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O rosto da seleção
ALBERTO HELENA JR.
Tenho um amigo tão atarefado que junta os jornais da
semana inteira para devorá-los,
um a um, nas manhãs de domingo. É para ele -e outros tantos
que se utilizam desse artifício para recuperar o tempo perdido no
trânsito insuportável das nossas
grandes cidades- que envio estas mal traçadas, um balanço da
semana da seleção.
Lembro-me de que, pouco antes
de embarcar para cá, no seu programa da Manchete, Salomão
Schwartzman pediu-me uma
mensagem final. Foi quase uma
prece: Zagallo, treine esse time,
treine, treine, treine. E treine.
Claro, pois, se temos uma constelação de craques de brilho tão
intenso a ponto de cegar qualquer outro concorrente, só o que
nos falta é conjunto.
Logo, se treinarmos devidamente, intensamente, corretamente, vamos pular na dianteira
dos demais adversários, com vários corpos de vantagem, na corrida em direção à taça.
Pois não treinamos nem devidamente, nem intensamente,
tampouco corretamente. Nossos
exercícios com bola foram poucos
-em relação ao tempo disponível e ao tempo necessário- e mal
orientados.
Para se ter uma idéia, fizemos
apenas dois coletivos e só na manhã de sexta-feira tentamos executar algumas repetições de jogadas ensaiadas.
Em contrapartida, tivemos
aquele patético espetáculo do jogo-treino contra Andorra -o das
placas da Traffic- e aquela armação da Nike, que nos comeram
dois dias de inteiro ócio.
Neste caso específico -o do jogo dos negócios-, quero adiantar o seguinte: ninguém antes de
mim, tampouco, depois, com
mais ardor, defendeu tanto a
transformação do futebol brasileiro numa grande empresa de
entretenimento de massa. Que
me perdoem os duros, mas dinheiro é fundamental, diria o
poetinha se ainda estivesse entre
nós.
Mas parece que conseguimos,
neste caso, nos identificar apenas
com o lado mercantilista, predatório, do negócio. A face que começa a dar contorno a esta seleção sem rosto, como bem cunhou
esta Folha dias atrás.
Só espero que nossos craques
consigam resgatar a face lúdica e
cristalina, do futebol das nossas
esperanças.
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