São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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FUTEBOL

Cada um no seu estilo

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Assim como os jogadores, os principais técnicos brasileiros possuem estilos diferentes. Independentemente de suas preferências, as suas equipes têm esquemas táticos definidos, com os jogadores bem distribuídos em campo. Isso é essencial.
Uma equipe pode se destacar pela marcação e ser ofensiva, como o São Caetano. Porém os quatro gols só saíram porque o Santos levou um, foi todo para a frente e deixou a defesa desprotegida. O Santos corre sempre esse risco. As goleadas entre equipes com a mesma qualidade acontecem geralmente dessa forma.
Se o Santos jogasse contra o São Caetano com muitos cuidados defensivos, como fizeram Brasil e Paraguai, uma equipe esperaria a outra e, provavelmente, o jogo terminaria num chatíssimo 0 a 0, ou 1 a 0, num gol de bola parada. Foi assim também na final da Copa de 94, entre Brasil e Itália, mesmo com Romário e Baggio em campo.
Em 94, se o Brasil tivesse arriscado mais, ganharia nos noventa minutos ou perderia o título num contra-ataque. Na época, Parreira disse que, numa Copa, o importante era não levar o primeiro gol. A seleção pentacampeã mostrou que isso é relativo.
Há várias maneiras de vencer um jogo e ganhar um título. O que foi bom ontem pode não ser hoje. A experiência, como escreveu Pedro Nava, é como um farol iluminando para trás. Na frente, continua tudo escuro.
Os times dirigidos pelo Parreira estão sempre bem posicionados na defesa. Nunca marcam na frente, mesmo quando estão perdendo. Raramente sofrem goleadas. Os seus zagueiros não correm atrás dos atacantes, como os do Santos. A preocupação em manter a posse de bola é outra maneira de evitar o contra-ataque.
A grande virtude do Parreira é o equilíbrio. O seu grande defeito é ser muito equilibrado.
Não podemos esquecer ainda que o estilo ousado do Leão foi responsável pela formação de um ótimo time, que encantou a todos, que ganhou o Brasileiro de 2002 e que conseguiu belíssimas vitórias e grandes viradas no placar.
Felipão é diferente dos dois. Ele é mais intuitivo e surpreendente. Nunca se sabe o que ele vai fazer. Os seus times podem ser muito defensivos ou ofensivos.
O Brasil ganhou a Copa de 2002 sem jogar no estilo cadenciado e prudente do Parreira nem no jeito agressivo do Leão. Os times do Felipão parecem seguir o seu variado humor.
As equipes dirigidas pelo Luxemburgo defendem bem como as do Parreira e fazem muitos gols como as do Leão.
No Cruzeiro, impressionou-me como os laterais e o volante Wendell avançavam, sem deixarem espaços na defesa. Zé Roberto, que joga na seleção na posição do Wendell e que tem mais habilidade e a mesma velocidade, não consegue marcar bem e chegar com freqüência no ataque.
O estilo dos principais técnicos brasileiros (estão surgindo outros excelentes), refletem as suas personalidades.
Parreira é mais prudente e arrisca menos. Leão é mais agitado e ousa mais. Felipão é mais intuitivo e surpreende mais. Luxemburgo é mais perfeccionista e exige que seus times ataquem e defendam com eficiência.
Todos são excelentes. Cada um no seu estilo.

Única surpresa
Em São Paulo, a única surpresa foi o Paulista na final. Esse é um dos charmes dos estaduais. Isso nunca aconteceria num campeonato longo, por pontos corridos e com um número maior de boas equipes. O São Caetano estava no mesmo nível do Santos e do São Paulo e foi melhor nas partidas decisivas.
No Rio, enquanto os jovens do Vasco, auxiliados por alguns mais experientes, tomavam a bola em todas as partes do campo e chegavam com facilidade ao gol, o Fluminense se arrastava em campo. Era o esperado.
Romário, que foi um dos maiores atacantes do mundo de todos os tempos, joga no ritmo de uma pelada de veteranos no final de semana.
Edmundo não atua bem há muito tempo. Roger dá um passe bonito e é chamado de craque. Ramon é apenas um bom jogador. Todos estão desentrosados e sem boas condições físicas.
O Fluminense nunca teve um grande time na teoria e muito menos na prática. Não é um bom time real nem virtual. Não ganhou um único clássico no campeonato. Era apenas uma ilusão e ou uma jogada de marketing.

E-mail
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