São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2011

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TOSTÃO

Prazer sensorial


Para gostar de um jogo, não é preciso entender detalhes técnicos nem a estratégia dos treinadores


Tempos atrás, dei carona a uma senhora simples e pobre. Ao olhar pelo espelho, percebi que ela, com os olhos fechados e expressão de felicidade, deliciava-se com a música clássica que tocava no rádio.
Perguntei se ela conhecia a música. Disse que não, mas que a achava belíssima.
Não pense que tenho o hábito de escutar música clássica no carro. Liguei o rádio, e tocava a música.
Deixei. Era de Bach. Temos de escutá-lo com os olhos fechados e, se possível, de joelhos, por reverência.
Para gostar de uma obra de arte, especialmente de uma música, não precisamos entender a técnica, conhecer a história da obra, do artista, nem a música necessita ter letra. É um prazer sensorial.
No futebol, é a mesma coisa. Podemos admirar um jogo, sem entendê-lo. Além disso, entender é diferente de compreender. Com frequência, entendemos os detalhes técnicos e a estratégia dos treinadores, conhecemos as estatísticas, mas não compreendemos o resultado e as outras mensagens técnicas e humanas da partida. Muitos não entendem nem compreendem.
Como sou metido a entender de futebol, acho importante saber detalhes técnicos para escrever minha coluna e, como sou um homem dividido entre a razão, a emoção e a fantasia, procuro ter, em uma partida, as visões de um analista técnico, crítico, e de um observador distraído, contemplativo. Muitas vezes, não consigo. Os olhares não se entendem. Um quer ser mais importante que o outro.
O futebol é, a cada dia, mais dominado pelo dinheiro, pelos empresários, pelos marqueteiros, pelos dirigentes suspeitos que não saem do poder, pelos treinadores e pela ciência esportiva.
A ciência é essencial para desenvolver o esporte, porém o futebol, um jogo de tantas possibilidades, é cada vez mais uma disputa física, tática e previsível.
Há situações paradoxais. Vários times brasileiros, como o Atlético-MG, possuem uma estrutura profissional melhor que a dos grandes clubes da Europa, além de ótimos especialistas nas comissões técnicas, mas os jogadores são apenas medianos, bons, comuns. São coadjuvantes, um detalhe.
Essa contradição ficou menos marcante nos últimos anos porque os clubes passaram a arrecadar mais e, principalmente, por causa da supervalorização do real. Os times contratam muito e pagam altíssimos salários, mas continuam com enormes dívidas. O governo é generoso. A Timemania, criada para pagar impostos atrasados, é um grande fracasso.


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