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FUTEBOL
América desvairada
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
No espaço de uma semana, a Copa América foi: a)
suspensa indefinidamente; b)
transferida para a região Sul do
Brasil; c) mantida na Colômbia,
mas adiada para 2002; d) mantida na Colômbia, com início na
semana que vem.
Não, não se trata de um teste
de múltipla escolha. Todas as alternativas são corretas. A última delas, até segunda ordem, é
a que está valendo.
Até outro dia, a Colômbia era
um território turbulento e perigoso, com sequestros e atos terroristas acontecendo a torto e a
direito. De repente, graças ao
lobby da Traffic e da Rede Globo, decidiu-se que o país de García Márquez é uma ilha de tranqüilidade, sem riscos para atletas, dirigentes e torcedores.
Dá para levar a sério um evento definido assim, ainda mais
em ano de eliminatórias?
Com a Argentina (sabiamente) fora e o Brasil caindo pelas
tabelas, será um reles torneio
caça-níqueis.
Tem razão Oswaldo de Oliveira: a bagunça já não é privilégio
do futebol brasileiro. Está se espalhando como uma epidemia
pelo mundo todo. Nem a CBF e
o Clube dos 13 juntos seriam capazes de tamanho amadorismo,
venalidade, improvisação e falta de responsabilidade.
Pensando bem, acho que seriam, sim. Basta ver o esdrúxulo
calendário que essas entidades,
com seus parceiros governamentais e televisivos, tiraram do
bolso do colete e apresentaram
como se fosse algo pensado e
amadurecido longamente.
Pelo menos nos casos de São
Paulo e Rio, que conheço melhor, o esfacelamento dos Estaduais deverá ser desastroso para
os clubes menores -que terão
poucas chances de se defrontar
com os "grandes" e ganhar mais
visibilidade- e também para
os próprios "grandes", que correm o risco de ficar longos meses
sem disputar competições.
A criação de um monstrengo
chamado "supercampeonato" e
o inchaço da cambaleante Copa
dos Campeões parecem responder mais a interesses comerciais
e politiqueiros do que ao desejo
de fortalecer o futebol no país.
Sobre a convocação de Felipão
para a malfadada Copa América, há alguns fatos animadores,
outros nem tanto.
De positivo, a convocação de
Juninho Pernambucano e de
Denílson. O primeiro pode melhorar a qualidade da ligação
da defesa com o ataque.
Já a lembrança de Denílson é
menos importante pelo jogador
em si do que pela determinação
revelada por Scolari de contar
com atacantes que atuam abertos, como Geovanni, Ewerthon e
Denílson, ao lado de outros "de
área", como Élber e Jardel.
O problema, no caso de Denílson, é o fato de só atuar pela esquerda, quase como um ponta
fixo, o que facilita a marcação.
Mais do que da escolha do esquema (4-4-2), é da escalação
do meio-de-campo que vai depender o futebol da seleção. O
mais provável é que Felipão opte por dois volantes essencialmente marcadores (Mauro Silva e Emerson) e dois meias mais
ofensivos (os dois Juninhos juntos, ou um deles e Alex).
Temo que se repita o "buraco"
no meio, entre volantes e meias.
Para diminuí-lo, talvez seja
conveniente escalar um volante
não tão defensivo (Rochemback) e um meia não só ofensivo
(Juninho Pernambucano).
Fino da bola
Flamengo e São Paulo devem fazer uma bela final da Copa dos
Campeões a partir de amanhã. Não somente pelos bons resultados que obtiveram até aqui, mas principalmente pelo futebol
vistoso que os dois times têm apresentado. Nestes tempos de
caneladas e bicões, dá gosto ver Petkovic, Edílson, Gamarra,
França, Luís Fabiano e Souza, entre outros, tratando a bola com
carinho e inteligência.
Direitos e obrigações
Rogério enfrenta até na Justiça a diretoria do São Paulo pelo aumento que lhe foi prometido. Em campo, com a camisa tricolor,
continua "dando o sangue" e mostrando a competência de
sempre. É um exemplo de profissionalismo raro no futebol brasileiro, em que os jogadores ou são vaquinhas de presépio ou,
quando insatisfeitos, fazem corpo mole, num desrespeito ao
torcedor e ao seu próprio ofício.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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