São Paulo, quarta-feira, 07 de junho de 2006

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Pagode atravessa treino de Zico

Fifa e federação japonesa proíbem grupo "abrasileirado" de tocar no estádio onde time treinou

Pagodeiros roubam a atenção de fotógrafos e jornalistas japoneses e "exigem" intervenção da administração do estádio


RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A BONN

Imagine um pagode na Alemanha. Já imaginou? Agora imagine um pagode na Alemanha para os japoneses.
Só uma Copa mesmo pode produzir cenas como a de ontem em Bonn, onde a seleção japonesa, rival do Brasil na primeira fase do Mundial, faz os seus preparativos finais para a estréia contra a Austrália na segunda, em Kaiserslautern.
Um batalhão de fótografos (claro) e jornalistas japoneses tiveram que desviar a atenção de Zico e seus atletas por alguns minutos (algo impensável) para registrar o animado pagode no North Sport Park, estádio onde ocorrem os treinos.
"Parem com isso. Parem. Nós não gostamos dessa música." Foi assim que uma colaboradora da Fifa, que não se identificou, mas acompanha a seleção japonesa, se dirigiu ao grupo "Hlera do Pagode", que costuma animar as noites em Bonn.
Um mal-estar foi criado porque Mayer Cecilio Mira, 28, um dos integrantes do grupo, comanda uma lanchonete no estádio. Atendeu aos pedidos para sair da tribuna, mas continuou o pagode, mais animado, no alto da arquibancada.
""A Fifa e a federação japonesa pedem para vocês não tocarem dessa parede para lá [para a tribuna]. Aqui [na lanchonete, no alto da arquibancada], podem", disse o administrador do estádio, o alemão Horst Schallenberg, sorrindo com a batucada e as belas brasileiras.
""Eu já tinha ouvido samba, mas não em um treinamento", disse Ryutaro Hiroshige, um dos muitos jornalistas japoneses que se aglomeraram para acompanhar o "barulho".
Inicialmente, um jornalista europeu que gravava o treino reclamou do pagode. Bastou alguns minutos para ele se juntar à imprensa japonesa, esquecer as atividades no gramado e exibir o ritmo brasileiro.
Mayer, que vive há seis anos na Alemanha, vestia camisa do Brasil, assim como outros membros do grupo. Isso assustou Júnior, ex-jogador brasileiro que curte samba e que hoje é espião da seleção japonesa.
""Não posso me juntar ao pagode porque estou trabalhando, sou um profissional. Sou espião do Japão. Se os japoneses me vêem com os brasileiros..."
Zico, pelo menos ontem, foi menos procurado pela mídia japonesa que Reginaldo Teixeira, 32, o homem do cavaquinho que puxava os sambas.
E ele avisa que a Copa na região será bem animada para os brasileiros. "Em Colônia, tem mais de 2.000 brasileiros. Quando fazemos nosso Carnaval aqui, na mesma época do Carnaval do Brasil, uns 5.000 brasileiros se juntam", diz o pagodeiro, que propagandeia o show "Brazilian Night" com samba, capoeira e batucada. A festa nos últimos treinos do Japão, porém, pode ser brecada. "Me falaram que, depois de hoje [ontem], brasileiros não poderão mais entrar nos treinos do Japão", disse Reginaldo, na Alemanha desde os 19 anos.
Além de uma comissão técnica bem brasileira (Zico, Júnior, Edu e Cantarele), há um paranaense naturalizado japonês, o lateral-esquerdo Alex Santos.


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