São Paulo, quarta-feira, 06 de dezembro de 2000

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FUTEBOL

Ex-técnico do São Paulo diz que seu substituto vaisofrer com divisão política e pressões de conselheiros do clube

Na saída, Culpi faz previsão pessimista para seu sucessor

RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ontem, na primeira entrevista como ex-técnico do São Paulo, Levir Culpi afirmou que seu sucessor, ainda indefinido, enfrentará problemas semelhantes aos que provocaram a sua queda.
Ele admitiu que os atritos com a diretoria e a insatisfação de conselheiros forçaram a sua saída. Na sede da Giusti Loducca, empresa que cuida da imagem dele, Culpi disse ter percebido que não ficaria no clube há dois meses.

Folha - Por que o senhor não vai continuar no São Paulo?
Levir Culpi -
O Luiz Taveira (procurador do treinador) estava discutindo valores com a diretoria e vimos que não ia dar. Mas o valor não era tudo, houve uns probleminhas de desgaste.

Folha - A diretoria falou em reduzir o seu salário?
Culpi -
Isso é verdade. Mas não há como negar que houve um desgaste natural. Houve uma pressão. Não sei de quem. O José Dias (diretor de futebol) disse que existia uma resistência em relação à minha permanência, mas não sei por parte de quem.

Folha - O senhor concorda que os atritos que teve com a diretoria, como ao rebater as declarações feitas pelo ex-presidente José Augusto Bastos Neto, que criticou as constantes substituições de Souza, contribuíram para a sua saída?
Culpi -
Tenho que concordar com isso, em relação ao Bastos Neto. Nunca deixei de fazer uma observação. Mas a única vez em que extrapolei foi ao chamar o Bastos Neto, um ex-presidente, de burro. Não conseguiria dormir direito se não desabafasse, mas não deveria ter sido tão agressivo. Ficou a impressão de que alguém comprou essa briga por ele.

Folha - Quais os outros fatores que resultaram na sua saída?
Culpi -
Acho que alguns resultados. Como a perda da Copa do Brasil para o Cruzeiro.

Folha - E o episódio em que a diretoria se recusou a antecipar a renovação de seu contrato?
Culpi -
Achei normal. Na minha opinião, a diretoria já estava com a intenção de mudar de treinador. Estava sentindo isso há bastante tempo, há uns dois meses. Como ninguém me procurou para falar sobre o próximo ano e como o presidente já havia dito que estava preocupado com a parte financeira, comecei a prever que não ia continuar no clube.

Folha - Como foi trabalhar sabendo que não ficaria?
Culpi -
Não me pegou de surpresa. Só queria terminar com um título. Mas não há dúvida de que isso tirou a mobilização do time.

Folha - Quer dizer que isso prejudicou os jogadores?
Culpi -
Não tenho a menor dúvida disso. Muitos deles perceberam que eu não continuaria. Eles ficaram como os filhos que percebem que os pais estão brigando.

Folha - Para alguns conselheiros, o fato de o senhor ter interessado à CBF para assumir a seleção brasileira prejudicou o seu trabalho.
Culpi -
Aquilo não mudou o meu modo de trabalhar. Apenas houve uma coincidência. Justamente naquele momento tivemos alguns resultados negativos.

Folha - Qual a parcela de culpa que a diretoria tem nos desentendimentos que aconteceram?
Culpi -
O São Paulo tem o CT e o Morumbi. Os diretores vão ao CT, mas uns 400 conselheiros ficam no Morumbi, e eles não têm condições de analisar o seu trabalho. Esse é um dos problemas. A parte política é bastante disputada e deixa o clima um pouco tenso. O próximo técnico vai sofrer a mesma pressão que eu sofri.

Folha - Seu sucessor também enfrentará resistência?
Culpi -
Desde que ele for anunciado, seja quem for, vai ter conselheiro, diretor e torcedor que não vai gostar. Se a diretoria ouvir as pessoas que pressionam, não vai dar certo. No meu caso, aconteceu isso. Poderia continuar.
Folha - O senhor sai do São Paulo magoado?
Culpi - Fiquei um pouco chateado quando a diretoria falou que sou um treinador caro (ganha cerca de R$ 160 mil por mês). É só fazer as contas. Conquistei um título, os jogadores foram para a seleção brasileira, vários foram vendidos para pagar as dívidas e ainda estou deixando uma base para o ano que vem.



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