São Paulo, sábado, 07 de julho de 2001

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FUTEBOL

América desvairada

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

No espaço de uma semana, a Copa América foi: a) suspensa indefinidamente; b) transferida para a região Sul do Brasil; c) mantida na Colômbia, mas adiada para 2002; d) mantida na Colômbia, com início na semana que vem.
Não, não se trata de um teste de múltipla escolha. Todas as alternativas são corretas. A última delas, até segunda ordem, é a que está valendo.
Até outro dia, a Colômbia era um território turbulento e perigoso, com sequestros e atos terroristas acontecendo a torto e a direito. De repente, graças ao lobby da Traffic e da Rede Globo, decidiu-se que o país de García Márquez é uma ilha de tranqüilidade, sem riscos para atletas, dirigentes e torcedores.
Dá para levar a sério um evento definido assim, ainda mais em ano de eliminatórias?
Com a Argentina (sabiamente) fora e o Brasil caindo pelas tabelas, será um reles torneio caça-níqueis.
Tem razão Oswaldo de Oliveira: a bagunça já não é privilégio do futebol brasileiro. Está se espalhando como uma epidemia pelo mundo todo. Nem a CBF e o Clube dos 13 juntos seriam capazes de tamanho amadorismo, venalidade, improvisação e falta de responsabilidade.
Pensando bem, acho que seriam, sim. Basta ver o esdrúxulo calendário que essas entidades, com seus parceiros governamentais e televisivos, tiraram do bolso do colete e apresentaram como se fosse algo pensado e amadurecido longamente.
Pelo menos nos casos de São Paulo e Rio, que conheço melhor, o esfacelamento dos Estaduais deverá ser desastroso para os clubes menores -que terão poucas chances de se defrontar com os "grandes" e ganhar mais visibilidade- e também para os próprios "grandes", que correm o risco de ficar longos meses sem disputar competições.
A criação de um monstrengo chamado "supercampeonato" e o inchaço da cambaleante Copa dos Campeões parecem responder mais a interesses comerciais e politiqueiros do que ao desejo de fortalecer o futebol no país.
Sobre a convocação de Felipão para a malfadada Copa América, há alguns fatos animadores, outros nem tanto.
De positivo, a convocação de Juninho Pernambucano e de Denílson. O primeiro pode melhorar a qualidade da ligação da defesa com o ataque.
Já a lembrança de Denílson é menos importante pelo jogador em si do que pela determinação revelada por Scolari de contar com atacantes que atuam abertos, como Geovanni, Ewerthon e Denílson, ao lado de outros "de área", como Élber e Jardel.
O problema, no caso de Denílson, é o fato de só atuar pela esquerda, quase como um ponta fixo, o que facilita a marcação.
Mais do que da escolha do esquema (4-4-2), é da escalação do meio-de-campo que vai depender o futebol da seleção. O mais provável é que Felipão opte por dois volantes essencialmente marcadores (Mauro Silva e Emerson) e dois meias mais ofensivos (os dois Juninhos juntos, ou um deles e Alex).
Temo que se repita o "buraco" no meio, entre volantes e meias. Para diminuí-lo, talvez seja conveniente escalar um volante não tão defensivo (Rochemback) e um meia não só ofensivo (Juninho Pernambucano).

Fino da bola
Flamengo e São Paulo devem fazer uma bela final da Copa dos Campeões a partir de amanhã. Não somente pelos bons resultados que obtiveram até aqui, mas principalmente pelo futebol vistoso que os dois times têm apresentado. Nestes tempos de caneladas e bicões, dá gosto ver Petkovic, Edílson, Gamarra, França, Luís Fabiano e Souza, entre outros, tratando a bola com carinho e inteligência.

Direitos e obrigações
Rogério enfrenta até na Justiça a diretoria do São Paulo pelo aumento que lhe foi prometido. Em campo, com a camisa tricolor, continua "dando o sangue" e mostrando a competência de sempre. É um exemplo de profissionalismo raro no futebol brasileiro, em que os jogadores ou são vaquinhas de presépio ou, quando insatisfeitos, fazem corpo mole, num desrespeito ao torcedor e ao seu próprio ofício.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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