São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2001

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BOXE

Politicamente incorreto

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

O "assassino do leste", Larry Holmes, não foi só campeão dos pesados. Holmes foi também o campeão do politicamente incorreto. Antes de sua 49ª luta, quando igualaria o recorde de Rocky Marciano, Holmes caiu na besteira de dizer, durante uma entrevista -e na presença de parentes do ex-campeão-, que "Marciano não tinha categoria para carregar minha coquilha".
Detalhe, Marciano não pôde se defender, nem verbalmente, pois havia morrido décadas antes.
Causou tamanho mal-estar a declaração de Holmes, que seu treinador, Richie Giachetti, lançou-lhe um olhar de reprovação. É possível que a atitude de Holmes tenha influenciado os jurados, pois Holmes perdeu aquele combate para Michael Spinks em uma decisão bastante polêmica.
Também afirmou que "as pessoas que amariam vê-lo sendo derrotado poderiam beijar o lugar onde a luz do Sol não atinge".
Após perder para "Iron" Mike Tyson por nocaute em quatro assaltos em 1988, após retornar da aposentadoria, Tyson elogiou Holmes ao afirmar que não teria chance contra ele se o combate tivesse sido alguns anos antes.
A resposta de Holmes? "Que você [Tyson" seja muito feliz com sua carreira, mas vai se f..." Na mesma ocasião, ao ser questionado se lamentava o resultado da luta, afirmou que "iria rir durante todo o caminho para o banco".
Mas Tyson também foi autor de algumas belas pérolas. Sobre Tyrell Biggs, a quem teria "poupado" até o sétimo assalto para castigá-lo, em 1988, Tyson disse: "Toda vez que bati em seu corpo ele gemeu como uma mulher".
E quando dominava a cena em seu primeiro reinado, Tyson perguntou: "Como eles [seus oponentes" ousam me desafiar com sua habilidade pré-histórica?".
Muhammad Ali foi odiado por afirmar, ao se recusar a servir no Vietnã, que "nenhum vietnamita me chamou de tição". Hoje, é ídolo indiscutível. Jack Johnson, o primeiro campeão negro dos pesados, em 1908, também foi odiado. Seu crime? Manter relacionamentos com brancas (ele foi preso por transportar de um Estado a outro uma delas -sua mulher).
O último lutador a atrair a ira das massas foi o australiano Anthony Mundine, muçulmano.
Muitos interpretaram sua declaração de que "foram os EUA que provocaram os atentados terroristas de 11 de setembro" como um elogio ao terror. (Não seria apenas a explicação dele para o fato?) Como punição, foi retirado do ranking do CMB. No último sábado, perdeu por nocaute em dez assaltos para o alemão Sven Ottke, pelo título da FIB. Pode ser que não receba outra chance.
Muitos podem se espantar, mas foi recebido como herói no aeroporto na Austrália. Após a repercussão de suas declarações, Mundine não negou que havia dito aquilo. Apenas disse que sua frase foi retirada do contexto.
Por outro lado, o supermédio Omar Sheika, também muçulmano, que em entrevista condenou os terroristas, deixou de subir ao ringue usando roupas árabes e abandonou um apelido que remetia à sua ascendência árabe.
Pior, no início do ano desafiava o judeu Dana Rosemblatt a cada momento, usando para isso argumentos que contrapunham suas religiões, mas após os atentados "apagou" isso de seu passado.
O que é pior? Quem colaborou mais com o sentimento de intolerância e é mais hipócrita?

Brasil 1
Popó e Joel Casamayor participaram na terça-feira de entrevista promocional com a usual troca de provocações: blablablá.

Brasil 2
O primeiro do ranking da AMB, o mongol Lakva Sim, possível futuro adversário de Popó caso o brasileiro tome o título de Casamayor, luta no dia 27 de janeiro, no Japão.

Brasil 3
Floyd Mayweather, outro rival em potencial de Popó, foi aprovado como próximo adversário do campeão dos leves do CMB, o mexicano Jose Luis Castillo. Se vencer, terá 15 dias para decidir se permanece entre os leves ou mantém o cinturão dos superpenas.

Brasil 4
Os paulistas venceram o desafio com o Chile na terça por 4 a 1.

E-mail: eohata@folhasp.com.br



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