São Paulo, quinta-feira, 07 de novembro de 2002

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FUTEBOL

Torcendo e jogando

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Na última terça-feira, a ESPN Brasil escalou um time da pesada para debater a moralização do futebol: dirigentes de três grandes clubes, jornalistas de vários veículos, advogados e o secretário-executivo do Ministério do Esporte, José Luiz Portella, poucas horas depois da rejeição da "MP da Moralização".
Na internet, uma pergunta ao público: "Você acredita que haverá moralização do futebol?". A grande maioria respondeu "não", embora o número de votos tenha sido menor do que costuma ser em enquetes do tipo "Você acha que o Palmeiras será rebaixado?" ou "Você é a favor da volta do Luxemburgo à seleção?". Parece que essa história de moralização ainda não mexe tanto com o fígado dos torcedores quanto deveria.
E há motivos de sobra para a descrença. Se escolhermos um clube -o Flamengo, por exemplo- e compararmos as promessas dos últimos anos com a situação atual, vamos ter a sensação de patinar no mesmo lugar (ou escorregar para trás).
Em dezembro de 98, Kléber Leite terminava seu mandato de presidente deixando o Flamengo com uma dívida de US$ 75 milhões, segundo auditoria externa. Ele contestava o número e comemorava conquistas: "O clube encontrou equilíbrio e retomou a auto-estima. Controlou a dívida, que era realmente muito grande. A atual é de R$ 55 milhões". (Curiosos esses conceitos de "equilíbrio" ou "estabilidade"...)
Na ocasião, os dois candidatos à sua sucessão sabiam da dívida e afirmaram que conseguiriam pagá-la. Edmundo Santos Silva, que seria eleito (e reeleito!), prometia: "Vamos transformar o clube em sociedade anônima, com certeza. Vamos criar o Flamengo Futebol S.A. e o Flamengo Esportes Olímpicos S.A.".
Ao deixar a presidência depois do processo de impeachment, ele disse que herdara uma dívida de US$ 87 milhões (não os US$ 75 milhões auditados ...) e, por isso, não se considerava o maior responsável pelo rombo de atual -segundo ele mesmo, de R$ 157 milhões. Hoje, fala-se em R$ 200 milhões. Como o poderoso Mengo virou um pepino desse tamanho?
Em 98, a consultoria Sirotsky & Associados projetou os fluxos de caixa (bilheteria, direitos de TV, licenciamento etc.) em um "mercado profissional" e calculou que a marca Flamengo valeria US$ 250 milhões em 15 anos. Tomou por base o faturamento dos principais clubes europeus, ajustando os números de lá ao PIB e o tamanho da torcida aqui. Mesmo considerando o quanto a situação do Flamengo (e da economia mundial) se deteriorou, esse cálculo ainda traz uma esperança. O time pode ganhar mais do que deve!
Então vamos a outros motivos de ânimo: o próprio fato de Edmundo ter sido cassado é um deles. A decência e a perseverança do Portella, outro. O jogo piloto do Código de Defesa do Torcedor, mesmo com todos os problemas, foi um bom passo. E a pressão popular por meio da mídia não deve diminuir tão cedo, porque há muita gente inconformada.
Esse campeonato da moralização é longo. Como no Brasileirão, às vezes, a gente perde em casa e goleia fora. Às vezes, sofre com entradas desleais, mas o adversário acaba tendo jogadores suspensos.
Às vezes, pensa que vai cair, e logo está entre os classificados. Vamos continuar tocando a bola com calma, sem perder o potencial ofensivo; vamos explorar o melhor de cada um e não desistir. O jogo não terminou, não.

Manutd 1
Veja o quanto um clube bem administrado pode render: na última temporada, o Manchester faturou US$ 75 milhões só em ingressos. Com a venda de bebida e comida no estádio, arrecadou US$ 12 milhões. Com merchandising, US$ 35 milhões; com patrocínio, US$ 30 milhões.

Manutd 2
O site do Manchester registra e comenta notícias sobre o clube veiculadas em outros meios de comunicação e divulgou, nesta semana, que o jornal "Manchester Evening News" ligou o clube ao Kaká, do São Paulo. O técnico Alex Ferguson, em entrevista ao site, brincou: "Nem no período fechado para transferências tenho sossego!". Antes desta temporada, 37 nomes foram associados ao clube -entre eles, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho. E Rio Ferdinand, que foi mesmo.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br



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