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TÊNIS
Yuri, o verdadeiro campeão
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Os olhares estavam quase
todos nas pernas de Maria
Sharapova (fruto de muitos exercícios físicos debaixo do sol inclemente na Flórida) ou nos seus devastadores golpes de backhand
(no início da carreira, a russa tinha como braço forte o esquerdo).
Quando muito, a atenção se
desviava para os grunhidos dela
(que muitos consideram sexy) ou,
no limite, para seu segundo saque, aparentemente menos ofensivo que o de algumas rivais, mas,
no fundo, muito mais eficiente (e
desferido sem medo de erro).
Do jeito que anda o tênis feminino, porém, os olhares e as atenções deveriam estar na arquibancada, mais precisamente no pai
da nova campeã, o discreto senhor Yuri Sharapov. É ele, agora,
o dono do show, como foram um
dia dona Melanie Molitor, mãe
de Martina Hingis, e mister Richard Williams, pai de Venus e
Serena Williams.
A senhora Molitor já trabalhava no "projeto tenista-campeã"
antes mesmo de gerar a filha.
Tanto que, ao ver o bebê, deu-lhe
o nome de uma vencedora nas
quadras. O senhor Williams só
pensou em projeto semelhante
quando já tinha três filhas. Mas
nem isso foi problema: gerou mais
duas só para torná-las campeãs.
O senhor Yuri fez, a seu modo, a
mesma coisa. No fim do mundo,
na distante Sibéria, decidiu fazer
da filha uma campeã, uma máquina de ganhar títulos e dinheiro. Não hesitou em afastá-la ainda criança da mãe, do país natal,
da vida "normal".
Na última sexta, Masha, como é
chamada em família, sofreu com
uma irritante e chata inflamação
na garganta. Chegou a chorar,
consta. A mãe não estava por perto. O senhor Yuri, porém, só tinha
olhos para a partida do dia seguinte, na qual definitivamente
conquistaria o objetivo que (ele,
claro) perseguiu por longos anos.
Nestes dias em que aprecia a
nova vida, de milionário, ele deve
estar radiante e excitado, entre
outras coisas, com uma frase de
um agente de marketing esportivo: "O esporte feminino estava
procurando uma figura como esta havia anos. E então ela apareceu do nada. Maria terá uma
enorme capacidade de gerar dinheiro. Ela é uma Anna Kournikova, mas com um talento real e
muito mais. Sharapova será a
Britney Spears do tênis. Ela vai
gerar uma demanda enorme, de
roupas a produtos cosméticos. O
céu é o limite para essa garota".
Yuri pode agora se dar ao luxo
de escolher entre tantos planos e
formas de ganhar dinheiro. Mas
tem uma tarefa daqui por diante:
continuar obrigando sua filha a
jogar tênis (e bem, com gosto, com
vontade, com resultados).
Foi aí que fracassaram Melani
e, ao que parece, Richard. Talvez
porque eles não soubessem que
suas filhas tinham outros desejos
na vida, uma vida tranqüila em
um sítio, com seus cavalos e os
amigos, como Martina Hingis,
uma universidade e uma vontade
imensa de ser designer, como Venus Williams, ou de tentar a vida
de atriz, como Serena Williams.
Portanto, agora que o senhor
Yuri Sharapov realizou seu sonho
e tudo pode, deveria fazer como
um pai normal: perguntar à filha
qual é o sonho dela.
Em São Paulo
Dirigidas por Andréa Vieira, Maria Fernanda Alves, Carla Tiene, Letícia Sobral, Bruna Colósio e Larissa Carvalho (convidada) encaram,
no sábado e no domingo, no Paineiras do Morumby, a Croácia, em
confronto que vale vaga no playoff do Grupo Mundial da Fed Cup.
Em Brasília
O Distrito Federal conquistou no sábado o título do Brasileiro Interfederações. Nesta semana, a Academia de Tênis recebe o Brasileiro
infanto-juvenil, com 850 atletas nas categorias 10, 12, 14, 16 e 18 anos.
Em Caracas
Diego Cubas, Bruno Rosa, Caio Zampieri e Thomaz Bellucci. Alguém terá coragem de torcer contra, de novo, na Copa Davis?
E-mail reandaku@uol.com.br
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