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São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2003

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Esportistas sofrem furto de identidade na internet


Em menos de oito horas, on-line e sem documento, domínios de técnicos e atletas são registrados por gente que visa a lucrar com a revenda a seus legítimos donos


ALEC DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os nomes de treinadores e atletas brasileiros estão sendo registrados indevidamente na internet. A fragilidade da legislação abriu a brecha para que aproveitadores se apoderem de domínios de esportistas famosos com a indisfarçada intenção de, posteriormente, lucrar com sua revenda.
Desde o início do ano, uma única pessoa -utilizando nomes fictícios e CNPJs cancelados- conseguiu registrar mais de 20 domínios na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o órgão responsável pela recepção e administração técnica de sites no Brasil.
A lista é longa e envolve personalidades do futebol, como os atacantes Luis Fabiano e Liedson, mas também atletas de outras modalidades, caso do tenista Flávio Saretta e da saltadora Maurren Maggi. Técnicos, como Bernardinho, Leão, Muricy Ramalho e Luiz Felipe Scolari, também tiveram os nomes furtados na rede.
"De mim, não vão tirar um único centavo", avisou Scolari.
O "cybersquatting", como o registro indevido é conhecido internacionalmente, ainda não é combatido com eficiência no Brasil. Uma lei que tramita no Congresso, entretanto, deverá inibir sua prática a partir deste ano.
Qualquer pessoa pode registrar quantos domínios quiser (há algumas restrições específicas). Tudo é feito do próprio computador, on-line, sem a necessidade de se exibir documentos. "O trâmite é declaratório. Quem dá os dados se responsabiliza pela veracidade", explicou Frederico Neves, responsável técnico da Fapesp.
A entidade não julga o conteúdo do registro. Apenas palavras consideradas "de baixo calão" e marcas notórias, além de poucos termos técnicos, são protegidos.
Todo o processo -do registro à colocação de um website no ar- não leva mais de oito horas.
A ausência de controle sobre os registros na Fapesp forja diversos piratas virtuais na internet.
Escondido atrás de nomes como Belfort Trading e Milus Design (empresas inexistentes), Daverson Queiroz é um deles.
Da sala de seu apartamento no bairro dos Jardins (região central de São Paulo), ele se tornou proprietário de dezenas de domínios simplesmente teclando dados falsos em seu computador.
Pegos de surpresa, atletas como o volante são-paulino Fábio Simplício custam a crer que domínios que levam seu nome têm dono. "Acho que não foi de má-fé."
Poderia ser uma coincidência, mas não é. Segundo arquivos da Fapesp, endereço e telefone de Queiroz estão vinculados a pelo menos 12 empresas -todas usando CNPJs inválidos de candidatos às eleições municipais do ano passado. Com esses dados, ele efetuou os registros dos domínios de esportistas consagrados.
Procurado por telefone pela Folha, ele desconversou. Apresentando-se como "Luís Paulo, do departamento de suporte", disse desconhecer quem era Daverson -nome do morador de seu apartamento, de acordo com informação colhida na portaria do prédio.
Por e-mail, sempre como Luís Paulo, ele admitiu que os domínios estão disponíveis para a venda. Não há um preço fixo. Em sites de leilão, um domínio pode variar entre R$ 90 e R$ 150 mil.
Mas, assim como Scolari, as vítimas do furto não estão dispostas a pagar pela recompra. Luis Fabiano, que pretende estrear seu site pessoal em breve, já tem até estratégia. "Vou escolher outro nome ou acrescentar o número de minha camisa. Não irei pagar nada por algo que deveria ser meu."
O são-paulino tem experiência no assunto, pois foi vítima de "cybersquatting" no exterior: o domínio luisfabiano.com direciona para uma página não-oficial do Rennes, seu antigo clube.

Modus operandi
Queiroz não é, certamente, o único "cybersquatter" brasileiro. O corintiano Abuda, 17, ilustra bem o modus operandi do golpe. Dois dias após estrear e fazer o gol da vitória sobre o Guarani, em 19 de julho, ele perdeu os direitos sobre seu nome na internet.
Além de denúncia à Fapesp (ou à Justiça), um registro pode ser cancelado caso, em um ano, não seja considerado ativo, ou seja, leve a uma página ou possua um servidor em funcionamento.
Por isso, os "cybersquatters" direcionam o link a outros sites, para driblar as inspeções. O meia Rivaldo, por exemplo, até hoje não recuperou o domínio www.rivaldo.com. Hoje, o endereço leva a uma página pornográfica.


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