São Paulo, Segunda-feira, 07 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Holanda, Corinthians e a pelada do Maracanã

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas Corinthians 4 x 0 São Paulo. Por essa nem os operadores de bola de cristal esperavam.
Tudo bem que o placar não corresponde ao que aconteceu em campo (um jogo muito mais equilibrado), que o juiz ajudou o Corinthians no primeiro gol (ao não marcar falta de Marcelinho) e que Rogério ajudou no segundo.
Mas quem vai negar que uma goleada como essa empurra o alvinegro com força rumo ao título?
O curioso é que o primeiro gol corintiano saiu quando o São Paulo era mais organizado e objetivo, e o segundo quando o tricolor acuava o Corinthians em seu campo.
Depois, as modificações promovidas pelo sempre ousado Carpegiani parecem ter deixado o time perdido e sem ímpeto, dando margem ao domínio alvinegro, numa tarde inspirada de Ricardinho e Edilson.

Pelo pouco que pude ver de Vasco 2 x 0 Flamengo, o Maracanã lotado presenciou uma autêntica pelada. O campo parecia um charco, os jogadores davam voadoras nos adversários, os goleiros não enxergavam nada. Houve invasão de campo antes, durante e depois da partida. No meio do caos encharcado, brilhou a estrela de Edmundo, eterno filho pródigo do Vasco.

Mesmo sem treinar e sofrendo efeitos da ressaca de vatapá e cerveja, a Holanda deu um show de bola no segundo tempo da partida contra o Brasil, sábado em Salvador.
Brasil e Holanda são, sem nenhuma dúvida, os países mais bem servidos de craques do mundo. A diferença, talvez, está na maior inteligência tática deles, ou na ênfase que dão a esse fundamento tão simples e tão desprezado pelos brasileiros, que é o passe.
Basta pensar nas inúmeras vezes que Rivaldo, Juninho, Giovanni e Leonardo -todos craques indiscutíveis- perderam a bola por insistir em retê-la, em vez de servi-la a um companheiro. Os holandeses raramente cometem esse tipo de erro. Outra coisa que sempre impressiona na Holanda é a tranquilidade e a categoria de seus jogadores de defesa, que quase nunca dão chutões para cima -"trabalho sujo" reservado eventualmente para o goleiro Van Der Sar, que atua como uma espécie de "beque de espera".
Isso não é fruto de nenhum gene especial holandês, mas simplesmente de um bom posicionamento, aliado a boa técnica e frieza de raciocínio. Técnica temos de sobra. O resto precisamos aprender.
O segundo gol do Brasil (de Giovanni) e o segundo da Holanda (de Van Vossen) foram muito bonitos, mas a jogada mais espetacular do jogo, aquela que merece entrar para as antologias, foi a do gol perdido pelo artilheiro Van Nistelrooy no segundo tempo.
Depois de driblar dois zagueiros e o goleiro Dida, atravessando a pequena área horizontalmente, ele quis concluir de calcanhar diante do gol vazio e tropeçou bisonhamente em si mesmo. Para concluir o show, o craque cobriu a cabeça com a camiseta, como que confessando sua vergonha. Se fosse numa Copa do Mundo, ele seria crucificado. Mas, num amistoso festivo como aquele, uma maluquice dessas é bem vinda.
E amanhã tem mais.


José Geraldo Couto escreve às segundas e aos sábados


Texto Anterior: Campeã, Graf ressuscita John McEnroe
Próximo Texto: Futebol: Corinthians agradece a onda de mistério
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.