São Paulo, quarta-feira, 07 de fevereiro de 2007

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TOSTÃO

Baixinhos e altinhos

Globalizado, com domínio da marcação e dos cruzamentos para a área, o futebol é hoje um esporte de fortes altinhos

UM DOS motivos das más atuações de Tevez e de ele não ter feito nenhum gol pelo West Ham é a sua posição em campo. Na equipe inglesa, Tevez atua no meio-campo, pela direita. Nada a ver com o argentino, que sempre foi um atacante, que somente recua para receber a bola e parte com ela para o gol. Como Tevez é habilidoso e baixinho, o técnico inglês o escala para ser um meia.
Isso ocorre em todo o mundo. Os treinadores querem atacantes fortes e altos para o jogo aéreo. Assim como aconteceu na população mundial e em quase todos os esportes, os atletas de futebol, também do Brasil, estão cada dia mais altos e fortes. No passado, a grande dificuldade dos times brasileiros no confronto com os europeus era o tamanho dos atletas e a condição física.
Hoje não existe mais esse problema. Já os baixinhos brasileiros têm cada dia menos chance de brilhar, mesmo os que atuam no Brasil. O antigo conceito de que o futebol é um esporte em que os atletas de todos os tamanhos podem jogar bem não é mais verdade. Há exceções. Na Copa de 70, todos os meias e os atacantes da seleção brasileira tinham menos de 1,75 m. Nos últimos tempos, quase todos jogadores que mais se destacaram nessas posições mediam mais de 1,80 m, como Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká. O mesmo ocorreu na Europa, com Henry, Zidane, Schevchenko e outros.
Quando o técnico gaúcho Rubens Minelli disse nos anos 70 que entre dois jogadores com a mesma técnica ele preferia o mais alto, foi mal interpretado e criticado. Hoje, os técnicos, desde as categorias de base, escolhem os mais altos, mesmo que sejam um pouco piores. Romário foi o último dos pequenos grandes atacantes. Se ele chegasse hoje às categorias de base de um grande clube, o técnico o colocaria para jogar como meia ou seria reprovado para o futebol.
No recente Sul-Americano sub-20, vencido pelo Brasil, a maior diferença do time brasileiro não foi a habilidade, e sim a força física, a altura dos atletas e o jogo aéreo. Essa é uma das maiores qualidades do Alexandre Pato. Por esse motivo e pelo talento, ele tem tudo para ter sucesso. Assim, o antigo conceito de que o futebol brasileiro é diferente, mais leve, mais bonito, mais habilidoso, de mais dribles e de mais tabelas, precisa ser revisto.
O futebol está globalizado na maneira de jogar e na estrutura física dos atletas. No Brasil e em todo o mundo, predominam a marcação forte e os cruzamentos para a área. O futebol é hoje um esporte de fortes altinhos.

Ótima atuação
Edmundo teve uma excepcional atuação no primeiro tempo contra o Santos e cansou no segundo, jogando de meia, mais recuado, em uma posição que disse que ele não deveria jogar. Isso é um fato. Outro é, por causa de uma única partida, dizer, como li e escutei várias vezes, que essa é a função ideal para o Edmundo.
Nessa última passagem pelo Palmeiras, ele jogou nessa mesma posição e não tinha tido uma única ótima atuação. Os conceitos e as teorias, mesmo com bons argumentos, são ótimos até serem desmentidos pela prática. Aí, cria-se uma nova e excelente teoria, que também será contestada mais tarde. As coisas vão e voltam. O que é bom e novo hoje já foi ruim e velho ontem. Poucas coisas são definitivas, como o delicioso sabor de um sorvete de coco.

tostao.folha@uol.com.br


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