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FUTEBOL
Torcendo e jogando
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Na última terça-feira, a
ESPN Brasil escalou um time da pesada para debater a moralização do futebol: dirigentes de
três grandes clubes, jornalistas de
vários veículos, advogados e o secretário-executivo do Ministério
do Esporte, José Luiz Portella,
poucas horas depois da rejeição
da "MP da Moralização".
Na internet, uma pergunta ao
público: "Você acredita que haverá moralização do futebol?". A
grande maioria respondeu "não",
embora o número de votos tenha
sido menor do que costuma ser
em enquetes do tipo "Você acha
que o Palmeiras será rebaixado?"
ou "Você é a favor da volta do Luxemburgo à seleção?". Parece que
essa história de moralização ainda não mexe tanto com o fígado
dos torcedores quanto deveria.
E há motivos de sobra para a
descrença. Se escolhermos um
clube -o Flamengo, por exemplo- e compararmos as promessas dos últimos anos com a situação atual, vamos ter a sensação
de patinar no mesmo lugar (ou
escorregar para trás).
Em dezembro de 98, Kléber Leite terminava seu mandato de presidente deixando o Flamengo
com uma dívida de US$ 75 milhões, segundo auditoria externa.
Ele contestava o número e comemorava conquistas: "O clube encontrou equilíbrio e retomou a
auto-estima. Controlou a dívida,
que era realmente muito grande.
A atual é de R$ 55 milhões". (Curiosos esses conceitos de "equilíbrio" ou "estabilidade"...)
Na ocasião, os dois candidatos à
sua sucessão sabiam da dívida e
afirmaram que conseguiriam pagá-la. Edmundo Santos Silva, que
seria eleito (e reeleito!), prometia:
"Vamos transformar o clube em
sociedade anônima, com certeza.
Vamos criar o Flamengo Futebol
S.A. e o Flamengo Esportes Olímpicos S.A.".
Ao deixar a presidência depois
do processo de impeachment, ele
disse que herdara uma dívida de
US$ 87 milhões (não os US$ 75
milhões auditados ...) e, por isso,
não se considerava o maior responsável pelo rombo de atual
-segundo ele mesmo, de R$ 157
milhões. Hoje, fala-se em R$ 200
milhões. Como o poderoso Mengo
virou um pepino desse tamanho?
Em 98, a consultoria Sirotsky &
Associados projetou os fluxos de
caixa (bilheteria, direitos de TV,
licenciamento etc.) em um "mercado profissional" e calculou que
a marca Flamengo valeria US$
250 milhões em 15 anos. Tomou
por base o faturamento dos principais clubes europeus, ajustando
os números de lá ao PIB e o tamanho da torcida aqui. Mesmo considerando o quanto a situação do
Flamengo (e da economia mundial) se deteriorou, esse cálculo
ainda traz uma esperança. O time
pode ganhar mais do que deve!
Então vamos a outros motivos
de ânimo: o próprio fato de Edmundo ter sido cassado é um deles. A decência e a perseverança
do Portella, outro. O jogo piloto do
Código de Defesa do Torcedor,
mesmo com todos os problemas,
foi um bom passo. E a pressão popular por meio da mídia não deve
diminuir tão cedo, porque há
muita gente inconformada.
Esse campeonato da moralização é longo. Como no Brasileirão,
às vezes, a gente perde em casa e
goleia fora. Às vezes, sofre com entradas desleais, mas o adversário
acaba tendo jogadores suspensos.
Às vezes, pensa que vai cair, e logo está entre os classificados. Vamos continuar tocando a bola
com calma, sem perder o potencial ofensivo; vamos explorar o
melhor de cada um e não desistir.
O jogo não terminou, não.
Manutd 1
Veja o quanto um clube bem
administrado pode render:
na última temporada, o Manchester faturou US$ 75 milhões só em ingressos. Com a
venda de bebida e comida no
estádio, arrecadou US$ 12
milhões. Com merchandising, US$ 35 milhões; com
patrocínio, US$ 30 milhões.
Manutd 2
O site do Manchester registra
e comenta notícias sobre o
clube veiculadas em outros
meios de comunicação e divulgou, nesta semana, que o
jornal "Manchester Evening
News" ligou o clube ao Kaká,
do São Paulo. O técnico Alex
Ferguson, em entrevista ao
site, brincou: "Nem no período fechado para transferências tenho sossego!". Antes
desta temporada, 37 nomes
foram associados ao clube
-entre eles, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho. E Rio Ferdinand, que foi mesmo.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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