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FUTEBOL
Análise operatória
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
O time reserva do Brasil que
vai disputar a Copa América tem bons jogadores em todas
as posições. A maior parte dos
atletas estava de férias e não se
preparou bem para a competição.
As outras seleções também estão
desfalcadas. A equipe brasileira é
uma das favoritas, mas terá dificuldades individuais e coletivas.
Nos dois times em que se destacou, Atlético-MG e Roma, Mancini atuava de ala ou meia-direita.
Ala não é um lateral que apóia
mais do que o habitual. Mancini
poderia também ser aproveitado
na posição de ala, em algumas situações, mas Parreira não gosta
de variações táticas. Gustavo
Nery terá a mesma dificuldade.
Ele é melhor na função de ala ou
meia-esquerda, onde aproveita
mais a sua excelente finalização.
Edu sempre foi um volante. Ele
marca e passa bem, porém não
avança como um meia, como teria de fazer no esquema da seleção. Não é a sua característica.
Alex possui um extraordinário
talento, mas tem pouca mobilidade. Como Edu vai ficar mais
atrás, e os dois atacantes (Luis
Fabiano e Adriano) não recuam
para armar, Alex poderá ficar sobrecarregado e ser muito marcado. Há riscos de a seleção ficar
lenta do meio para a frente.
A presença de dois típicos centroavantes tem também as suas
vantagens. Quando a seleção
pressionar, o rival ficar muito recuado e houver muitos cruzamentos da linha de fundo, dois
ótimos finalizadores são melhores
do que um. O time vai ficar ainda
muito melhor do que o titular nas
jogadas aéreas, ainda mais com
os excepcionais lançamentos do
Alex nas bolas paradas. Essa é
uma importante qualidade.
Para iniciar a partida, seria melhor ter dois atacantes com características diferentes. Porém os
quatro convocados são parecidos.
Todos são ótimos finalizadores e
atuam pelo meio. Vágner é o que
se movimenta mais, mas Luis Fabiano e Adriano merecem ser os
titulares, pelo menos no primeiro
jogo, já que foram convocados
outras vezes e estão em forma.
A discussão não é se Luis Fabiano e Adriano podem jogar juntos.
Claro que podem, se forem escalados no momento certo. A análise
não é operatória. Não é uma coisa ou outra, certo ou errado. A vida e o futebol não são assim.
Modelo para os pequenos
Em torneios com mata-mata, é
freqüente não vencer o melhor.
Sempre foi assim. Não há nenhuma nova ordem ou mudança na
geografia do futebol, como dizem
os chavões. Isso é um fato. Outro é
a avaliação errada que às vezes
fazemos de algumas equipes.
O Once Caldas não tem um ótimo time, mas não é muito inferior a Boca Juniors, São Paulo e
Santos. O mesmo acontece com o
Santo André em relação à maioria das equipes da primeira divisão. Em mata-mata, essa pequena vantagem desaparece.
Quando uma equipe endeusada, como o Real Madrid, perde o
título para outra considerada
muito inferior (Valencia) num
torneio por pontos corridos, há
uma avaliação equivocada sobre
os dois times. O Real tem craques,
mas não é um time excepcional. A
defesa é fraca. Já o Valencia tem
uma ótima defesa e um bom ataque. Não houve zebra.
A Grécia foi uma surpresa. O
desenho tático da equipe, com o
recuo de quase todos os jogadores
para tentar ganhar no contra-ataque ou numa bola parada,
não é novidade. Os times pequenos sempre tentaram fazer isso.
As grandes equipes deveriam
aprender a jogar no contra-ataque. É também uma ótima estratégia ofensiva para ser usada em
certos momentos. Os times dirigidos pelo Vanderlei Luxemburgo
fazem isso. No domingo, houve
alguns instantes em que o Corinthians pressionava, não pelo fato
de estar dominando o jogo, e sim
porque o Santos recuava para
contra-atacar com os velozes Robinho e Deivid.
Os gregos marcaram com muita
competência. Os armadores pelos
lados impediam os cruzamentos
da linha de fundo, os defensores
não se apavoravam, não davam
chutões, não entravam para dentro da área para atrapalhar o goleiro e facilitar as finalizações perto da área e não faziam faltas
desnecessárias perto do gol.
A melhor maneira de se furar
essa retranca não é tática, e sim
por meio de dribles e do passe rápido, curto e surpreendente. Somente os craques fazem isso, mas
nem sempre têm chances e estão
inspirados.
A estratégia defensiva da Grécia é um modelo para os times pequenos ganharem dos grandes.
Não é modelo para o futebol.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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