São Paulo, quinta-feira, 07 de junho de 2001

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Seleção encara carrasco de 98 em semifinal da Copa das Confederações

Contra a França, Brasil hoje é caça

Na Coréia do Sul, jogadores brasileiros falam de revanche e entram em polêmica com o time francês no primeiro confronto desde a derrota no Mundial

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

Brasil e França jogam hoje. E o seguinte diagnóstico para o jogo foi feito pelo volante francês Vieira: "É a primeira vez na história que somos favoritos contra o Brasil, mas temos de ignorar isso, pode ser um obstáculo para nós".
A frase, absurda para ouvidos tetracampeões, pelo menos até a final da Copa de 1998, dá uma boa medida da atual realidade do futebol brasileiro. E se para os brasileiros a partida desta manhã serve até como revanche daquela final, para os franceses, agora favoritos, tal hipótese soa descabida.
A polêmica alimentou os dois times à véspera do confronto, hoje, às 8h (de Brasília), em Suwon, na Coréia do Sul, válido por semifinal da Copa das Confederações.
Pudera. Será o primeiro França x Brasil desde 12 de julho de 1998, quando os anfitriões da Copa do Mundo derrotaram a seleção brasileira por 3 a 0 e conquistaram seu primeiro título mundial.
A principal alegação dos franceses é que os times estão diferentes e que a Copa das Confederações, torneio criado há pouco tempo pela Fifa e que nunca empolgou nem participantes nem torcedores, não pode ser comparada à Copa do Mundo.
"Jamais é uma revanche. Aquela partida foi disputada há três anos, com outros jogadores. Além do mais, não estamos agora numa final de Mundial", declarou o treinador da França, Roger Lemerre.
"É um clássico entre duas equipes de prestígio, mas não uma revanche", completou o zagueiro Desailly, capitão e mais experiente entre os jogadores que estão na Coréia, com 86 jogos.
O racionalismo dos franceses não convence os brasileiros e escancara a inversão de papéis vivida pelas duas seleções.
"É uma situação diferente, por outra competição. Mas o Brasil ainda está ferido com aquela derrota. Não só os jogadores, mas todo o nosso povo", disse o zagueiro Edmílson. "Por mais que eles falem que não, claro que é uma revanche. O time deles está sem Zidane, mas tem a mesma base, e aqueles 3 a 0 estão até hoje engasgados em nossa garganta", acrescentou o volante Vampeta.
"É o jogo mais importante do Brasil nos últimos anos e o mais importante de minha vida", chegou a afirmar o atacante Leandro.
Ciente de que uma nova derrota para a França pode aumentar a pressão sobre seu trabalho, o técnico Leão é a voz dissonante na seleção sobre o caráter épico da partida. Ele já disse que, se a seleção não tivesse cruzado com a França na Copa das Confederações, não teria feito falta e que não via charme algum no confronto.
Apesar de predominar entre os jogadores brasileiros, o desejo de revanche da atual seleção é indireto. O que se quer é vingar os colegas e o país, já que nenhum dos 23 convocados para a Copa das Confederações esteve em campo na final do Mundial da França -os goleiros Dida e Carlos Germano passaram a Copa na reserva.
Pelo lado francês é bem diferente. Há na Coréia do Sul oito jogadores que estiveram no Stade de France na histórica final, sendo que cinco foram titulares (Lebouef, Desailly, Lizarazu, Karembeu e Djorkaeff) e dois entraram durante a partida (Vieira e Dugarry, que, contundido, já voltou à Europa). Dos remanescentes que estão na Copa das Confederações, somente Pires não entrou em campo naquela decisão.
Embora não conte com o seu principal jogador, o meia Zidane, Lemerre, diferentemente de Leão, levou à Ásia não só a base da Copa-98, como pelo menos seis dos atuais titulares da França.
A realidade brasileira é completamente diferente. Primeiro, pela renovação que ocorreu desde então no time: dos titulares em 98, três já se despediram da seleção (Taffarel, Aldair e Dunga, este já aposentado do futebol) e três estão no crepúsculo da carreira (César Sampaio, Leonardo e Bebeto).
Segundo, a equipe do Brasil na Copa das Confederações está desfalcada de suas maiores estrelas, como Romário, Rivaldo, Roberto Carlos e Cafu, que não foram liberados por seus clubes, e Ronaldo, que finaliza sua recuperação de cirurgia no joelho. Dos 23 convocados por Leão, no máximo quatro têm vaga no time A da seleção.
Retrato da mudança, até a liderança no ranking da Fifa, monopolizada nos últimos sete anos pelos brasileiros, mas tomada no mês passado pelos franceses, está em jogo hoje. Quem ganhar pega na final Japão ou Austrália, que se enfrentam na outra semifinal, em Yokohama, cidade que abrigará também a decisão. Se a partida terminar empatada, a vaga será decidida na morte súbita ou, persistindo o empate, nos pênaltis.


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