São Paulo, domingo, 7 de junho de 1998

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País gasta US$ 2,5 milhões na divulgação do produto na Copa e faz duelo ferrenho com Colômbia
Brasil luta na França por troféu de café

RODRIGO BERTOLOTTO
enviado especial a Saint-Étienne

Apesar de estarem em grupos diferentes na Copa, o Brasil terá um embate especial contra a Colômbia na França. Mas o alvo não são os torcedores e sim os consumidores de café europeus.
O Brasil, porém, entra como azarão, já que até os jogadores da seleção colombiana são associados à bebida, apelidados de "los cafeteros" (em português, algo como "os cafeeiros").
Com uma estratégia de marketing de US$ 2,5 milhões, o Café do Brasil volta a estar em uma Copa depois de ter se ausentado nas duas últimas edições.
"Esta Copa é imperdível. É uma grande reintrodução no cenário mundial, já que desde 1990, quando foi extinto o IBC (Instituto Nacional de Café), não há uma campanha internacional", afirma Rui Queiroz, presidente da Comissão Nacional do Café.
A estatal IBC associou durante as décadas de 60, 70 e 80 o café brasileira aos esportistas do país.
Na era Pelé, as excursões pela Europa eram utilizadas para a divulgação do produto. Nos 70, foi a vez do piloto de F-1 Emerson Fittipaldi. Mas a Copa de 1982, na Espanha, foi o momento de maior promoção. A camiseta de treino do Brasil tinha o nome Café do Brasil escrito sob um ramo do produto. Mas a Fifa, entidade que controla o futebol mundial, proibiu a inscrição no uniforme.
Foi dado um "jeitinho", e o desenho do ramo de café acabou dentro do emblema da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Desta vez, a campanha inclui placas publicitárias à beira dos gramados dos amistosos da seleção, com um estande na exposição "É tempo de Brasil", no museu do Louvre, com sete pontos de degustação em restaurantes da capital francesa e com propaganda nos canais esportivos da França.
Esse esquema consumirá 25% da verba para o marketing internacional, US$ 10 milhões no ano, que são retirados do Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira), formado por recursos provindos de um imposto sobre o produto exportado.
São números baixos em comparação aos colombianos: US$ 40 milhões pela divulgação mundial. Desses, US$ 30 milhões vão para eventos esportivos. O curioso é que a seleção colombiana de futebol não é a prioridade. O forte está nos esportes de elite e de inverno.
O logotipo do Café da Colômbia, no qual que aparecem o mascotes Juan Valdez e sua mula Lana, estão presentes nos torneios de tênis Aberto dos EUA, Aberto do Canadá, Aberto de Madri e em Roland Garros, que deve terminar hoje.
No ano passado, o tenista brasileiro Gustavo Kuerten ergueu a taça de Roland Garros com a propaganda colombiana atrás dele.
Além disso, o Café da Colômbia patrocina a Copa Mundial de esqui, a regata Le Havre-Cartagena (chamada de "Rota do Café") e o campeonato norte-americano de esqui aquático. Afinal, os países de clima temperado, como EUA, Japão e Alemanha, são os principais consumidores da bebida.
Outro gol colombiano: a Air France, transportadora oficial da Copa, tem contrato de exclusividade com o Café da Colômbia.
A luta principal entre Brasil e Colômbia é pelo mercado de cafés finos, cuja demanda cresce 5% ao ano no mundo, enquanto o do café normal está estagnado.
Os colombianos, com base em uma publicidade intensa, ocupam 30% desse segmento. O Brasil detém apenas 1% dele, apesar de ser o maior produtor mundial de café.
Há ainda dois países presentes na Copa que são coadjuvantes tanto no café quanto em campo: o México (quarto maior produtor) e a Jamaica (vice-líder no mercado de cafés finos).



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