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FUTEBOL
Ex-técnico do São Paulo diz que seu substituto vaisofrer com divisão política e pressões de conselheiros do clube
Na saída, Culpi faz previsão pessimista para seu sucessor
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Ontem, na primeira entrevista
como ex-técnico do São Paulo,
Levir Culpi afirmou que seu sucessor, ainda indefinido, enfrentará problemas semelhantes aos
que provocaram a sua queda.
Ele admitiu que os atritos com a
diretoria e a insatisfação de conselheiros forçaram a sua saída. Na
sede da Giusti Loducca, empresa
que cuida da imagem dele, Culpi
disse ter percebido que não ficaria
no clube há dois meses.
Folha - Por que o senhor não vai
continuar no São Paulo?
Levir Culpi - O Luiz Taveira (procurador do treinador) estava discutindo valores com a diretoria e
vimos que não ia dar. Mas o valor
não era tudo, houve uns probleminhas de desgaste.
Folha - A diretoria falou em reduzir o seu salário?
Culpi - Isso é verdade. Mas não
há como negar que houve um
desgaste natural. Houve uma
pressão. Não sei de quem. O José
Dias (diretor de futebol) disse que
existia uma resistência em relação
à minha permanência, mas não
sei por parte de quem.
Folha - O senhor concorda que os
atritos que teve com a diretoria, como ao rebater as declarações feitas
pelo ex-presidente José Augusto
Bastos Neto, que criticou as constantes substituições de Souza, contribuíram para a sua saída?
Culpi - Tenho que concordar
com isso, em relação ao Bastos
Neto. Nunca deixei de fazer uma
observação. Mas a única vez em
que extrapolei foi ao chamar o
Bastos Neto, um ex-presidente, de
burro. Não conseguiria dormir
direito se não desabafasse, mas
não deveria ter sido tão agressivo.
Ficou a impressão de que alguém
comprou essa briga por ele.
Folha - Quais os outros fatores
que resultaram na sua saída?
Culpi - Acho que alguns resultados. Como a perda da Copa do
Brasil para o Cruzeiro.
Folha - E o episódio em que a diretoria se recusou a antecipar a renovação de seu contrato?
Culpi - Achei normal. Na minha
opinião, a diretoria já estava com
a intenção de mudar de treinador.
Estava sentindo isso há bastante
tempo, há uns dois meses. Como
ninguém me procurou para falar
sobre o próximo ano e como o
presidente já havia dito que estava
preocupado com a parte financeira, comecei a prever que não ia
continuar no clube.
Folha - Como foi trabalhar sabendo que não ficaria?
Culpi - Não me pegou de surpresa. Só queria terminar com um título. Mas não há dúvida de que isso tirou a mobilização do time.
Folha - Quer dizer que isso prejudicou os jogadores?
Culpi - Não tenho a menor dúvida disso. Muitos deles perceberam que eu não continuaria. Eles
ficaram como os filhos que percebem que os pais estão brigando.
Folha - Para alguns conselheiros,
o fato de o senhor ter interessado à
CBF para assumir a seleção brasileira prejudicou o seu trabalho.
Culpi - Aquilo não mudou o meu
modo de trabalhar. Apenas houve
uma coincidência. Justamente
naquele momento tivemos alguns
resultados negativos.
Folha - Qual a parcela de culpa
que a diretoria tem nos desentendimentos que aconteceram?
Culpi - O São Paulo tem o CT e o
Morumbi. Os diretores vão ao CT,
mas uns 400 conselheiros ficam
no Morumbi, e eles não têm condições de analisar o seu trabalho.
Esse é um dos problemas. A parte
política é bastante disputada e
deixa o clima um pouco tenso. O
próximo técnico vai sofrer a mesma pressão que eu sofri.
Folha - Seu sucessor também enfrentará resistência?
Culpi - Desde que ele for anunciado, seja quem for, vai ter conselheiro, diretor e torcedor que
não vai gostar. Se a diretoria ouvir
as pessoas que pressionam, não
vai dar certo. No meu caso, aconteceu isso. Poderia continuar.
Folha - O senhor sai do São
Paulo magoado?
Culpi - Fiquei um pouco chateado quando a diretoria falou
que sou um treinador caro (ganha cerca de R$ 160 mil por mês).
É só fazer as contas. Conquistei
um título, os jogadores foram para a seleção brasileira, vários foram vendidos para pagar as dívidas e ainda estou deixando uma
base para o ano que vem.
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