EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Não deixou de ser surpreendente o fato de o campeão unificado dos meio-pesados, Roy Jones Jr., ter finalmente aceitado enfrentar um peso-pesado.
Afinal, não foi ele que no passado afirmou não ter lutado com o ex-campeão dos pesos-pesados "Buster" Douglas porque seu pai achou tal luta "muito perigosa"?
(Imagino o que passou por sua cabeça quando, após recusar desafio a Douglas, este foi nocauteado pelo limitado Lou Savarese).
De uns anos para cá, havia virado mania de Jones Jr. exercitar a imaginação e mencionar sua ambição de enfrentar pesados.
É que Jones Jr. é tão superior aos rivais que encontra em sua divisão ou naquelas imediatamente abaixo (supermédios) ou acima (cruzadores), que o americano provavelmente sentia a necessidade de criar factóides para gerar interesse no público e na mídia.
Ao menos três ex-campeões dos pesados, Douglas, Evander "Real Deal" Holyfield e Michael Moorer ocuparam o canto oposto ao de Jones Jr. em ringues imaginários.
Mas ele sempre voltava atrás.
Assim, especialistas passaram a demonstrar ceticismo ao comentar seus desafios aos grandalhões. Mesmo sendo Jones Jr. tido por muitos, inclusive por esta coluna, o melhor pugilista da atualidade, independentemente da categoria.
Mas quem em sã consciência não experimentaria alguns momentos de insegurança? Afinal, Jones Jr., que pesa atualmente uns 79 kg, começou sua carreira na categoria dos médios-ligeiros (limite de 69,8 kg) e ganhou o primeiro título entre os médios.
A categoria dos pesados não tem limite de peso, qualquer um acima de 86,1 kg é considerado um pesado. Ruiz tem 101 kg.
Imagine "Sugar" Ray Leonard, por mais formidável que tenha sido durante o seu auge, enfrentando um "Iron" Mike Tyson. Ou outro "Sugar Ray", desta vez o original, Robinson, dividindo o ringue com o pegador Rocky Marciano.
Soa ridículo para você?
Pois, guardadas as devidas proporções, não estamos longe disso.
Jones Jr. já disse que não teria dificuldade em baixar para a categoria dos supermédios (76,2 kg).
Mesmo que Ruiz fosse tão medíocre quanto dizem, a diferença em pegada é considerável. Aliás, passei a discordar de seus críticos, pois quem bateu Kirk Johnson e Holyfield, que, depois, venceria Hasim Rahman, tem qualidades.
Claro, campeões dos pesos-pesados serem batidos por pugilistas menores não é um fato inédito.
Não vou considerar o caso de Bob Fitzsimmons e James J. Corbett, pois a diferença não era tão grande (75,8 kg para 83,5 kg).
Mas, no caso de Michael Spinks, por exemplo, este enfrentava um Larry Holmes quase no fim de carreira (como campeão). E os jurados podem ter sido afetados, ao menos de modo subconsciente, pelo fato de que, se vencesse, Holmes, um campeão "chato", igualaria o recorde de 49 vitórias seguidas do legendário Marciano.
E, no caso de Holyfield, este iniciou a carreira como meio-pesado, havia sido campeão dos cruzadores e adaptou seu físico à categoria com uma série de lutas como pesado (lembram o Maguila?) antes de desafiar pelo título. É um luxo que Jones Jr. não terá.
Algumas bolsas de apostas apontam Jones Jr. como favorito.
Não é meu caso. Caso Jones Jr. não force o cancelamento da luta por qualquer motivo até março, o resultado mais provável será uma vitória por nocaute de Ruiz.

Tapas...
As americanas Mia St. John e Christy Martin disputam hoje a "Batalha das Garotas da Capa". A primeira foi capa da "Playboy". A segunda, da "Sports Illustrated". Martin ganhou notoriedade nas preliminares de Tyson. É a segunda mais importante luta feminina da história. A primeira reuniu Laila Ali e Jacqui Frazier-Lyde.

Chutes e chaves
O campeão dos pesados do Pride (o mais prestigioso torneio de vale-tudo, ao lado do Ultimate Fighting Championship), Rodrigo "Minotauro" Nogueira, defende o cinturão no dia 23 contra Emiliamenco Fedor. O russo ganhou o direito de enfrentar o brasileiro ao vencer o americano Heath Herring em eliminatória. Um bom resultado nesse combate será importante na hora de Minotauro renegociar seu contrato com o Pride, que vence no fim do ano. O campeão dos médios, Vanderlei Silva, que bateu Yoshiro Kanehara em sua última luta, não tem data prevista para voltar ao ringue.

E-mail eohata@folhasp.com.br


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