São Paulo, sexta-feira, 07 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tostão

Mais que um craque

Zidane se preparou para este Mundial; Ronaldo deveria ter feito o mesmo

VOU CORRER o mesmo risco da Fifa, que elegeu antes do jogo final Ronaldo em 1998 e o goleiro alemão Kahn em 2002 como os melhores do Mundial.
Mesmo que Zidane não jogue e/ou que a Itália seja campeã, voto no francês. Pela primeira vez na história do futebol, um grande craque anuncia antes da Copa a sua despedida para o final da competição. Ele, que tinha deixado a seleção antes das eliminatórias, voltou para ajudar o time. Depois da classificação, Zidane se preparou para este momento.
Ronaldo deveria ter feito o mesmo. Mas ele se apresentou para os treinos com cinco quilos a mais.
Lamentável!
Zidane é o último dos grandes meias-armadores. Não se pode confundir esse armador com os meias ofensivos, como Ronaldinho Gaúcho, Totti e outros, que se destacam pelas jogadas em direção ao gol. Zidane é um organizador, um pensador, que controla a bola, o jogo e o ritmo da equipe. Tudo com elegância, com a cabeça em pé e sem olhar para a bola. A atuação de Zidane contra o Brasil foi uma das maiores exibições que vi no estádio de um jogador.
Inesquecível!
O companheiro Paulo Cobos me perguntou se eu achava que os melhores momentos de Ronaldinho no Barcelona foram superiores aos melhores de Zidane. Acho que sim. Mas concordo com ele que Zidane foi muito mais importante para o futebol, pelo menos até agora. O Zidane é um dos pouquíssimos grandes craques do mundo que brilharam intensamente em duas Copas do Mundo.
Se quisesse, Zidane poderia jogar mais uns cinco anos e ganhar muito dinheiro, como fazem quase todos os grandes craques.
Porém ele percebeu, como disse, que não poderia ter mais a mesma regularidade. Um gesto de dignidade. Não se pode confundir sucesso com fama.
Zidane buscou o sucesso, a perfeição técnica, como deve fazer todo profissional. Mas ele sempre foi discreto e nunca deu importância à fama, ao marketing e ao trabalho de garoto-propaganda. Nunca quis ser uma celebridade. A fama enriquece a conta bancária e empobrece o ser humano.


tostao.folha@uol.com.br

Texto Anterior: Milão: Cidade espalha telões e espera 100 mil nas ruas no domingo
Próximo Texto: Insatisfeita, Fifa busca regras pró-gol
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.