São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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FUTEBOL

Filhos da boa terra

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Vitória da Bahia anuncia a contratação de Vampeta e Edílson. Nenhum dos dois está propriamente no auge, mas seguem sendo jogadores de primeira linha.
Não vou aqui discutir o acerto ou erro da dupla contratação. Meu interesse é chamar a atenção para o que há de simétrico e de revelador no acontecimento.
Vampeta e Edílson tiveram até agora inúmeros pontos de contato em suas carreiras: ambos são baianos e começaram suas carreiras em Salvador, ambos tiveram temporadas discretas no exterior, ambos atuaram nos dois clubes mais populares do Brasil (Flamengo e Corinthians), ambos foram campeões mundiais (como reservas) com a seleção brasileira em 2002. Por fim, agora ambos voltam à Bahia.
Mas o que há de mais interessante em comum entre os dois jogadores, a meu ver, é outra coisa. Para o bem e para o mal, Vampeta e Edílson parecem valorizar mais o prazer de viver do que o projeto de fazer história e fortuna.
Não que eles não gostem de dinheiro, ou que não queiram se destacar como futebolistas de ponta. O que lhes falta é o espírito de sacrifício que leva tantos jovens a abrirem mão dos prazeres momentâneos em nome de uma carreira, um futuro, um patrimônio.
Que não me entendam mal: não estou atribuindo valor positivo ou negativo à atitude dos dois. Quem pode dizer qual é a opção de vida que convém aos outros? Cada um sabe de si.
Mas não deixa de ser interessante ver jogadores que escapam do figurino destes tempos tão pragmáticos.
Tanto Vampeta como Edílson poderiam ter chegado mais longe em suas carreiras -em termos de prestígio, conquistas e dinheiro- se fossem mais "sérios".
Vampeta, sobretudo, poderia ter aproveitado melhor suas invejáveis qualidades: vigor físico, mobilidade, visão de jogo e técnica. Poderia ter sido um modelo de volante moderno. O espírito zombeteiro, a preguiça e o desejo de curtir a vida aqui e agora o afastaram desse projeto.
Vampeta sempre foi um sujeito original. Num meio em que prevalece o mais tacanho moralismo, foi o primeiro atleta de nível de seleção a posar nu para uma revista. Numa época em que seus colegas de profissão só pensam em comprar carros importados e bugigangas eletrônicas, investiu na restauração do antigo cinema de sua cidade natal, Nazaré das Farinhas.
Ao mesmo tempo, há quem o acuse de falta de profissionalismo em sua passagem pelo Flamengo e em sua segunda passagem pelo Corinthians. Nos dois casos, porém, os clubes em questão estavam com seus salários em atraso.
Edílson viveu outras tantas histórias de rebeldia, malandragem e irresponsabilidade (basta lembrar as embaixadinhas que provocaram uma guerra no Morumbi).
Dois macunaímas, enfim, que sempre prezaram a boa vida e a boa terra, à qual agora voltam como filhos pródigos.

Só para fiéis
Ao contrário do empolgante Palmeiras 2 x 2 Santos de domingo passado, o clássico de amanhã, entre Corinthians e Portuguesa, tem tudo para ser uma partida "de dar calo na vista", para usar a expressão do ex-artilheiro Dadá Maravilha. Pelo menos é o que indica o retrospecto recente dos dois times. Espero estar enganado.

O Rio continua lindo
Só não comentei na segunda-feira o Fla-Flu de domingo porque escrevi a coluna antes do fim do jogo, que foi eletrizante como poucos. É incrível como um único clássico, com o estádio cheio e dois craques em campo (Romário e Felipe), é suficiente para ressuscitar um futebol que parecia moribundo. Tomara que o Estadual do Rio pegue o embalo.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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