São Paulo, sexta-feira, 06 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

Dois velhos rivais

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Foi contra o Corinthians que o Santos conquistou seu primeiro Campeonato Paulista, em 1935. Foi contra o Corinthians que manteve o legendário tabu nos anos 60, tempos de Pelé, Pepe e companhia. Foi contra o Corinthians que obteve seu último título de expressão: o Paulista-84, com um gol de Serginho Chulapa aos 27min do segundo tempo.
Foi contra o Santos que o Corinthians aplicou uma das maiores goleadas de sua história: 11 a 0. Foi contra o Santos que devolveu o tabu nos anos 80, tempos de Sócrates, Zenon e companhia. Foi contra o Santos que, numa semifinal do Campeonato Paulista, o Corinthians conseguiu aquela inacreditável vitória com um gol de Ricardinho aos 47min48s do segundo tempo.
Acho que os deuses do futebol escreveram certo por linhas retas ao escolherem Santos e Corinthians para a final que começa domingo. Uma decisão com Santos x Flu ou Corinthians x Grêmio não teria, nem de longe, o mesmo apelo e a mesma vibração.
O Corinthians caminha para um ano que, antes de terminar, já é inesquecível, pois contabilizou os títulos do Rio-São Paulo e da Copa do Brasil. É um time racional, que impõe o ritmo e vai minando a resistência psicológica do adversário, lembrando muito (perdoem a heresia) o Palmeiras de Luís Pereira, Ademir da Guia, Leivinha e César, time que vencia com resultados econômicos, mas chegava na ponta de todas as competições que disputava.
Kléber e Gil são o lado criativo, vistoso e envolvente do time. A seleção brasileira seria incompleta sem eles, que formam a melhor ala esquerda do nosso futebol.
Os demais estão todos num nível parecido, sempre eficientes e executando suas funções com serenidade e competência. É um conjunto mais equilibrado e menos sujeito a pressões. Por outro lado, às vezes demonstra uma preocupante inapetência.
Já o Santos vive uma situação oposta: tem fome e sede de títulos. Essa gulodice pode exercer influência negativa sobre o time jovem e ainda pouco experimentado na batalha. Felizmente, nos últimos jogos, o time tem sabido controlar o apetite e usar a cabeça. Marcando como nunca, o Santos tem conseguido expressivas vitórias nessa fase de mata-matas, vitórias, diga-se, contra oponentes tidos como mais qualificados e mais experientes.
Paulo Almeida e Renato têm feito um trabalho extraordinário de redução dos espaços, desarmes e início seguro do contra-ataque. Isto tem dado tranquilidade à zaga e criado as condições favoráveis para que Diego e Robinho desenvolvam seu talento.
E há também a superstição. Se ela merece ser levada em conta, nesse campeonato o Santos já conseguiu algumas interessantes reparações: o Botafogo, algoz de 1995, foi rebaixado para a segunda divisão. O São Paulo, algoz da última disputa do Paulista pelo Santos, foi eliminado juntamente com Ricardinho, o algoz de 2001. Neste rol de vinganças, falta justamente o time de Parque São Jorge. Se o Santos vencer, não será apenas o fim de um longo jejum de títulos. Será um banquete.
Serão duas grandes partidas. Um duelo entre o frio time de Parreira e o adolescente time de Leão. Uma disputa entre neurônios e hormônios. Desde a primeira disputa, há 67 anos, há uma enorme carga de tensão no ar quando as duas camisas entram em campo. Nos próximos dois domingos, não será diferente.

Azarados
Oswaldo Queiroz Junior enviou uma seleção zicada, uma equipe formada apenas por jogadores que perderam pênaltis: Chilavert (que errou pela seleção paraguaia); Carlos Alberto Torres (errou pelo Fluminense no Brasileiro de 1976), Julio César (pela seleção brasileira na Copa de 86), Baresi (pela Itália em 1994) e Rodrigues Neto (pelo Fluminense, no Brasileiro de 1976); Vampeta (Corinthians, na Libertadores de 1999), Sócrates (pela seleção, na Copa de 86) e Zico (idem); Marcelinho (Corinthians, na Taça Libertadores de 2000), Edmundo (pelo Vasco no Mundial de Clubes da Fifa) e Roberto Baggio (aquele maravilhoso chute por cima da trave pela seleção italiana na disputa de pênaltis na Copa de 94). O consultor técnico seria o inigualável argentino Palermo, que conseguiu o feito de perder três pênaltis num mesmo jogo.

E-mail torero@uol.com.br


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