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pan 2003
Transporte, apagão, comida e água fazem equipes trocar o caos da Vila por hotéis
O ALÇAPÃO DA VILA
EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTO DOMINGO
Inconformados com os problemas da Vila Pan-Americana, que
ameaçavam comprometer suas
performances na competição, alguns esportistas a trocaram por
hotéis. A "disneylândia", como
chegou a definir um membro da
delegação brasileira, pode ser bonita, mas não é funcional.
A Folha visitou ontem as instalações. Dividida em 12 blocos e
com um total de 720 apartamentos, a Vila possui 17.566 m2. Como
quase tudo neste Pan, as obras do
local também foram entregues às
vésperas dos Jogos. O custo total,
dividido entre o setor público e
privado, foi de US$ 57 milhões.
A entrada é uma cansativa espera, pela burocracia e pelas revistas. Para entrar em cada um dos
blocos, é preciso apresentar aos
soldados responsáveis pela segurança a permissão por escrito da
administração ou ter o aval de alguém que esteja hospedado neles.
É expressamente proibido visitar
os quartos dos atletas. Mas não é
preciso ir tão longe para perceber
o caos, que já gera reações.
Cansadas da desorganização do
sistema de transporte, que as fez
perder sessões de treinamento, as
equipes de basquete de Porto Rico
e dos EUA optaram por um hotel
mais perto do Centro Olímpico.
Membros das delegações de
Uruguai e Venezuela também saíram, mas por um conjunto de fatores -além do transporte, ar-condicionado, que não funcionava, e a comida, servida fria.
As adversidades, na verdade, já
ultrapassam a barreira do incômodo. Põem em risco as performances, segundo os próprios atletas, moradores compulsórios da
Vila. "Passamos a escovar os dentes com água mineral, pois muita
gente teve diarréia por causa da
água da torneira", afirmou a canadense Emili Livingstone -até
ontem 47 esportistas haviam procurado o centro médico por problemas estomacais. E, mesmo
ruim, ela também é escassa, forçando até banhos de caneca, como aconteceu com brasileiros.
A comida é outro problema.
"Quando acordamos e vamos fazer a primeira refeição, encontramos o café com leite frio", diz Dali, da seleção de handebol. "O restaurante não é muito organizado.
Às vezes há uma aglomeração na
entrada do refeitório. Estou falando de três filas de 60 a 100 pessoas", conta o boliviano Carlos
Calvo, técnico de ginástica.
Uma boa noite de sono também
parece ser um privilégio. "Primeiro, o ar-condicionado não funcionava. Depois, passou a fazer um
barulho enorme. Passei a noite
acordada. Só após muito tempo é
que dormi", relata a mesa-tenista
Krystle Harvey, de Barbados.
Em alguns casos, uma rede de
dificuldades se estende. "O pessoal do transporte se esqueceu de
nos buscar ao fim dos treinos, às
13h. Só após reclamarmos foi que
o ônibus veio, uma hora e meia
depois. Quando voltamos à Vila,
o refeitório estava fechado. Ficamos sem comer", diz Renzo Vidaurra, técnico de judô do Peru.
Pior, nem os momentos de diversão escapam do caos. Com os
apagões quase diários, até ver TV
é difícil. "Anteontem um transformador queimou. Nossa área ficou sem luz das 14h30 à 1h30",
conta o chileno Berto Rodríguez.
Nada porém, que afete a popularidade do centro de entretenimento, que conta com cinema,
discoteca e uma moderníssima
sala de jogos eletrônicos, onde os
atletas "trocam" de esporte -ontem, um brasileiro do handebol
disputava um jogo de futebol contra um colega de outro país.
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