São Paulo, domingo, 7 de junho de 1998

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A Copa em Paris

JUCA KFOURI
Paris anda valendo não apenas uma, mas duas missas.
Desde que a França foi escolhida para ser a sede desta Copa do Mundo uma dúvida me assaltava, um sentimento confuso entre a alegria de ver uma Copa em Paris e a pena de imaginar que a cidade não merecia tamanha confusão.
Não foi o caso de Madri nem da Cidade do México (muito ao contrário, aliás) nem mesmo de Roma ou de Washington, todas, menos a última de certa forma, talhadas para a festa, e a bagunça, do futebol.
Mas Paris...
Pois bem. Ao ir buscar a polêmica credencial a que tinha direito, pude provar o que é um congestionamento de trânsito na capital francesa.
A irritação do parisiense não é menor que a do paulista e tem requintes não encontrados na paulicéia desvairada.
Motoqueiros passam esmurrando seu carro se o espaço entre este e o do próximo não é suficiente para que passe com seu bólido.
Batidas na traseira eu vi duas, só na via periférica externa, em 30 km que envolvem a cidade e que percorri em uma hora e 20 minutos, fruto de uma bobeada ao perder a entrada da auto-estrada. A maior diferença entre um congestionamento em Paris e um em São Paulo, no entanto, não é pequena: a poluição dos automóveis é muito menor, provavelmente por medidas eficazes de fiscalização.
Outra diferença nada desprezível, é claro, é que ficar parado vendo uma parte da torre Eiffel, ou do Arco do Triunfo, ou ainda da ponta da pirâmide do Louvre é bem mais agradável que sofrer no Minhocão sobre a avenida São João.
Paris com greve de metrô é algo muito próximo do inferno descrito por Júlio Cortazar em seu "Week-End em Paris", algo que supus só ser possível na literatura fantástica latino-americana.
Menos mal que nas quase três horas que levei para fazer um trajeto que deveria levar 40 minutos pude percorrê-los com a credencial devidamente pendurada no pescoço, documento que obtive em pouco mais de cinco minutos e sem um sofrimento.
Mas, sei não, algo me diz que Paris não merecia mesmo nem se preparou para abrigar a grande festa, e bagunça, do futebol.



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