São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002 |
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MELCHIADES FILHO Falta sistema de jogo, e não beque de fazenda
"Prefiro um becão, que chute para onde estiver virado." "O bom zagueiro é o que destrói, e não o que constrói. Atacante ataca, defensor defende." "Se ele joga atrás, deve se preocupar com o que rola lá." "Eles não devem sair jogando. Até porque quem tem técnica para isso não joga na defesa." As opiniões vararam as madrugadas na tela da nave-mãe, inspiradas nas palavras do técnico após a vitória sobre a Turquia. Na Copa, o criativo Scolari definiu, bola pro mato que o jogo é de campeonato. "Gosto de zagueiro-zagueiro. No meu tempo, a gente rebatia a bola para fora. Não fazia firula e não mostrava muita técnica." A declaração não corrompe a trajetória do treinador, assumido defensor do futebol tosco -no seu caso, de eficiência quase ilógica. Mas desautoriza os critérios da formatação do time que ele levou a Ulsan. Lúcio e Roque Júnior, seus zagueiros preferidos, nunca se destacaram pelos bicões. Atrevidos, sabem (ou pensam que sabem) carregar e tocar a bola. Lúcio atraiu o interesse do futebol italiano justamente por brilhar em arrancadas ofensivas no Bayer Leverkusen. Marcou gols nas quartas-de-final e na final da Copa dos Campeões, principal interclubes do mundo. Edmilson e Polga credenciaram-se à terceira vaga pelo passado meio-campista, pela desenvoltura na "saída de jogo". Ao escolhê-los, Scolari, com razão, sabia que, no esquema de três zagueiros, é suicídio tático delegar só ao meio-campo o passe de transição para o ataque. Sem a ajuda da zaga, o time é facilmente anulado. O chutão pra frente (a "ligação direta", no futebolês) serve apenas para municiar o oponente. Não estou comparando Roque Jr. a Luís Pereira, Edmilson a Blanc, Lúcio a Beckenbauer -não dá para compará-los nem a Aldair, Júlio César e Edinho. Mas eles não merecem a fogueira. Pelo menos não desta vez. O time esteve vulnerável na segunda-feira porque o meio-campo atuou desconjuntado, decorrência da indecisão do técnico na reta final de treinos na Coréia (um ou dois volantes?, quem faz as coberturas?). A seleção padece de um problema de sistema, não de firulas. O "vilão" Edmilson, por exemplo, perdeu somente uma bola, diz o Datafolha. No máximo, dá para dizer que, no lance do gol turco, Lúcio desguarneceu o setor antes de passar na fogueira para Juninho, que, desatento, foi desarmado. Mas daí a ter saudades do Cris? melk@uol.com.br Texto Anterior: Soninha: Ver o videoteipe e tentar aprender Próximo Texto: José Roberto Torero: Trocadilhar ou não, eis a questão Índice |
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