|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Desarranjo é o fator dominante
JANIO DE FREITAS
Um episódio simples resume a
perplexidade dos jornalistas
brasileiros que, na França, se sentem divididos entre a convicção e
a evidência.
Ou seja, sabem que o time em si,
embora não possa empolgar
quem quer que seja, dá para ir à
final, inclusive porque nenhum
outro, até agora, se mostrou assustador mesmo.
A essa convicção junte-se ainda
o desejo, consciente ou não, de
não parecer do contra aos olhos
do leitor supostamente embriagado de esperanças na seleção.
Mas, pararela à convicção e a
seu apêndice, persiste a evidência
de que o desarranjo é o fator predominante na seleção. E não há
como deixar de retratá-lo.
Foi assim que na sexta-feira,
em consideração ao aparente esforço da delegação para dar certo
jeito na casa, a pesada infantaria
da Folha - aqueles repórteres e
comentaristas que ficam grudados a cada gesto e a cada som da
seleção -decidiu, em comum, refletir no seu trabalho a confiança
nas novas disposições de jogadores e comissão técnica.
Os fatos dispunham-se, enfim, a
corresponder à convicção e a seu
apêndice.
Mas não em medida capaz de
ultrapassar pelo menos o primeiro teste.
Acabado o treino, Edmundo fez
entre suas qualidades e as de Bebeto as comparações já conhecidas. Nenhuma restrição, de minha parte, quanto à sua melhor
forma, com larga sobra, para ser
titular em vez do atual preferido
por Zagallo.
O conteúdo da comparação não
altera, porém, seu poder de demonstrar que a arrumação da
casa era apenas retórica, uma espécie de promessa de campanha
peessedebista. A infantaria teve
que reconsiderar a estratégia definida no meio do dia e voltar à
trincheira com o armamento outra vez engatilhado, a contragosto embora.
A resposta do técnico Zagallo
ao episódio, ou à sequência de
episódios semelhantes, não melhora a visão que dele se esteja
fazendo.
A preferência por desligar um
jogador sem mais direito a substituí-lo, caso seja personagem de
novo quiproquó, é, para quem
deve exercer um comando, o reconhecimento de que não consegue exercê-lo. E, para um técnico,
é desfazer-se de uma solução ou
de uma alternativa que pode
muito bem, logo adiante, mostrar-se desesperadoramente necessária.
A resposta de Zagallo deveria
ser a urgente conciliação de suas
condições de técnico, ou planejador tático, e de comando, ou líder
dos que lhe cabe orientar.
Bem, é verdade que tal conciliação depende de uma etapa anterior, que é o exercício pleno, ainda por ser visto, do que se espera
de um treinador de seleção brasileira.
O que será avaliado, mais uma
vez e talvez em definitivo, no treino final de hoje.
Ainda bem que, se o Zagallo se
permite dispensar alternativas, o
domingo reserva uma para os
que voltem a se exasperar, caso o
treino lhes pareça outro mau prenúncio.
Também hoje há F-1, que está
com vários Zagallos, Dungas e
Cafus, mas, além do espetáculo
proporcionado pelas belas McLarens do arrojado Mika Hakkinen
e do clássico David Coulthard, a
Williamns vem com um carro
muito renovado e afinal dá esperanças ao rombudo campeão Jacques Villeneuve. É provável que
haja espetáculo.
E, se não houver para o telespectador brasileiro, haverá, desculpem a imodéstia, para os que
está na Europa: hoje também é
dia de Le Mans.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|