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São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2003

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BOXE

Com um asterisco

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Então Roy Jones Jr. é o campeão dos pesos-pesados pela Associação Mundial de Boxe?
Ele é o segundo campeão dos meio-pesados (limite de 79,3 kg) a subir de categoria e derrotar um campeão da categoria máxima? (O primeiro foi Michael Spinks.)
E também é o primeiro ex-campeão dos médios (limite de 72,5 kg) a ganhar um título dos pesados (sem limite de peso)?
Foi realmente um grande feito, principalmente quando levamos em conta que seus primeiros combates foram entre os médios-ligeiros (cujo limite é de 69,8 kg).
Mas o caso é que na visão dos puristas (eu me incluo nesse grupo) a conquista de Jones Jr., apesar de histórica, teria de estar acompanhada por um asterisco.
Por quê? Por causa do contexto.
Quando Bob Fitzsimmons, ex-campeão dos médios, venceu James J. Corbett, só havia um campeão mundial dos pesos-pesados.
Quando Spinks venceu Larry Holmes, em 1985, pelo título da Federação Internacional de Boxe, apesar de já haver sopa de letrinhas, este era reconhecido como o real campeão dos pesos-pesados.
Afinal, Holmes era o campeão linear (bateu Muhammad Ali, que havia batido Leon Spinks, e assim uma linha poderia ser traçada até o primeiro campeão) e seus cinturões do CMB e da AMB foram tomados no tapetão.
Mas retornando ao presente, no caso de Roy Jones Jr., este derrotou um dos (diversos) campeões, John Ruiz, o que dilui seu feito.
Não, não estou desmerecendo a conquista de Jones Jr., ao contrário. Não esqueçam que não acho Ruiz tão medíocre como os críticos apregoam que é e até acreditava em vitória sua sobre Jones Jr.
Afinal, para mim, quem aguenta 36 assaltos com um Holyfield que posteriormente venceria o ex-campeão Hasim Rahman, e ainda defendeu o cinturão com sucesso contra Kirk Johnson, que era apontado como grande promessa, tem alguma qualidade.
Mas o fato é que, além de Jones Jr., também há os campeões Chris Byrd (pela Federação Internacional de Boxe) e Lennox Lewis (CMB), esse sim considerado o campeão linear, depois que venceu Shannon Briggs, que havia vencido George Foreman... (acho que você já assimilou o conceito).
Aliás, a exemplo do que ocorreu com Holmes, houve um período em que Lewis manteve os três cinturões em seu poder, até perder o da AMB e o da FIB da mesma forma que Holmes, no tapetão.
Agora, Jones Jr., que tem como primeiro do ranking o gigante ucraniano Vitali Klitschko, fala em pegar Lewis, Tyson e Byrd... Se as bolsas valerem a pena.
Mas o quão sério Jones Jr. está falando? Se contra Ruiz a diferença de peso contra ele foi de 15 kg, contra Lewis seria de no mínimo uns 22,5 kg. E contra Vitali, a diferença de altura seria de 18 cm -Jones Jr. mede 1,80 m, e Klitshko, 1,98 m. A diferença de peso, de 23 kg. O irmão de Vitali, Wladimir, é mais alto, mede 2,01 m.
Byrd e Tyson, pesados menores, parecem cenários mais razoáveis.
De toda forma, Jones Jr. reforçou domingo a crença de que é o melhor boxeador da atualidade. Mesmo que a prova tenha vindo acompanhada por um asterisco.

Um a favor
A "Boxing Digest" selecionou Popó como o quarto melhor lutador de 2002. "Provou que também sabe boxear" foi o comentário.

Outro contra
Ainda pela publicação, o combate unificatório entre Popó e o cubano Joel Casamayor foi eleito o segundo mais polêmico do ano. "No local da luta havia um forte sentimento de que o cubano havia ganhado."

Mais premiações
Dois combates exibidos no Brasil foram "surras do ano". A luta entre Lewis e Tyson, segunda ("Você tinha de sentir pena de Tyson no decorrer da luta"), e a entre Wladimir Klitschko e Ray Mercer, quinto ("Parece que [o manager] Peter Kohl sabia de algo, e nós não").

E-mail eohata@folhasp.com.br


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