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TÊNIS
Contra eles também?
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Foi preciso ter pelo menos alguma dose de coragem e muita personalidade.
Em meio às notícias nas páginas policiais e ao boicote liderado
por ele, Gustavo Kuerten, quem
ousaria se colocar do outro lado e,
aparentemente à disposição da
CBT de Nelson Nastás, aceitar jogar a Copa Davis?
Marcos Daniel, 25, nunca havia
sido tão procurado. Pessoas que
mal lhe dirigiam a palavra passaram a se preocupar com o que ele
pensava. Gente que nunca quis
saber se ele estava bem passou a
lhe telefonar para conferir o que
andava por sua cabeça.
Ignorado por muita gente durante sua carreira, já em sua oitava temporada como profissional,
o gaúcho finalmente começava a
despertar algum interesse.
Aceitar jogar a Copa Davis não
foi fácil para esse rapaz de Passo
Fundo. Foi preciso, antes de dar o
"sim", consultar algumas pessoas,
poucas, mas importantes. Conversar com Alexandre Simoni lhe
deu tranqüilidade para seguir.
"Depois que decidi jogar, nada
mudaria minha opinião. Em nenhum momento tive dúvidas; sabia que estava fazendo o melhor
para o meu país", diz. "Guga pode fazer alguma coisa pelo tênis
brasileiro liderando esse boicote
fora das quadras. Eu posso ajudar
dentro de quadra, tentando recolocar o Brasil na elite da Davis."
O convite a Daniel partiu diretamente de Carlos Chabalgoity, o
Chapecó. Esse, sim, um dos poucos que de fato se preocuparam
algum dia com o tenista gaúcho.
"Sabia que seria criticado por
assumir, ainda que interinamente, o posto de capitão. Mas eu não
poderia deixar de fazer isso, não
poderia ficar parado vendo o país
perder um confronto de Copa Davis e, mais ainda, suspenso por
um ano da competição."
Chapecó fez ele próprio os contatos. Ligou, um a um, para os tenistas. Tentou até o último momento ter Franco Ferreiro, última
esperança do tênis nacional. Mas
Ricardo Acioly, capitão da equipe
durante cinco anos na gestão de
Nastás, lhe disse não. Por fim,
Chapecó, com muito suor, fechou
uma equipe considerada fraca,
com Julio Silva e Josh Goffi, este
até motivo de piada entre gente
que não concorda com a CBT.
Silva, não é de hoje, sempre passou por dificuldades. Até para começar a jogar, entrou pelas portas
do fundo. Quando pisou em uma
quadra de tênis pela primeira vez,
era para catar bolinhas para endinheirados que viam no esporte
um mero passatempo.
Viu na Copa Davis uma possibilidade de sobrevivência própria, e não de politicagem a favor
deste ou daquele grupo que vive
nos gabinetes. Para ele, aceitar o
convite da CBT significa ainda
acreditar em uma carreira de tenista profissional.
Só tem eles, é com eles que o
Brasil vai diante do Paraguai a
partir de sexta-feira.
Enquanto eles estiverem em
quadra neste fim de semana,
muita gente que gosta e vive do
tênis estará acompanhando tudo
de casa, pela TV. Trabalhar pela
saída de Nastás, desejar a entrada deste ou daquele grupo no comando da CBT, tudo bem. Mas
torcer contra Marcos Daniel,
Chapecó e o Julinho, isso não.
Mais um mistério
Muito mal contada a história da visita de Kuerten ao médico Thomas
Byrd. Às pressas e, principalmente, às escuras? Pelo modo como foi
dito, só alimenta suspeitas de que ele nunca se recuperou da cirurgia.
Mais um título
Serena Williams ficou oito meses afastada. Voltou e, de cara, levantou o troféu. Ok, as belgas não estavam lá, mas...
Mais uma tentativa
Maria Fernanda Alves, Carla Tiene, Letícia Sobral e Larissa Carvalho
formam a equipe da Fed Cup. Diferentemente do que houve no masculino, não rolou boicote à convocação da capitã Andréa Vieira. Elas
jogam o grupo americano de 19 a 25 em Porto Seguro.
E-mail randaku@uol.com.br
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