JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
da Reportagem Local

A Rede Globo de Televisão decidiu ocultar dos telespectadores o 1º Mundial de Clubes da Fifa, o mais importante torneio de futebol realizado no Brasil desde a Copa de 1950.
Como a emissora não tem os direitos de transmissão do torneio, comprados pela Traffic, dona do departamento de esportes da Bandeirantes, a Folha apurou que a ordem interna para seus telejornais é falar o mínimo possível sobre o Mundial de Clubes.
Antes de entrevistar jogadores, técnicos ou dirigentes, os repórteres pedem para eles não mencionarem o torneio da Fifa.
Anteontem, a Globo decidiu ignorar em seus telejornais a abertura do torneio, em rodada dupla no Morumbi, com a participação do Corinthians no jogo de fundo.
Ontem, na edição de São Paulo do programa ""Globo Esporte", deu destaque maior à primeira rodada da Copa São Paulo de juniores, exibido-a por 5min44s, contra apenas 25s dedicados ao Mundial.
Em nenhum momento informou que o Corinthians voltaria a jogar hoje, contra o Real, a fim de não criar expectativas para a partida, a ser exibida em TV aberta apenas pela Bandeirantes. Nada mencionou também sobre o jogo que o Vasco faria ontem à noite contra o South Melbourne.
É tratamento semelhante ao dado à Copa Mercosul, torneio sul-americano promovido pela Traffic e exibido pela Bandeirantes.
Apesar de o status do Mundial de Clubes ser outro -é uma competição oficial promovida pela Fifa, a entidade máxima do futebol-, a Globo alega que o torneio, por estar em sua primeira edição, tem caráter experimental e, por isso, recebe pouco espaço.
A emissora diz ainda que não é por ser um torneio da Fifa que deveria exibi-lo ou lhe dar maior destaque, já que várias das competições promovidas pela entidade têm pouco espaço no Brasil.
Chega a compará-la com a Copa do Brasil, que no início era transmitida apenas pelo SBT, mas que depois acabou encampando.
Em 1995, na final entre Grêmio e Corinthians, a emissora de Silvio Santos bateu seu recorde de audiência -com 42 pontos, despertando ainda mais o interesse do concorrente pelo torneio.
Outro argumento da Globo para o pouco destaque ao Mundial é que, para o torcedor brasileiro, mais importante do que o torneio seria a luta da seleção de futebol pelo inédito ouro olímpico.
Por isso, em dezembro, teria decidido comprar os direitos de transmissão do Pré-Olímpico, no Paraná, e não o do Mundial, adquirido pela Traffic em setembro -US$ 40 milhões pelos direitos de suas três primeiras edições.
Mas a atitude da Globo coincide com o acirramento de suas divergências com o HMTF, fundo de investimentos norte-americano que controla o departamento de futebol do Corinthians e do Cruzeiro e é sócio da Traffic -e, por tabela, da Bandeirantes.
Em seus principais telejornais, a emissora tem exibido entrevistas com o ministro Rafael Greca, que editou medida provisória para impedir que uma empresa controlasse mais de um clube de futebol no Brasil.
Seu receio é que, pouco a pouco, comece a perder o domínio sobre as principais competições do país. Controlado pelo HMTF, o Corinthians foi, no segundo semestre do ano passado, o único integrante do Clube dos 13 a não ceder os direitos de transmissão de seus jogos para o exterior para a ISL (International Sports Leisure).
O HMTF anunciou o lançamento, para 15 de fevereiro, do Panamerican Sports Canal, que pretende transformar no maior canal de TV paga na América Latina, concorrendo com a ESPN.


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