São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Brasil disputa prodígios com a França

Com pai francês e mãe brasileira, gêmeos são promessas da natação, moram no Chile e não sabem qual nação defender

Hugo Quirin, 14, já foi melhor do mundo, e Gaetan é campeão brasileiro, mas não têm patrocínio para viajar e competir no país

MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO

Hugo e Gaetan Quirin têm 14 anos e nutrem a mesma paixão: a natação. Os garotos são irmãos, gêmeos, apontados como as principais promessas das piscinas brasileiras. O surgimento dos atletas seria motivo de celebração não fosse um detalhe, evidenciado no sotaque franco-baiano que a dupla usa para contar suas histórias.
Eles são filhos de pai francês e mãe brasileira. E viveram durante quatro anos em meio a uma disputa velada das confederações dos dois países para contarem com suas braçadas.
Agora, porém, os prodígios estão cada vez mais longe do Brasil. O pai, diplomata, foi transferido do Recife para Santiago (Chile). Até agora os irmãos não sabem se poderão disputar o Brasileiro, em novembro, e tentar melhorar os recordes que já atingiram.
O Sport, clube deles em Pernambuco, não respondeu se bancará a dupla. A família tentou o Corinthians, sem sucesso. Se algum time francês acenar com patrocínio, deverão nadar na Europa. Quando chegarem ao nível adulto, se mantiverem o desempenho, terão de decidir qual passaporte querem usar.
Hugo e Gaetan parecem alheios à disputa. Não gostam de competir. A Olimpíada é um sonho, mas também amedronta. Eles gostam mesmo é de treinar e melhorar as marcas. E se tornaram especialistas nisso.
Gaetan ostenta títulos brasileiros nos 200 m e nos 400 m medley. Hugo atingiu performances mais impressionantes. É recordista brasileiro infantil nos 100 m e nos 200 m peito. Na França, onde a dupla compete nas férias, é o dono da melhor marca na distância mais longa. Em 2006, foi o melhor do mundo em sua faixa etária.
"Não penso muito nisso de melhor do mundo. Nem gosto. Meu prazer é nadar e melhorar minhas marcas", afirma Hugo.
O pai dos gêmeos, no entanto, preocupa-se com a falta de perspectiva atual dos filhos.
"Nadar pelo Brasil ou pela França tem um custo, principalmente para quem está fora do país. Não temos condições de arcar com essas despesas. Por isso, tentamos, com apoio da federação, encontrar um clube que possa patrocinar os garotos", afirma René. "Eles não podem competir nas provas do Nacional chileno. Se eles não competem aqui, duvido que o nível deles se mantenha."
Se um atleta defende determinado país em um torneio internacional de natação, só poderá atuar por outra bandeira se ficar pelo menos um ano sob as regras da nova localidade.
"Não sei se a gente vai conseguir competir no Brasil. Se eu tivesse de escolher hoje [que país defender], não sei qual seria, gosto dos dois", diz Hugo.
Para Raul Fuentes, técnico que lapidou os Quirin, o gosto pelas disputas virá com o tempo. Eles, no entanto, não podem esperar para ter as melhores condições de treino.
"Eles são bons, mas serão muito melhores. Fazíamos treinos progressivos, para não queimar o atleta. Eles não faziam treinos puxados e já tinham tempos maravilhosos. Não queria perdê-los", afirma.
O presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, Coaracy Nunes, diz não temer que os gêmeos possam vir a competir pela França.
"Creio que conseguirão apoio. E a mãe deles quer que os meninos defendam o Brasil."


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