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FUTEBOL
Nadando em dívidas
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Tanto a Folha quanto o
"Globo" ocuparam-se no domingo da crise financeira que
atinge os clubes de futebol no Brasil. Que a situação é feia todos sabem, mas ela vem se agravando,
tendo chegado a um ponto dramático. Sem recursos, os clubes estão com grande parte de seus bens
penhorados por conta de dívidas.
No Fluminense, a penhora atinge a histórica sede das Laranjeiras, os vitrais do salão nobre e até
as balizas do campo. No Flamengo, parte do patrocínio da Petrobras, passes de jogadores, apartamentos e aquecedores de piscina.
Em São Paulo, o caso mais rumoroso e recente foi a revelação de
que o Parque São Jorge foi penhorado como garantia da dívida do
Corinthians com Luizão. No Palmeiras, a renda dos jogos da Série
B está reservada a uma pendência com a Receita Federal.
A situação, embora afete alguns
mais seriamente do que outros, é
generalizada. O que está em crise
financeira, portanto, é o futebol
brasileiro como um todo. Os compromissos a saldar, sejam com governos ou não, não são compatíveis com as receitas. O resultado é
que se caminha para o brejo.
Essa situação tem gerado debates acerca de um possível auxílio
governamental, que pudesse dar
maior solvência aos clubes, permitindo que respirassem e caminhassem para uma situação financeira mais saudável. Agora,
pergunto: alguém em sã consciência acredita que há condições para se oferecer benefícios públicos
aos clubes dentro dos atuais marcos administrativos?
Claramente, não. O modelo
amadorístico, opaco e corrompido de gestão, que tem sido a tônica em muitos clubes e federações,
não encorajam ninguém a colocar um tostão furado numa operação de socorro ao futebol. Se algum governante imprudente o fizesse, a grita, certamente, seria
geral: por que auxiliar essa horda
de maus gestores, num país em
que os recursos são escassos e as
carências são enormes?
Mesmo os que vêem o futebol
como um patrimônio nacional a
ser preservado hão de convir que
nada pode ser feito, em hipótese
nenhuma, dentro dos padrões vigentes. Para que se pudesse começar a pensar em algum programa
de apoio seria preciso criar um regime totalmente novo, que mudasse a "governança corporativa"
dos clubes previamente da água
para o vinho, submetendo-a critérios profissionais e de ampla
transparência.
Se isso ocorresse, seria um milagre a ser conferido de perto por
uma equipe do Vaticano. Como
ainda tenho minhas dúvidas sobre os milagres, suponho que o
desfecho dessa história pode ser
mais longo e drástico. Como nenhuma atividade pode se manter
eternamente dando prejuízo, gerando dívidas e perdendo valor, é
razoável imaginar que em algum
momento haverá um colapso. Essa mãe de todas as crises, ou seja,
a falência múltipla da administração do futebol, acabará por
provocar uma mudança radical
no regime clubístico -talvez o
grande entrave-, promovendo a
transferência das marcas e da
gestão para outras mãos.
Futebol ofensivo
O Criciúma até parecia que ia
fazer o serviço e renovar a competição com uma vitória sobre
o Cruzeiro. Parecia, mas não
fez. Acabou sucumbindo ao futebol incomparavelmente melhor do time mineiro, que vai
sustentando uma liderança relativamente folgada no Brasileiro. Ainda há muito ponto em
disputa, mas, do jeito que as
coisas vão, está muito difícil
acreditar numa mudança mais
radical até o fim da competição.
Kaká à milanesa
A Torcida Independente do
São Paulo, que vivia perseguindo Kaká, deve estar muito feliz
com a transferência do jogador
para o Milan. No domingo ele
marcou o seu primeiro gol na
Itália e venceu o "derby" de Milão contra a Inter. Será que tem
alguém arrependido?
E-mail mag@folhasp.com.br
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