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A criação de Pelé
As jogadas extracampo do atleta do século
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A estratégia para consolidar a imagem de sucesso construída dentro de campo, com as maiores conquistas obtidas na história por um jogador de futebol, só foi concretizada a partir da união com João Havelange no final dos anos 60
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JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
da Reportagem Local
Edson Arantes do Nascimento
nasceu em 23 de outubro de 1940,
em Três Corações (MG), mas Pelé
só surgiria quase dez anos depois.
Apesar de o apelido ter sido inventado por volta de 1947, o nascimento de Pelé deu-se na tarde
de 16 de julho de 1950, enquanto
ouvia em Bauru (SP) a transmissão da final da Copa daquele ano,
entre Brasil e Uruguai.
""Foi um dos dias mais tristes da
minha infância. A festa já estava
preparada, todos achavam que o
Uruguai não tinha chances, ainda
mais jogando no Maracanã.
Quando terminou o jogo e eles
venceram (2 a 1, de virada), senti
como se tivesse perdido um parente", contou à Folha.
""Ao mesmo tempo, veio uma
sensação gozada, de não querer
que aquilo se repetisse mais. Foi aí
que decidi ser um jogador que fizesse diferença, que trouxesse a
alegria que os uruguaios nos roubaram daquela vez. Foi aí que o
Pelé realmente começou."
Essa origem como um herói
vingador é uma das criações em
torno do mito Pelé, que o próprio
jogador, sócios, familiares e dirigentes souberam construir: o atleta do século que se aposenta cedo,
vira empresário bem-sucedido e,
depois, ministro que moderniza o
esporte no Brasil.
Mas a história do ex-jogador,
que será homenageado no ano
que vem pela Fifa como principal
destaque do futebol no século,
nem sempre foi tranquila.
Documentos do governo militar (1964-1985), hoje em mãos de
um ex-integrante do regime,
mostram que empréstimos da
CBD (Confederação Brasileira de
Desportos, atualmente Confederação Brasileira de Futebol) ajudaram Pelé a recuperar sua situação financeira depois de vários
fracassos empresariais no final
dos anos 60.
João Havelange, comandante
da entidade na época, fez um
acordo velado com o então jogador que catapultaria o dirigente à
presidência da Fifa em 1974, cargo
máximo do futebol mundial, ocupado por ele até o ano passado.
Em troca do apoio à sua candidatura, Havelange, além de emprestar dinheiro da CBD para Pelé, atuou como ""agente'" do jogador em sua carreira de garoto-propaganda de multinacionais
como Pepsi e Adidas e ajudou a
aproximá-lo do governo norte-americano.
A relação entre Pelé e Havelange, estremecida a partir da década
passada, chegou a ser tão intensa
nos anos 60 e 70 que o governo
militar colocou agentes secretos
para seguir os movimentos do jogador, especialmente quando ele
viajava ao exterior.
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