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FUTEBOL
Lucidez e afobação
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
O Corinthians é o time
mais racional do campeonato, o que não significa que seja o
melhor. Tem postura e desenho
tático definidos.
Perdendo ou ganhando, repete
do primeiro ao último minuto a
troca de passes laterais até aparecer a chance de realizar uma jogada mais contundente. O estilo é
também uma qualidade defensiva, já que dificulta a posse de bola
do adversário.
A postura é um dos motivos da
boa campanha do time desde o
início do ano.
Tudo na vida, no entanto, tem o
seu lado negativo.
Há partidas, como a contra o
Fluminense, que a troca de passes
laterais é enervante e ineficiente.
Mesmo assim, Parreira, na sua
extrema racionalidade, disse no
programa "Cartão Verde" que o
time estava afoito.
Parreira deveria criar variações
para certos jogos. Ou dizer para
os jogadores que eles podem, de
vez em quando, improvisar, cometer uma loucura, dar um chutão para cima e até fazer gols esquisitos, como o do Davi do Atlético-PR contra o Atlético-MG.
O Palmeiras é o contrário do
Corinthians. O time não troca
passes, não tem organização e é
muito afobado. Somente corre,
não sei para onde ou por quê. Levir Culpi precisa urgentemente
dar um mínimo de calma e lucidez à equipe.
Corinthians e Palmeiras poderiam fazer uma troca. O Verdão
cede um pouco de sua improvisação e correria, e o Timão retribui
com parte de sua lucidez e racionalidade. Os dois sairiam ganhando.
Técnico revelação
No domingo, o Fluminense anulou as principais jogadas ofensivas do Corinthians, principalmente do lado esquerdo, e utilizou muito bem o contra-ataque,
com a dupla Roni e Magno Alves.
Em colunas anteriores, escrevi
que o Magno Alves não é um jogador excepcional, mas é um bom
atacante e que deveria ser mais
valorizado pelos torcedores e pela
imprensa.
Roni merece o mesmo reconhecimento. Os dois atuam bem há
muito tempo.
Romário não fez falta nos dois
últimos jogos, mas fará nas partidas em que o Fluminense pressionar e precisar de um excepcional
finalizador.
Roni e Magno Alves terão muitas dificuldades contra equipes
que atuam recuadas e deixam
pouco espaço na defesa.
Romário foi também um excepcional atacante de contra-ataque.
Hoje, não é mais. Há tempos que
não parte do meio-campo ou intermediária em velocidade para
receber a bola nas costas dos zagueiros. Quase todos os seus gols
são de bolas espirradas ou de passes dentro da área.
Beto mostrou, novamente contra o Corinthians, que é muito
melhor atuando mais recuado do
que adiantado, perto dos atacantes. Na posição de volante, ele se
destaca pela força física, marcação, mobilidade e velocidade. Defende e ataca bem. O seu passe e
sua habilidade são limitados para a posição de meia-atacante,
mas são eficientes na de volante.
O meia Zada é menos complicado e superior ao Fernando Diniz.
Faz o essencial. Fernando Diniz
tenta fazer o que não sabe. Cisca
muito, ensaia grandes jogadas e
realiza pouco.
Renato Gaúcho está mostrando
que pode se tornar um excelente
técnico. Tinha poucas esperanças
de que isso acontecesse. Talvez,
seja preconceito contra sua imagem de eterno garotão deslumbrado. As aparências enganam.
De qualquer maneira, só depois
de um tempo mais longo poderemos fazer uma análise correta sobre as suas qualidades. Ainda é
cedo para elogios, como os que ele
recebeu após a vitória sobre o Corinthians. Renato é apenas uma
revelação, uma promessa.
Jogo modelo
O jogo da utopia, ou melhor, do
sonho distante, mas possível, entre Corinthians e Fluminense, foi
um modelo para o Código de Defesa do Torcedor.
A partida mostrou os crônicos
problemas dos estádios brasileiros. Serviu para despertar a consciência de cidadania de muitos
torcedores. Não foi um fracasso,
como disseram.
Se for aprovado pelo Congresso,
o código será um grande avanço.
"Há leis que pegam e as que não
pegam." O código só vai pegar se
a maior parte dos torcedores tiver
consciência dos seus direitos e deveres e se a imprensa e os dirigentes ajudarem.
Lamentavelmente, os presidentes da CBF e das federações não
deram nenhum apoio ao jogo
modelo.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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