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BASQUETE NO MUNDO
Os sem-aro
MELCHIADES FILHO
"Caro Melk,
Meu nome é Jean, tenho 25
anos e sou fã da sua coluna da
Folha. Tenho um problema relacionado ao basquete e esperança
de que você me ajude, já que esgotei as minhas possibilidades.
Tenho uma série de amigos
que já jogaram basquete por
muito tempo, assim como eu.
Gostaríamos de nos reunir semanalmente para jogar, se divertir e até para voltar a treinar
um pouco.
O problema é que não encontramos nenhuma quadra de
basquete em São Paulo. Só existe
de futebol e de vôlei.
Aliás, seria um tema para você
discutir na coluna, desculpe a
intromissão. Como o basquete
pode crescer num país em que
não há quadras para a prática?
Obrigado pela atenção e parabéns pelo trabalho. Sucesso."
Não tem jeito, Jean. São Paulo
possui hoje cerca de 10 milhões
de habitantes. Ainda bem que os
"basqueteiros" de fim-de-semana, como você e eu, representam
uma minoria irrelevante, desaparecendo da cidade junto com
o nosso esporte do coração. Fosse o contrário, quanta tristeza.
Sim, pois a Federação Paulista
e a prefeitura mostram quadros
cada vez mais pessimistas para
o sujeito que quiser bater uma
"pelada" de última hora.
Em toda a metrópole, informam as "autoridades", há somente duas quadras gratuitas,
alegadamente em condições decentes de abrigar uma partida
de basquete. Repito, apenas
duas! Uma fica na Vila Clementino (Centro Educacional e Esportivo Mané Garrincha), a outra está na Vila Alpina (CEE Arthur Friedenreich).
Segundo a Secretaria de Esportes do município, existem
ainda 12 CEEs com piso, tabelas
e cestas em ordem. O "detalhe" é
que, nesses locais, o interessado
vai precisar levar a mão ao bolso
-os preços da hora de aluguel
variam de R$ 10 a R$ 50.
Imagino, é claro, que devam
existir outros quintais esburacados, abertos ao público por aí
afora. No parque Ibirapuera,
mesmo com tabelas escangalhadas, recordo-me, as filas de sábado tinham proporções épicas
no início da década (ainda continua assim, aliás?).
Mas o fato é que a prática
apropriada do basquete hoje se
restringe a clubes (mensalidades, carteirinhas...), escolas (fechadas à comunidade...) e playgrounds de bacana (...).
No improviso, meu chapa,
aquele lance de juntar um grupo
na última hora, vai ser muito difícil rolar alguma coisa.
Eu mesmo já desisti. Hoje me
dedico exclusivamente a torneios de enterrada no batente
superior da porta do corredor
(momento Kobe Bryant), a desafios com bolinhas de papel nas
latas de lixo da Redação (sou
Demétrius, mão-dura como
ele...) e a arremessos em direção
ao teto da sala, com o corpo deitado no chão (sou um Dennis
Rodman, que demência...).
Completamente fora de forma,
vou aparar as unhas para estrear um videogame.
E-mail melk@uol.com.br
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