São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2001

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FUTEBOL

A moda que veio da Cornuália

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Caro leitor, adorada leitora, desde que o rei Arthur reuniu 12 cavaleiros em torno de uma távola circular, este móvel tornou-se uma verdadeira obsessão da humanidade. Primeiro, como objeto de decoração. Depois, como um sinônimo de debates acalorados sobre futebol, as chamadas mesas-redondas. Hoje em dia, só na TV aberta, temos os programas das duplas Kfouri-Kajuru e Lang-Avallone -o convescote da Gazeta-, o "Cartão Verde", o "Super técnico" (agora com Alberto Helena) e o caçula da turma, o novo programa do Milton Neves.
Eu, confesso, sou um fã desse tipo de programa: gosto daquele clima de debate-de-bar, das gozações e daquelas discussões tão verdadeiras quanto golpes de luta livre. Acho graça nisso tudo, o que não me impede, no entanto, de querer virar a mesa.
Não, não vou sugerir que se acabe com esse tipo de programa. Longe disso! O que pretendo é dar aqui algumas sugestões para o aperfeiçoamento da fórmula. Não é porque uma coisa é boa que não pode ficar maravilhosa.
Assim sendo, deixo aqui algumas possíveis variações que bem poderiam melhorar nossas noites de domingo.
1) Cama-redonda: a maioria desses programas tem a discreta, mas eficiente, participação de uma mulher de belas formas. Por que não fazer, então, uma mesa-redonda só com garotas como Luize Altenhofen, Mari Alexandre, Ellen Rocche e as Sheilas? Penso que, como uniforme, elas deveriam vestir shorts minúsculos e tops esvoaçantes. Talvez as análises não resultassem muito profundas, mas quem iria ligar para isso? E, para que não me chamem de sexista, proponho também, para as apreciadoras de futebol, um programa com Paulos Zulus e Alexandres Frotas.
2) Escrivaninha-redonda: para os que gostam de análises sofisticadas, sugiro um programa só com acadêmicos graduados nas mais diferentes áreas do conhecimento. Tudo bem, não seria muito divertido, mas quem não gostaria de ver, só para variar, uma discussão do mito do eterno retorno em relação a mais uma volta do Candinho para a Lusa? Ou um professor-doutor perguntando a um zagueiro: "Então, Pé-de-cabra, você não acha que esse seu gol pode ter uma leitura nietzscheana, um quê de afirmação do caos dionisíaco contra o etos da hierarquia apolínea?".
3) Mesa-branca-redonda: como boa parte dessas discussões se ocupa do futurismo, acho que seria muito oportuno fazer um programa só com explicações místicas para os resultados e previsões para as próximas partidas feitas por tarólogos, numerólogos, astrólogos, pais-de-santo etc. Será divertido ver gurus atirando turbantes uns nos outros, fazendo guerrinha de búzios e xingando-se de "capricorniano sem caráter" ou "leonino selvagem!".
E não precisamos parar por aí. Podemos ter uma mesa-redonda transmitida de um boteco, cheia de brigas de verdade e palavrões; uma de católicos, com o padre Marcelo pulando feito pipoca, outra de evangélicos, com coleta eletrônica no final; uma só com políticos (tendo o cuidado de deixar José Serra e Tasso Jereissati bem distantes); uma só com surdos-mudos, que gesticulariam todos ao mesmo tempo no momento de discussão etc.
Seria a consagração do gênero, a glória para o rei Arthur (que, ao que consta, nem gostava tanto assim de futebol).

São Caetano
Enganou-se quem pensava que a classificação do Azulão seria a mais fácil de todas (inclusive eu).

Atlético-PR
É um time com personalidade, rapidez e alguns jogadores que fazem a diferença. Mereceu vencer o São Paulo.

Atlético-MG
A melhor passagem para as semifinais, o que dá muito moral para o próximo duelo.

Fluminense
Foi um jogo dramático, desses sobre o qual Nélson Rodrigues escreveria um tratado psicossocialfutebolístico. E a Ponte Preta novamente morreu na praia.

CPI
Os semifinalistas que me perdoem, mas a aprovação do relatório foi a vitória mais importante da semana. Talvez do ano. Talvez da década.

E-mail: torero@uol.com.br



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