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São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2003

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FUTEBOL

Nadando em dívidas

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Tanto a Folha quanto o "Globo" ocuparam-se no domingo da crise financeira que atinge os clubes de futebol no Brasil. Que a situação é feia todos sabem, mas ela vem se agravando, tendo chegado a um ponto dramático. Sem recursos, os clubes estão com grande parte de seus bens penhorados por conta de dívidas.
No Fluminense, a penhora atinge a histórica sede das Laranjeiras, os vitrais do salão nobre e até as balizas do campo. No Flamengo, parte do patrocínio da Petrobras, passes de jogadores, apartamentos e aquecedores de piscina. Em São Paulo, o caso mais rumoroso e recente foi a revelação de que o Parque São Jorge foi penhorado como garantia da dívida do Corinthians com Luizão. No Palmeiras, a renda dos jogos da Série B está reservada a uma pendência com a Receita Federal.
A situação, embora afete alguns mais seriamente do que outros, é generalizada. O que está em crise financeira, portanto, é o futebol brasileiro como um todo. Os compromissos a saldar, sejam com governos ou não, não são compatíveis com as receitas. O resultado é que se caminha para o brejo.
Essa situação tem gerado debates acerca de um possível auxílio governamental, que pudesse dar maior solvência aos clubes, permitindo que respirassem e caminhassem para uma situação financeira mais saudável. Agora, pergunto: alguém em sã consciência acredita que há condições para se oferecer benefícios públicos aos clubes dentro dos atuais marcos administrativos?
Claramente, não. O modelo amadorístico, opaco e corrompido de gestão, que tem sido a tônica em muitos clubes e federações, não encorajam ninguém a colocar um tostão furado numa operação de socorro ao futebol. Se algum governante imprudente o fizesse, a grita, certamente, seria geral: por que auxiliar essa horda de maus gestores, num país em que os recursos são escassos e as carências são enormes?
Mesmo os que vêem o futebol como um patrimônio nacional a ser preservado hão de convir que nada pode ser feito, em hipótese nenhuma, dentro dos padrões vigentes. Para que se pudesse começar a pensar em algum programa de apoio seria preciso criar um regime totalmente novo, que mudasse a "governança corporativa" dos clubes previamente da água para o vinho, submetendo-a critérios profissionais e de ampla transparência.
Se isso ocorresse, seria um milagre a ser conferido de perto por uma equipe do Vaticano. Como ainda tenho minhas dúvidas sobre os milagres, suponho que o desfecho dessa história pode ser mais longo e drástico. Como nenhuma atividade pode se manter eternamente dando prejuízo, gerando dívidas e perdendo valor, é razoável imaginar que em algum momento haverá um colapso. Essa mãe de todas as crises, ou seja, a falência múltipla da administração do futebol, acabará por provocar uma mudança radical no regime clubístico -talvez o grande entrave-, promovendo a transferência das marcas e da gestão para outras mãos.

Futebol ofensivo
O Criciúma até parecia que ia fazer o serviço e renovar a competição com uma vitória sobre o Cruzeiro. Parecia, mas não fez. Acabou sucumbindo ao futebol incomparavelmente melhor do time mineiro, que vai sustentando uma liderança relativamente folgada no Brasileiro. Ainda há muito ponto em disputa, mas, do jeito que as coisas vão, está muito difícil acreditar numa mudança mais radical até o fim da competição.

Kaká à milanesa
A Torcida Independente do São Paulo, que vivia perseguindo Kaká, deve estar muito feliz com a transferência do jogador para o Milan. No domingo ele marcou o seu primeiro gol na Itália e venceu o "derby" de Milão contra a Inter. Será que tem alguém arrependido?

E-mail mag@folhasp.com.br


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