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Seleção encara carrasco de 98 em semifinal da Copa das Confederações
Contra a França, Brasil hoje é caça
Na Coréia do Sul, jogadores brasileiros falam de revanche e entram em polêmica com o time francês no primeiro confronto desde a derrota no Mundial
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A SEUL
Brasil e França jogam hoje. E o
seguinte diagnóstico para o jogo
foi feito pelo volante francês Vieira: "É a primeira vez na história
que somos favoritos contra o Brasil, mas temos de ignorar isso, pode ser um obstáculo para nós".
A frase, absurda para ouvidos
tetracampeões, pelo menos até a
final da Copa de 1998, dá uma boa
medida da atual realidade do futebol brasileiro. E se para os brasileiros a partida desta manhã serve
até como revanche daquela final,
para os franceses, agora favoritos,
tal hipótese soa descabida.
A polêmica alimentou os dois times à véspera do confronto, hoje,
às 8h (de Brasília), em Suwon, na
Coréia do Sul, válido por semifinal da Copa das Confederações.
Pudera. Será o primeiro França
x Brasil desde 12 de julho de 1998,
quando os anfitriões da Copa do
Mundo derrotaram a seleção brasileira por 3 a 0 e conquistaram
seu primeiro título mundial.
A principal alegação dos franceses é que os times estão diferentes
e que a Copa das Confederações,
torneio criado há pouco tempo
pela Fifa e que nunca empolgou
nem participantes nem torcedores, não pode ser comparada à
Copa do Mundo.
"Jamais é uma revanche. Aquela partida foi disputada há três
anos, com outros jogadores. Além
do mais, não estamos agora numa
final de Mundial", declarou o treinador da França, Roger Lemerre.
"É um clássico entre duas equipes de prestígio, mas não uma revanche", completou o zagueiro
Desailly, capitão e mais experiente entre os jogadores que estão na
Coréia, com 86 jogos.
O racionalismo dos franceses
não convence os brasileiros e escancara a inversão de papéis vivida pelas duas seleções.
"É uma situação diferente, por
outra competição. Mas o Brasil
ainda está ferido com aquela derrota. Não só os jogadores, mas todo o nosso povo", disse o zagueiro Edmílson. "Por mais que eles
falem que não, claro que é uma revanche. O time deles está sem Zidane, mas tem a mesma base, e
aqueles 3 a 0 estão até hoje engasgados em nossa garganta", acrescentou o volante Vampeta.
"É o jogo mais importante do
Brasil nos últimos anos e o mais
importante de minha vida", chegou a afirmar o atacante Leandro.
Ciente de que uma nova derrota
para a França pode aumentar a
pressão sobre seu trabalho, o técnico Leão é a voz dissonante na
seleção sobre o caráter épico da
partida. Ele já disse que, se a seleção não tivesse cruzado com a
França na Copa das Confederações, não teria feito falta e que não
via charme algum no confronto.
Apesar de predominar entre os
jogadores brasileiros, o desejo de
revanche da atual seleção é indireto. O que se quer é vingar os colegas e o país, já que nenhum dos 23
convocados para a Copa das Confederações esteve em campo na final do Mundial da França -os
goleiros Dida e Carlos Germano
passaram a Copa na reserva.
Pelo lado francês é bem diferente. Há na Coréia do Sul oito jogadores que estiveram no Stade de
France na histórica final, sendo
que cinco foram titulares (Lebouef, Desailly, Lizarazu, Karembeu e Djorkaeff) e dois entraram
durante a partida (Vieira e Dugarry, que, contundido, já voltou
à Europa). Dos remanescentes
que estão na Copa das Confederações, somente Pires não entrou
em campo naquela decisão.
Embora não conte com o seu
principal jogador, o meia Zidane,
Lemerre, diferentemente de Leão,
levou à Ásia não só a base da Copa-98, como pelo menos seis dos
atuais titulares da França.
A realidade brasileira é completamente diferente. Primeiro, pela
renovação que ocorreu desde então no time: dos titulares em 98,
três já se despediram da seleção
(Taffarel, Aldair e Dunga, este já
aposentado do futebol) e três estão no crepúsculo da carreira (César Sampaio, Leonardo e Bebeto).
Segundo, a equipe do Brasil na
Copa das Confederações está desfalcada de suas maiores estrelas,
como Romário, Rivaldo, Roberto
Carlos e Cafu, que não foram liberados por seus clubes, e Ronaldo,
que finaliza sua recuperação de
cirurgia no joelho. Dos 23 convocados por Leão, no máximo quatro têm vaga no time A da seleção.
Retrato da mudança, até a liderança no ranking da Fifa, monopolizada nos últimos sete anos pelos brasileiros, mas tomada no
mês passado pelos franceses, está
em jogo hoje. Quem ganhar pega
na final Japão ou Austrália, que se
enfrentam na outra semifinal, em
Yokohama, cidade que abrigará
também a decisão. Se a partida
terminar empatada, a vaga será
decidida na morte súbita ou, persistindo o empate, nos pênaltis.
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