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Brasil disputa prodígios com a França
Com pai francês e mãe brasileira, gêmeos são promessas da natação, moram no Chile e não sabem qual nação defender
Hugo Quirin, 14, já foi melhor do mundo, e Gaetan é campeão brasileiro, mas não têm patrocínio para viajar e competir no país
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO
Hugo e Gaetan Quirin têm 14
anos e nutrem a mesma paixão:
a natação. Os garotos são irmãos, gêmeos, apontados como
as principais promessas das
piscinas brasileiras. O surgimento dos atletas seria motivo
de celebração não fosse um detalhe, evidenciado no sotaque
franco-baiano que a dupla usa
para contar suas histórias.
Eles são filhos de pai francês
e mãe brasileira. E viveram durante quatro anos em meio a
uma disputa velada das confederações dos dois países para
contarem com suas braçadas.
Agora, porém, os prodígios
estão cada vez mais longe do
Brasil. O pai, diplomata, foi
transferido do Recife para Santiago (Chile). Até agora os irmãos não sabem se poderão
disputar o Brasileiro, em novembro, e tentar melhorar os
recordes que já atingiram.
O Sport, clube deles em Pernambuco, não respondeu se
bancará a dupla. A família tentou o Corinthians, sem sucesso.
Se algum time francês acenar
com patrocínio, deverão nadar
na Europa. Quando chegarem
ao nível adulto, se mantiverem
o desempenho, terão de decidir
qual passaporte querem usar.
Hugo e Gaetan parecem
alheios à disputa. Não gostam
de competir. A Olimpíada é um
sonho, mas também amedronta. Eles gostam mesmo é de
treinar e melhorar as marcas. E
se tornaram especialistas nisso.
Gaetan ostenta títulos brasileiros nos 200 m e nos 400 m
medley. Hugo atingiu performances mais impressionantes.
É recordista brasileiro infantil
nos 100 m e nos 200 m peito.
Na França, onde a dupla compete nas férias, é o dono da melhor marca na distância mais
longa. Em 2006, foi o melhor
do mundo em sua faixa etária.
"Não penso muito nisso de
melhor do mundo. Nem gosto.
Meu prazer é nadar e melhorar
minhas marcas", afirma Hugo.
O pai dos gêmeos, no entanto, preocupa-se com a falta de
perspectiva atual dos filhos.
"Nadar pelo Brasil ou pela
França tem um custo, principalmente para quem está fora
do país. Não temos condições
de arcar com essas despesas.
Por isso, tentamos, com apoio
da federação, encontrar um
clube que possa patrocinar os
garotos", afirma René. "Eles
não podem competir nas provas do Nacional chileno. Se eles
não competem aqui, duvido
que o nível deles se mantenha."
Se um atleta defende determinado país em um torneio internacional de natação, só poderá atuar por outra bandeira se ficar pelo menos um ano sob
as regras da nova localidade.
"Não sei se a gente vai conseguir competir no Brasil. Se eu
tivesse de escolher hoje [que
país defender], não sei qual seria, gosto dos dois", diz Hugo.
Para Raul Fuentes, técnico
que lapidou os Quirin, o gosto
pelas disputas virá com o tempo. Eles, no entanto, não podem esperar para ter as melhores condições de treino.
"Eles são bons, mas serão
muito melhores. Fazíamos
treinos progressivos, para não
queimar o atleta. Eles não faziam treinos puxados e já tinham tempos maravilhosos.
Não queria perdê-los", afirma.
O presidente da Confederação Brasileira de Desportos
Aquáticos, Coaracy Nunes, diz
não temer que os gêmeos possam vir a competir pela França.
"Creio que conseguirão
apoio. E a mãe deles quer que
os meninos defendam o Brasil."
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