São Paulo, domingo, 7 de junho de 1998

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Desarranjo é o fator dominante

JANIO DE FREITAS
Um episódio simples resume a perplexidade dos jornalistas brasileiros que, na França, se sentem divididos entre a convicção e a evidência.
Ou seja, sabem que o time em si, embora não possa empolgar quem quer que seja, dá para ir à final, inclusive porque nenhum outro, até agora, se mostrou assustador mesmo.
A essa convicção junte-se ainda o desejo, consciente ou não, de não parecer do contra aos olhos do leitor supostamente embriagado de esperanças na seleção.
Mas, pararela à convicção e a seu apêndice, persiste a evidência de que o desarranjo é o fator predominante na seleção. E não há como deixar de retratá-lo.
Foi assim que na sexta-feira, em consideração ao aparente esforço da delegação para dar certo jeito na casa, a pesada infantaria da Folha - aqueles repórteres e comentaristas que ficam grudados a cada gesto e a cada som da seleção -decidiu, em comum, refletir no seu trabalho a confiança nas novas disposições de jogadores e comissão técnica.
Os fatos dispunham-se, enfim, a corresponder à convicção e a seu apêndice.
Mas não em medida capaz de ultrapassar pelo menos o primeiro teste.
Acabado o treino, Edmundo fez entre suas qualidades e as de Bebeto as comparações já conhecidas. Nenhuma restrição, de minha parte, quanto à sua melhor forma, com larga sobra, para ser titular em vez do atual preferido por Zagallo.
O conteúdo da comparação não altera, porém, seu poder de demonstrar que a arrumação da casa era apenas retórica, uma espécie de promessa de campanha peessedebista. A infantaria teve que reconsiderar a estratégia definida no meio do dia e voltar à trincheira com o armamento outra vez engatilhado, a contragosto embora.
A resposta do técnico Zagallo ao episódio, ou à sequência de episódios semelhantes, não melhora a visão que dele se esteja fazendo.
A preferência por desligar um jogador sem mais direito a substituí-lo, caso seja personagem de novo quiproquó, é, para quem deve exercer um comando, o reconhecimento de que não consegue exercê-lo. E, para um técnico, é desfazer-se de uma solução ou de uma alternativa que pode muito bem, logo adiante, mostrar-se desesperadoramente necessária.
A resposta de Zagallo deveria ser a urgente conciliação de suas condições de técnico, ou planejador tático, e de comando, ou líder dos que lhe cabe orientar.
Bem, é verdade que tal conciliação depende de uma etapa anterior, que é o exercício pleno, ainda por ser visto, do que se espera de um treinador de seleção brasileira.
O que será avaliado, mais uma vez e talvez em definitivo, no treino final de hoje.
Ainda bem que, se o Zagallo se permite dispensar alternativas, o domingo reserva uma para os que voltem a se exasperar, caso o treino lhes pareça outro mau prenúncio.
Também hoje há F-1, que está com vários Zagallos, Dungas e Cafus, mas, além do espetáculo proporcionado pelas belas McLarens do arrojado Mika Hakkinen e do clássico David Coulthard, a Williamns vem com um carro muito renovado e afinal dá esperanças ao rombudo campeão Jacques Villeneuve. É provável que haja espetáculo.
E, se não houver para o telespectador brasileiro, haverá, desculpem a imodéstia, para os que está na Europa: hoje também é dia de Le Mans.



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