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FUTEBOL
Filhos da boa terra
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O Vitória da Bahia anuncia
a contratação de Vampeta e
Edílson. Nenhum dos dois está
propriamente no auge, mas seguem sendo jogadores de primeira linha.
Não vou aqui discutir o acerto
ou erro da dupla contratação.
Meu interesse é chamar a atenção
para o que há de simétrico e de revelador no acontecimento.
Vampeta e Edílson tiveram até
agora inúmeros pontos de contato em suas carreiras: ambos são
baianos e começaram suas carreiras em Salvador, ambos tiveram
temporadas discretas no exterior,
ambos atuaram nos dois clubes
mais populares do Brasil (Flamengo e Corinthians), ambos foram campeões mundiais (como
reservas) com a seleção brasileira
em 2002. Por fim, agora ambos
voltam à Bahia.
Mas o que há de mais interessante em comum entre os dois jogadores, a meu ver, é outra coisa.
Para o bem e para o mal, Vampeta e Edílson parecem valorizar
mais o prazer de viver do que o
projeto de fazer história e fortuna.
Não que eles não gostem de
dinheiro, ou que não queiram se
destacar como futebolistas de
ponta. O que lhes falta é o espírito
de sacrifício que leva tantos
jovens a abrirem mão dos prazeres momentâneos em nome de
uma carreira, um futuro, um patrimônio.
Que não me entendam mal:
não estou atribuindo valor positivo ou negativo à atitude dos dois.
Quem pode dizer qual é a opção
de vida que convém aos outros?
Cada um sabe de si.
Mas não deixa de ser interessante ver jogadores que escapam
do figurino destes tempos tão
pragmáticos.
Tanto Vampeta como Edílson
poderiam ter chegado mais longe
em suas carreiras -em termos de
prestígio, conquistas e dinheiro-
se fossem mais "sérios".
Vampeta, sobretudo, poderia
ter aproveitado melhor suas invejáveis qualidades: vigor físico,
mobilidade, visão de jogo e técnica. Poderia ter sido um modelo de
volante moderno. O espírito zombeteiro, a preguiça e o desejo de
curtir a vida aqui e agora o afastaram desse projeto.
Vampeta sempre foi um sujeito
original. Num meio em que prevalece o mais tacanho moralismo,
foi o primeiro atleta de nível de
seleção a posar nu para uma revista. Numa época em que seus
colegas de profissão só pensam
em comprar carros importados e
bugigangas eletrônicas, investiu
na restauração do antigo cinema
de sua cidade natal, Nazaré das
Farinhas.
Ao mesmo tempo, há quem o
acuse de falta de profissionalismo
em sua passagem pelo Flamengo
e em sua segunda passagem pelo
Corinthians. Nos dois casos, porém, os clubes em questão estavam com seus salários em atraso.
Edílson viveu outras tantas histórias de rebeldia, malandragem
e irresponsabilidade (basta lembrar as embaixadinhas que
provocaram uma guerra no Morumbi).
Dois macunaímas, enfim, que
sempre prezaram a boa vida e a
boa terra, à qual agora voltam como filhos pródigos.
Só para fiéis
Ao contrário do empolgante
Palmeiras 2 x 2 Santos de domingo passado, o clássico de
amanhã, entre Corinthians e
Portuguesa, tem tudo para ser
uma partida "de dar calo na vista", para usar a expressão do
ex-artilheiro Dadá Maravilha.
Pelo menos é o que indica o retrospecto recente dos dois times. Espero estar enganado.
O Rio continua lindo
Só não comentei na segunda-feira o Fla-Flu de domingo porque escrevi a coluna antes do
fim do jogo, que foi eletrizante
como poucos. É incrível como
um único clássico, com o estádio cheio e dois craques em
campo (Romário e Felipe), é
suficiente para ressuscitar um
futebol que parecia moribundo. Tomara que o Estadual do
Rio pegue o embalo.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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