São Paulo, quarta-feira, 07 de julho de 2004

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TÊNIS

Yuri, o verdadeiro campeão

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Os olhares estavam quase todos nas pernas de Maria Sharapova (fruto de muitos exercícios físicos debaixo do sol inclemente na Flórida) ou nos seus devastadores golpes de backhand (no início da carreira, a russa tinha como braço forte o esquerdo).
Quando muito, a atenção se desviava para os grunhidos dela (que muitos consideram sexy) ou, no limite, para seu segundo saque, aparentemente menos ofensivo que o de algumas rivais, mas, no fundo, muito mais eficiente (e desferido sem medo de erro).
Do jeito que anda o tênis feminino, porém, os olhares e as atenções deveriam estar na arquibancada, mais precisamente no pai da nova campeã, o discreto senhor Yuri Sharapov. É ele, agora, o dono do show, como foram um dia dona Melanie Molitor, mãe de Martina Hingis, e mister Richard Williams, pai de Venus e Serena Williams.
A senhora Molitor já trabalhava no "projeto tenista-campeã" antes mesmo de gerar a filha. Tanto que, ao ver o bebê, deu-lhe o nome de uma vencedora nas quadras. O senhor Williams só pensou em projeto semelhante quando já tinha três filhas. Mas nem isso foi problema: gerou mais duas só para torná-las campeãs.
O senhor Yuri fez, a seu modo, a mesma coisa. No fim do mundo, na distante Sibéria, decidiu fazer da filha uma campeã, uma máquina de ganhar títulos e dinheiro. Não hesitou em afastá-la ainda criança da mãe, do país natal, da vida "normal".
Na última sexta, Masha, como é chamada em família, sofreu com uma irritante e chata inflamação na garganta. Chegou a chorar, consta. A mãe não estava por perto. O senhor Yuri, porém, só tinha olhos para a partida do dia seguinte, na qual definitivamente conquistaria o objetivo que (ele, claro) perseguiu por longos anos.
Nestes dias em que aprecia a nova vida, de milionário, ele deve estar radiante e excitado, entre outras coisas, com uma frase de um agente de marketing esportivo: "O esporte feminino estava procurando uma figura como esta havia anos. E então ela apareceu do nada. Maria terá uma enorme capacidade de gerar dinheiro. Ela é uma Anna Kournikova, mas com um talento real e muito mais. Sharapova será a Britney Spears do tênis. Ela vai gerar uma demanda enorme, de roupas a produtos cosméticos. O céu é o limite para essa garota".
Yuri pode agora se dar ao luxo de escolher entre tantos planos e formas de ganhar dinheiro. Mas tem uma tarefa daqui por diante: continuar obrigando sua filha a jogar tênis (e bem, com gosto, com vontade, com resultados).
Foi aí que fracassaram Melani e, ao que parece, Richard. Talvez porque eles não soubessem que suas filhas tinham outros desejos na vida, uma vida tranqüila em um sítio, com seus cavalos e os amigos, como Martina Hingis, uma universidade e uma vontade imensa de ser designer, como Venus Williams, ou de tentar a vida de atriz, como Serena Williams.
Portanto, agora que o senhor Yuri Sharapov realizou seu sonho e tudo pode, deveria fazer como um pai normal: perguntar à filha qual é o sonho dela.

Em São Paulo
Dirigidas por Andréa Vieira, Maria Fernanda Alves, Carla Tiene, Letícia Sobral, Bruna Colósio e Larissa Carvalho (convidada) encaram, no sábado e no domingo, no Paineiras do Morumby, a Croácia, em confronto que vale vaga no playoff do Grupo Mundial da Fed Cup.

Em Brasília
O Distrito Federal conquistou no sábado o título do Brasileiro Interfederações. Nesta semana, a Academia de Tênis recebe o Brasileiro infanto-juvenil, com 850 atletas nas categorias 10, 12, 14, 16 e 18 anos.

Em Caracas
Diego Cubas, Bruno Rosa, Caio Zampieri e Thomaz Bellucci. Alguém terá coragem de torcer contra, de novo, na Copa Davis?

E-mail reandaku@uol.com.br

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