São Paulo, quarta-feira, 07 de junho de 2006

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opinião

Os temores de Pelé e os outros favoritos

FRANZ BECKENBAUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

O nervosismo aumenta. Até mesmo o meu velho amigo Pelé, 65, tem dificuldade para controlar os nervos. Ele teme porque os brasileiros são os favoritos do Mundial. E, para Pelé, é comum que os favoritos saiam derrotados. Os brasileiros, porém, vêm conseguindo superar esse obstáculo psicológico. Há quatro anos, também se dizia que Ronaldo jogaria com excesso de peso. Mas ele se tornou o artilheiro do torneio e conduziu o Brasil à conquista do título. E, àquela altura, Ronaldinho ainda não havia sido considerado, com justiça, o melhor do mundo. Ainda assim, compreendo as preocupações de Pelé, porque uma Copa na Europa é mais difícil para os sul-americanos. Mas me alegro pela oportunidade de ver em ação Ronaldinho, Kaká e Robinho, que vão substituindo a velha guarda, em companhia de Roberto Carlos, Cafu e Ronaldo, e tendo aprendido em tempo o ritmo que se joga na Europa. Também me alegra pensar nas 64 partidas da Copa, das quais assistirei a ao menos 48. Voarei de helicóptero para perder o mínimo. Os italianos têm equipe forte, mas talvez se desequilibrem pelo escândalo que abala seu futebol. Os espanhóis parecem ter formado uma seleção estável. Os ingleses apresentarão seu melhor conjunto em anos. E os franceses lutarão até o fim para conquistar vitórias. Não esqueço a Holanda. Van Basten formou uma equipe jovem e forte. Sempre tiveram a capacidade de ganhar o título, desde que evitem se encantar demais com a beleza de seu jogo. A Alemanha precisa ser incluída entre os favoritos. E, para mim, os problemas nos amistosos são mais bom do que mau sinal. Já o futebol asiático evoluiu. Japoneses e sul-coreanos sempre correram mais e agora fizeram grandes progressos táticos. Desta vez, ninguém está falando muito dos africanos. Creio que a Costa do Marfim pode surpreender, especialmente pelo fabuloso Drogba. Mas terá primeiro que superar um grupo que inclui Argentina, Holanda e Sérvia e Montenegro. Quando vejo que o rival da Alemanha nas oitavas-de-final pode ser Inglaterra, Suécia ou Paraguai, percebo que talvez seja difícil chegar entre os oito melhores. Estou certo de que Pelé não teria objeção a uma nova final entre Brasil e Alemanha, mas, certamente, a Argentina e outros times têm opinião diversa. Espero que os 32 países guardem boas recordações da Alemanha e da Copa.


FRANZ BECKENBAUER foi campeão mundial em 1974 como atleta e em 1990 como técnico da Alemanha e hoje é presidente do Comitê Organizador da Copa-06

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