São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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TÊNIS

Contra eles também?

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Foi preciso ter pelo menos alguma dose de coragem e muita personalidade.
Em meio às notícias nas páginas policiais e ao boicote liderado por ele, Gustavo Kuerten, quem ousaria se colocar do outro lado e, aparentemente à disposição da CBT de Nelson Nastás, aceitar jogar a Copa Davis?
Marcos Daniel, 25, nunca havia sido tão procurado. Pessoas que mal lhe dirigiam a palavra passaram a se preocupar com o que ele pensava. Gente que nunca quis saber se ele estava bem passou a lhe telefonar para conferir o que andava por sua cabeça.
Ignorado por muita gente durante sua carreira, já em sua oitava temporada como profissional, o gaúcho finalmente começava a despertar algum interesse.
Aceitar jogar a Copa Davis não foi fácil para esse rapaz de Passo Fundo. Foi preciso, antes de dar o "sim", consultar algumas pessoas, poucas, mas importantes. Conversar com Alexandre Simoni lhe deu tranqüilidade para seguir.
"Depois que decidi jogar, nada mudaria minha opinião. Em nenhum momento tive dúvidas; sabia que estava fazendo o melhor para o meu país", diz. "Guga pode fazer alguma coisa pelo tênis brasileiro liderando esse boicote fora das quadras. Eu posso ajudar dentro de quadra, tentando recolocar o Brasil na elite da Davis."
O convite a Daniel partiu diretamente de Carlos Chabalgoity, o Chapecó. Esse, sim, um dos poucos que de fato se preocuparam algum dia com o tenista gaúcho.
"Sabia que seria criticado por assumir, ainda que interinamente, o posto de capitão. Mas eu não poderia deixar de fazer isso, não poderia ficar parado vendo o país perder um confronto de Copa Davis e, mais ainda, suspenso por um ano da competição."
Chapecó fez ele próprio os contatos. Ligou, um a um, para os tenistas. Tentou até o último momento ter Franco Ferreiro, última esperança do tênis nacional. Mas Ricardo Acioly, capitão da equipe durante cinco anos na gestão de Nastás, lhe disse não. Por fim, Chapecó, com muito suor, fechou uma equipe considerada fraca, com Julio Silva e Josh Goffi, este até motivo de piada entre gente que não concorda com a CBT.
Silva, não é de hoje, sempre passou por dificuldades. Até para começar a jogar, entrou pelas portas do fundo. Quando pisou em uma quadra de tênis pela primeira vez, era para catar bolinhas para endinheirados que viam no esporte um mero passatempo.
Viu na Copa Davis uma possibilidade de sobrevivência própria, e não de politicagem a favor deste ou daquele grupo que vive nos gabinetes. Para ele, aceitar o convite da CBT significa ainda acreditar em uma carreira de tenista profissional.
Só tem eles, é com eles que o Brasil vai diante do Paraguai a partir de sexta-feira.
Enquanto eles estiverem em quadra neste fim de semana, muita gente que gosta e vive do tênis estará acompanhando tudo de casa, pela TV. Trabalhar pela saída de Nastás, desejar a entrada deste ou daquele grupo no comando da CBT, tudo bem. Mas torcer contra Marcos Daniel, Chapecó e o Julinho, isso não.

Mais um mistério
Muito mal contada a história da visita de Kuerten ao médico Thomas Byrd. Às pressas e, principalmente, às escuras? Pelo modo como foi dito, só alimenta suspeitas de que ele nunca se recuperou da cirurgia.

Mais um título
Serena Williams ficou oito meses afastada. Voltou e, de cara, levantou o troféu. Ok, as belgas não estavam lá, mas...

Mais uma tentativa
Maria Fernanda Alves, Carla Tiene, Letícia Sobral e Larissa Carvalho formam a equipe da Fed Cup. Diferentemente do que houve no masculino, não rolou boicote à convocação da capitã Andréa Vieira. Elas jogam o grupo americano de 19 a 25 em Porto Seguro.

E-mail randaku@uol.com.br


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