São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2004

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VÔLEI

O sonho acabou

CIDA SANTOS
COLUNISTA DA FOLHA

Um dos magos do vôlei, Júlio Velasco, ex-técnico da Itália, gostava de usar a seguinte frase: quem vence comemora, quem perde explica. Talvez por isso a pergunta que fica depois dos Jogos de Atenas não é sobre o brilhante desempenho da seleção masculina, mas sobre o que aconteceu com o feminino.
Nas conversas, nos e-mails, a questão é inevitável: como um time, que estava vencendo por 24 a 19, pode perder o set? Para quem não lembra, a seleção tinha uma vantagem de dois sets a um. Se ganhasse o quarto set, fecharia o jogo e chegaria pela primeira vez à uma final olímpica.
O técnico Zé Roberto pediu tempo duas vezes, mas nada adiantou: dos nove pontos finais que as russas fizeram, seis foram com erros das brasileiras. A derrota foi por 28 a 26. A decisão foi para o quinto set. O Brasil teve mais uma vantagem, 13 a 10, e novamente não venceu. Perdeu o jogo e a vaga na final.
Logo após a partida, Zé Roberto resumiu o resultado: "Não dá para explicar o inexplicável". Difícil mesmo de entender. Virna e Érika, as duas principais atacantes do time e também as mais experientes, simplesmente não conseguiram colocar a bola no chão.
Acredite: na manhã do jogo, Érika estava com cólicas. Sassá, esforçada, mas ainda um tanto inexperiente, ficou com a difícil função de substituir Érika. Sobrou então para a oposta Mari, 20 anos e na sua primeira Olimpíada, a ingrata missão de decidir sozinha as bolas de segurança contra um bloqueio gigante.
Mari marcou 37 pontos na partida, mas acabou carregando o fardo de ter errado as últimas bolas do jogo. Está certo: Fernanda Venturini, mesmo com o passe na mão, também não estava em um grande dia, mas as opções dela, sem Érika e com Virna muito irregular, ficaram reduzidas.
Não por acaso, no quinto set, Fernanda resolveu atacar e marcou o 14º ponto, mas um bloqueio em Virna e um erro de ataque de Mari deram a vitória para as russas. Foi o fim de um sonho para uma geração que colocou o Brasil entre os quatro melhores do mundo, mas que nunca chegou à uma final olímpica.
Mas a história não é nova. Nas semifinais de Sydney, a seleção feminina, comandada então por Bernardinho, viveu algo semelhante. Venceu as cubanas no primeiro set. No segundo, chegou a 16 a 9, mas com uma seqüência de saques de Marlenis Costa sobre Virna, Cuba virou para 18 a 16, venceu o set e o jogo.
Essa história toda faz lembrar uma antiga frase do então levantador William, quando o Brasil perdeu a final olímpica para os EUA, em 1984: "A nossa geração não nasceu para ser campeã". Essa é a impressão que fica também dessa geração, que está se despedindo da seleção feminina.
Ao contrário do time masculino, que estava mordendo a bola e com postura de campeão, a seleção feminina simplesmente deixou escapar a grande chance.
O problema não foi ter perdido da Rússia, mas a forma como perdeu. Agora é recomeçar o trabalho, com a nova geração, de olho em Pequim.

A imagem
Uma das imagens mais marcantes dos Jogos ficou por conta de Bernardinho. Após a vitória por 3 sets a 0 do Brasil sobre os Estados Unidos nas semifinais, ele agarrou e mordeu uma das bolas do jogo. Um retrato fiel da postura do time, que nos últimos quatro anos foi campeão olímpico, do mundo, da Copa do Mundo e da Liga Mundial.

Ranking
Depois do título olímpico, a seleção masculina continua firme na liderança do ranking da federação internacional, seguida por Itália, Sérvia e Montenegro e Estados Unidos. No feminino, a China, que estava na terceira colocação, saltou para o primeiro lugar depois do ouro em Atenas. O Brasil permanece no segundo posto, à frente de Estados Unidos, Itália e Cuba.


E-mail: cidasan@uol.com.br


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