São Paulo, quarta-feira, 07 de julho de 2004

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FUTEBOL

Análise operatória

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

O time reserva do Brasil que vai disputar a Copa América tem bons jogadores em todas as posições. A maior parte dos atletas estava de férias e não se preparou bem para a competição. As outras seleções também estão desfalcadas. A equipe brasileira é uma das favoritas, mas terá dificuldades individuais e coletivas.
Nos dois times em que se destacou, Atlético-MG e Roma, Mancini atuava de ala ou meia-direita. Ala não é um lateral que apóia mais do que o habitual. Mancini poderia também ser aproveitado na posição de ala, em algumas situações, mas Parreira não gosta de variações táticas. Gustavo Nery terá a mesma dificuldade. Ele é melhor na função de ala ou meia-esquerda, onde aproveita mais a sua excelente finalização.
Edu sempre foi um volante. Ele marca e passa bem, porém não avança como um meia, como teria de fazer no esquema da seleção. Não é a sua característica.
Alex possui um extraordinário talento, mas tem pouca mobilidade. Como Edu vai ficar mais atrás, e os dois atacantes (Luis Fabiano e Adriano) não recuam para armar, Alex poderá ficar sobrecarregado e ser muito marcado. Há riscos de a seleção ficar lenta do meio para a frente.
A presença de dois típicos centroavantes tem também as suas vantagens. Quando a seleção pressionar, o rival ficar muito recuado e houver muitos cruzamentos da linha de fundo, dois ótimos finalizadores são melhores do que um. O time vai ficar ainda muito melhor do que o titular nas jogadas aéreas, ainda mais com os excepcionais lançamentos do Alex nas bolas paradas. Essa é uma importante qualidade.
Para iniciar a partida, seria melhor ter dois atacantes com características diferentes. Porém os quatro convocados são parecidos. Todos são ótimos finalizadores e atuam pelo meio. Vágner é o que se movimenta mais, mas Luis Fabiano e Adriano merecem ser os titulares, pelo menos no primeiro jogo, já que foram convocados outras vezes e estão em forma.
A discussão não é se Luis Fabiano e Adriano podem jogar juntos. Claro que podem, se forem escalados no momento certo. A análise não é operatória. Não é uma coisa ou outra, certo ou errado. A vida e o futebol não são assim.

Modelo para os pequenos
Em torneios com mata-mata, é freqüente não vencer o melhor. Sempre foi assim. Não há nenhuma nova ordem ou mudança na geografia do futebol, como dizem os chavões. Isso é um fato. Outro é a avaliação errada que às vezes fazemos de algumas equipes.
O Once Caldas não tem um ótimo time, mas não é muito inferior a Boca Juniors, São Paulo e Santos. O mesmo acontece com o Santo André em relação à maioria das equipes da primeira divisão. Em mata-mata, essa pequena vantagem desaparece.
Quando uma equipe endeusada, como o Real Madrid, perde o título para outra considerada muito inferior (Valencia) num torneio por pontos corridos, há uma avaliação equivocada sobre os dois times. O Real tem craques, mas não é um time excepcional. A defesa é fraca. Já o Valencia tem uma ótima defesa e um bom ataque. Não houve zebra.
A Grécia foi uma surpresa. O desenho tático da equipe, com o recuo de quase todos os jogadores para tentar ganhar no contra-ataque ou numa bola parada, não é novidade. Os times pequenos sempre tentaram fazer isso.
As grandes equipes deveriam aprender a jogar no contra-ataque. É também uma ótima estratégia ofensiva para ser usada em certos momentos. Os times dirigidos pelo Vanderlei Luxemburgo fazem isso. No domingo, houve alguns instantes em que o Corinthians pressionava, não pelo fato de estar dominando o jogo, e sim porque o Santos recuava para contra-atacar com os velozes Robinho e Deivid.
Os gregos marcaram com muita competência. Os armadores pelos lados impediam os cruzamentos da linha de fundo, os defensores não se apavoravam, não davam chutões, não entravam para dentro da área para atrapalhar o goleiro e facilitar as finalizações perto da área e não faziam faltas desnecessárias perto do gol.
A melhor maneira de se furar essa retranca não é tática, e sim por meio de dribles e do passe rápido, curto e surpreendente. Somente os craques fazem isso, mas nem sempre têm chances e estão inspirados.
A estratégia defensiva da Grécia é um modelo para os times pequenos ganharem dos grandes. Não é modelo para o futebol.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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