
mão, também não estava em um
grande dia, mas as opções dela,
sem Érika e com Virna muito irregular, ficaram reduzidas.
Não por acaso, no quinto set,
Fernanda resolveu atacar e marcou o 14º ponto, mas um bloqueio
em Virna e um erro de ataque de
Mari deram a vitória para as russas. Foi o fim de um sonho para
uma geração que colocou o Brasil
entre os quatro melhores do mundo, mas que nunca chegou à uma
final olímpica.
Mas a história não é nova. Nas
semifinais de Sydney, a seleção feminina, comandada então por
Bernardinho, viveu algo semelhante. Venceu as cubanas no primeiro set. No segundo, chegou a
16 a 9, mas com uma seqüência de
saques de Marlenis Costa sobre
Virna, Cuba virou para 18 a 16,
venceu o set e o jogo.
Essa história toda faz lembrar
uma antiga frase do então levantador William, quando o Brasil
perdeu a final olímpica para os
EUA, em 1984: "A nossa geração
não nasceu para ser campeã". Essa é a impressão que fica também
dessa geração, que está se despedindo da seleção feminina.
Ao contrário do time masculino, que estava mordendo a bola e
com postura de campeão, a seleção feminina simplesmente deixou escapar a grande chance.
O problema não foi ter perdido
da Rússia, mas a forma como perdeu. Agora é recomeçar o trabalho, com a nova geração, de olho
em Pequim.
A imagem
Uma das imagens mais marcantes dos Jogos ficou por conta de Bernardinho. Após a vitória por 3 sets a 0 do Brasil sobre os Estados Unidos nas semifinais, ele agarrou e mordeu uma das bolas do jogo. Um
retrato fiel da postura do time, que nos últimos quatro anos foi campeão olímpico, do mundo, da Copa do Mundo e da Liga Mundial.
Ranking
Depois do título olímpico, a seleção masculina continua firme na liderança do ranking da federação internacional, seguida por Itália,
Sérvia e Montenegro e Estados Unidos. No feminino, a China, que
estava na terceira colocação, saltou para o primeiro lugar depois do
ouro em Atenas. O Brasil permanece no segundo posto, à frente de
Estados Unidos, Itália e Cuba.
E-mail: cidasan@uol.com.br
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