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Pagode atravessa treino de Zico
Fifa e federação japonesa proíbem grupo "abrasileirado" de tocar no estádio onde time treinou
Pagodeiros roubam a
atenção de fotógrafos e jornalistas japoneses e "exigem" intervenção da administração do estádio
RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A BONN
Imagine um pagode na Alemanha. Já imaginou? Agora
imagine um pagode na Alemanha para os japoneses.
Só uma Copa mesmo pode
produzir cenas como a de ontem em Bonn, onde a seleção
japonesa, rival do Brasil na primeira fase do Mundial, faz os
seus preparativos finais para a
estréia contra a Austrália na segunda, em Kaiserslautern.
Um batalhão de fótografos
(claro) e jornalistas japoneses
tiveram que desviar a atenção
de Zico e seus atletas por alguns
minutos (algo impensável) para registrar o animado pagode
no North Sport Park, estádio
onde ocorrem os treinos.
"Parem com isso. Parem. Nós
não gostamos dessa música."
Foi assim que uma colaboradora da Fifa, que não se identificou, mas acompanha a seleção
japonesa, se dirigiu ao grupo
"Hlera do Pagode", que costuma animar as noites em Bonn.
Um mal-estar foi criado porque Mayer Cecilio Mira, 28, um
dos integrantes do grupo, comanda uma lanchonete no estádio. Atendeu aos pedidos para sair da tribuna, mas continuou o pagode, mais animado,
no alto da arquibancada.
""A Fifa e a federação japonesa pedem para vocês não tocarem dessa parede para lá [para
a tribuna]. Aqui [na lanchonete, no alto da arquibancada],
podem", disse o administrador
do estádio, o alemão Horst
Schallenberg, sorrindo com a
batucada e as belas brasileiras.
""Eu já tinha ouvido samba,
mas não em um treinamento",
disse Ryutaro Hiroshige, um
dos muitos jornalistas japoneses que se aglomeraram para
acompanhar o "barulho".
Inicialmente, um jornalista
europeu que gravava o treino
reclamou do pagode. Bastou alguns minutos para ele se juntar
à imprensa japonesa, esquecer
as atividades no gramado e exibir o ritmo brasileiro.
Mayer, que vive há seis anos
na Alemanha, vestia camisa do
Brasil, assim como outros
membros do grupo. Isso assustou Júnior, ex-jogador brasileiro que curte samba e que hoje é
espião da seleção japonesa.
""Não posso me juntar ao pagode porque estou trabalhando, sou um profissional. Sou espião do Japão. Se os japoneses
me vêem com os brasileiros..."
Zico, pelo menos ontem, foi
menos procurado pela mídia
japonesa que Reginaldo Teixeira, 32, o homem do cavaquinho
que puxava os sambas.
E ele avisa que a Copa na região será bem animada para os
brasileiros. "Em Colônia, tem
mais de 2.000 brasileiros.
Quando fazemos nosso Carnaval aqui, na mesma época do
Carnaval do Brasil, uns 5.000
brasileiros se juntam", diz o pagodeiro, que propagandeia o
show "Brazilian Night" com
samba, capoeira e batucada. A
festa nos últimos treinos do Japão, porém, pode ser brecada.
"Me falaram que, depois de hoje [ontem], brasileiros não poderão mais entrar nos treinos
do Japão", disse Reginaldo, na
Alemanha desde os 19 anos.
Além de uma comissão técnica bem brasileira (Zico, Júnior,
Edu e Cantarele), há um paranaense naturalizado japonês, o
lateral-esquerdo Alex Santos.
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