São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002

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FUTEBOL

Lucidez e afobação

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

O Corinthians é o time mais racional do campeonato, o que não significa que seja o melhor. Tem postura e desenho tático definidos.
Perdendo ou ganhando, repete do primeiro ao último minuto a troca de passes laterais até aparecer a chance de realizar uma jogada mais contundente. O estilo é também uma qualidade defensiva, já que dificulta a posse de bola do adversário.
A postura é um dos motivos da boa campanha do time desde o início do ano.
Tudo na vida, no entanto, tem o seu lado negativo.
Há partidas, como a contra o Fluminense, que a troca de passes laterais é enervante e ineficiente. Mesmo assim, Parreira, na sua extrema racionalidade, disse no programa "Cartão Verde" que o time estava afoito.
Parreira deveria criar variações para certos jogos. Ou dizer para os jogadores que eles podem, de vez em quando, improvisar, cometer uma loucura, dar um chutão para cima e até fazer gols esquisitos, como o do Davi do Atlético-PR contra o Atlético-MG.
O Palmeiras é o contrário do Corinthians. O time não troca passes, não tem organização e é muito afobado. Somente corre, não sei para onde ou por quê. Levir Culpi precisa urgentemente dar um mínimo de calma e lucidez à equipe.
Corinthians e Palmeiras poderiam fazer uma troca. O Verdão cede um pouco de sua improvisação e correria, e o Timão retribui com parte de sua lucidez e racionalidade. Os dois sairiam ganhando.

Técnico revelação
No domingo, o Fluminense anulou as principais jogadas ofensivas do Corinthians, principalmente do lado esquerdo, e utilizou muito bem o contra-ataque, com a dupla Roni e Magno Alves.
Em colunas anteriores, escrevi que o Magno Alves não é um jogador excepcional, mas é um bom atacante e que deveria ser mais valorizado pelos torcedores e pela imprensa.
Roni merece o mesmo reconhecimento. Os dois atuam bem há muito tempo.
Romário não fez falta nos dois últimos jogos, mas fará nas partidas em que o Fluminense pressionar e precisar de um excepcional finalizador.
Roni e Magno Alves terão muitas dificuldades contra equipes que atuam recuadas e deixam pouco espaço na defesa.
Romário foi também um excepcional atacante de contra-ataque. Hoje, não é mais. Há tempos que não parte do meio-campo ou intermediária em velocidade para receber a bola nas costas dos zagueiros. Quase todos os seus gols são de bolas espirradas ou de passes dentro da área.
Beto mostrou, novamente contra o Corinthians, que é muito melhor atuando mais recuado do que adiantado, perto dos atacantes. Na posição de volante, ele se destaca pela força física, marcação, mobilidade e velocidade. Defende e ataca bem. O seu passe e sua habilidade são limitados para a posição de meia-atacante, mas são eficientes na de volante.
O meia Zada é menos complicado e superior ao Fernando Diniz. Faz o essencial. Fernando Diniz tenta fazer o que não sabe. Cisca muito, ensaia grandes jogadas e realiza pouco.
Renato Gaúcho está mostrando que pode se tornar um excelente técnico. Tinha poucas esperanças de que isso acontecesse. Talvez, seja preconceito contra sua imagem de eterno garotão deslumbrado. As aparências enganam.
De qualquer maneira, só depois de um tempo mais longo poderemos fazer uma análise correta sobre as suas qualidades. Ainda é cedo para elogios, como os que ele recebeu após a vitória sobre o Corinthians. Renato é apenas uma revelação, uma promessa.

Jogo modelo
O jogo da utopia, ou melhor, do sonho distante, mas possível, entre Corinthians e Fluminense, foi um modelo para o Código de Defesa do Torcedor.
A partida mostrou os crônicos problemas dos estádios brasileiros. Serviu para despertar a consciência de cidadania de muitos torcedores. Não foi um fracasso, como disseram.
Se for aprovado pelo Congresso, o código será um grande avanço. "Há leis que pegam e as que não pegam." O código só vai pegar se a maior parte dos torcedores tiver consciência dos seus direitos e deveres e se a imprensa e os dirigentes ajudarem.
Lamentavelmente, os presidentes da CBF e das federações não deram nenhum apoio ao jogo modelo.

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