São Paulo, quarta, 7 de outubro de 1998

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IATISMO
Piloto que "atropelou' Grael é indiciado

em Vitória

O empresário Carlos Guilherme de Abreu e Lima, piloto da lancha Laguna 1, que "atropelou" o iatista Lars Grael, foi indiciado ontem sob acusação de ter causado lesão corporal culposa. Grael, ganhador de duas medalhas olímpicas, perdeu a perna direita durante o acidente, ocorrido em 6 de setembro em Vitória (ES).
O inquérito instaurado pela Polícia Civil capixaba chegou ao fim ontem. De acordo como o delegado José Monteiro Júnior, ficou caracterizado que Abreu e Lima agiu com negligência e imperícia ao pilotar a lancha. Caso seja condenado, o empresário poderá pegar de dois meses a um ano de prisão. O relatório entregue ontem pelo delegado ao Cartório de Distribuição do Fórum de Vitória será enviado para uma das seis varas criminais da cidade.
Para Monteiro, não houve indícios suficientes para caracterizar uma ação dolosa (intencional) por parte do empresário, como era esperado por José Carlos Stein Júnior, advogado da família Grael. De qualquer forma, segundo Stein, a família de Grael deverá mover uma ação indenizatória contra o empresário cujo valor poderá chegar a R$ 7 milhões.
O delegado afirmou, no entanto, que a Justiça pode não concordar com seu parecer ou ratificar o relatório. "A conclusão final é mesmo da Justiça", disse. Stein elogiou a conduta do delegado José Monteiro durante todo o inquérito e afirmou que, apesar de esperar que o indiciamento do empresário fosse feito por lesão dolosa, respeita a interpretação da autoridade. "Acho que o delegado presidiu o inquérito com muito brilhantismo, mas minha posição pessoal pode ser divergente, e eu prefiro omitir", declarou.
A advogada de Abreu e Lima, Elisângela Leite Melo, negou que seu cliente possa ser preso. "Mesmo que seja condenado a um ano de prisão, pena máxima prevista para o crime que lhe está sendo imputado, e que fique provado que ele estava embriagado, o que não ocorreu, ele não ficará preso", afirmou. Segundo a advogada, seu cliente jamais poderia ser indiciado de forma dolosa. "Ele nem sabia que era Lars Grael quem estava no barco. Como poderia ter tido a intenção de lhe causar algum dano?".
Elisângela disse que em penas de até quatro anos de prisão o regime a ser cumprido vai de aberto (cumprimento da pena em liberdade) a semi-aberto (quando o condenado apenas dorme na cadeia). Lima ainda é réu primário e tem bons antecedentes, o que pode facilitar o estabelecimento de um regime aberto.
Apesar de a Capitania dos Portos do Espírito Santo já ter divulgado laudo pericial afirmando que acidente ocorreu por falta de atenção do piloto da lancha, ela confirmou que a defesa pediu uma perícia particular.
Essa perícia deverá ser utilizada em juízo para mostrar que o empresário poderia não ter visto o barco de Grael e, portanto, não também não teria tido como evitar o acidente. (GLEICE BUENO)


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