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FUTEBOL
Reparação e hipocrisia
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Como fiz cursos de psicanálise e de psicologia médica, sou
médico e um observador da alma
humana, gosto de dar explicações
psicológicas. De psicólogo de botequim, médico e louco, todo mundo tem um pouco. Fui um "louco"
discreto.
Espero que os psicólogos não me
processem por uso indevido da
profissão. Brincadeiras à parte,
alguns acham que ex-atletas, poetas, escritores e pensadores, sem
diploma de jornalista, não poderiam ser colunistas e/ou comentaristas esportivos.
Como não pretendo freqüentar
mais uma faculdade, apesar de
não ser difícil obter um diploma,
estou preparado, se necessário,
para começar mais uma profissão. Vou ser um sonhador.
Não sei por que falo disso. Quero só escrever sobre reparação e
hipocrisia. Reparar no sentido de
corrigir, compensar, de não ser
injusto e também de não ter coragem para assumir certas coisas.
Hipocrisia no sentido de hipocrisia. A reparação, consciente ou
inconsciente, pode ser virtude ou
fraqueza humana. Vai depender
do momento e da situação.
Algumas pessoas, com culpas
imaginárias e extremamente rígidas, sentem-se culpadas e tentam
reparar o que desejaram, mesmo
que não tenham feito. Sofrem pelos erros que não cometeram. Já
outras, espertalhonas, nunca têm
sentimento de culpa. Só têm medo de serem flagradas com a mala
cheia de dinheiro.
Com freqüência, os desejos e as
emoções não combinam com a
razão e com a ética. Daí a ambivalência e a contradição humana.
Mas existem muitas pessoas integras e éticas. Seriam as que conseguem reprimir e/ou sublimar os
seus desejos incompatíveis com as
regras da sociedade?
A reparação costuma estar perto da incoerência e da hipocrisia.
Muitos empresários que fazem
pressão no Congresso para não
serem votadas leis que diminuam
seus lucros e que protejam os trabalhadores são, ao mesmo tempo,
por hipocrisia, incoerência e/ou
sentimento de culpa, generosos
com os mais pobres nas suas atividades sociais. Aproveitam para
deduzir as suas "doações" da declaração do Imposto de Renda.
A reparação, a incoerência e a
hipocrisia estão presentes no futebol e em todas as atividades humanas. Os árbitros, conscientes
ou não, estão sempre compensando os seus erros com outros erros
piores. Geralmente contra os mais
fracos.
Alguns jogadores agridem os
colegas e pedem desculpas. Outros
beijam o escudo do clube e não
cumprem as suas obrigações. Técnicos mandam matar a jogada,
querem ganhar de qualquer jeito
e depois fazem discursos éticos e
de respeito aos adversários.
Comentaristas têm de ser totalmente independentes. Mas às vezes nos sentimos incomodados
por duras críticas que fazemos.
Temos de assumir as nossas opiniões e saber o momento de reconhecer nossos enganos, deficiências e limitações. Não é fácil. Somos também vaidosos e prepotentes.
Dirigentes que dão grandes prejuízos aos clubes, por incompetência e outros motivos, fazem
discursos apaixonados e de dedicação a esses clubes. Os torcedores
violentos têm menos sentimento
de culpa e necessidade de reparar.
No meio da multidão, a pessoa,
anônima, não se sente responsável pelos seus atos. A culpa é do
grupo. Essa é uma das razões de
tanta violência nos estádios.
Vou parar por aqui. Essa coluna deve ser também uma forma
de reparar alguma besteira que
escrevi.
Grandes times
Todas as equipes brasileiras têm
virtudes e deficiências, individuais e coletivas. Umas mais do
que outras. Todas podem melhorar e piorar. Há sempre um jeito
de ficar pior. Até o Atlético-MG.
Mas o time deve melhorar com o
entusiasmo da chegada de um
novo técnico, independentemente
de suas qualidades. Marco Aurélio é obcecado em parar as jogadas. Adora uma "falta técnica".
Já imaginou o Corinthians com
Fred, Maurinho e o goleiro Fábio?
O Cruzeiro com Tevez, Roger e
Gustavo Nery? O Santos com Robinho, Deivid, Léo, Ricardinho e
Giovanni? O São Paulo com Luizão e o entusiasmo e a concentração da Libertadores? O Vasco
com Alex Dias e Romário e outros
nove diferentes dos atuais, e o
Palmeiras com Marcos, Marcinho, Pedrinho, Juninho, Vágner
Love e o Magrão no lugar do
Marcinho Paulada, conhecido
por Marcinho Guerreiro? Seriam
grandes times.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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