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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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FUTEBOL

Cruzeiro e Palmeiras, batizados nos primórdios com o mesmo nome, surpreendem ao ganhar títulos e fazer história

Palestras vivem juntos ano da redenção

RODRIGO BUENO
TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A história diz que em 1928 a camisa verde-escura da Societá Sportiva Palestra Itália ficou mais clara e que então nasceu o apelido de ""periquito" do clube. A história dirá, porém, que em 2003 essa mesma sociedade italiana, vestindo azul e sendo associada a uma raposa, ganhou de vez o Brasil.
O Cruzeiro, assim como o Palmeiras, nasceu e cresceu com camisa verde e nome Palestra Itália.
E o ano de 2003, assim como a Segunda Guerra Mundial, marcou para sempre a vida de ambos.
Mais que vencerem a Série A e a Série B do Brasileiro, respectivamente, Cruzeiro e Palmeiras deixaram para trás nesta temporada as suas maiores frustrações.
O título do Nacional era uma obsessão tão grande para o time de Belo Horizonte quanto era o retorno à primeira divisão para a equipe do Parque Antarctica.
Os mais antigos palestrinos foram submetidos a emoções que talvez nem imaginassem um dia passar. O Cruzeiro conseguiu o que parecia impossível. Venceu o Brasileiro e a Copa do Brasil na mesma temporada. De quebra, ganhou o Campeonato Mineiro de forma invicta, faturando assim a ""Tríplice Coroa", algo eterno.
Já o Palmeiras, contrariando uma infeliz tradição do futebol brasileiro, entrou em campo com toda a sua história vencedora para jogar a segunda divisão, encheu os estádios, revelou grandes jogadores (o que nunca foi sua especialidade) e obteve, sem maracutaias, o seu retorno à elite.
Se adversários ajudaram a pôr fim ao nome Palestra Itália em meio ao mais famoso conflito bélico da história, rivais não puderam segurar a ascensão dos ""Palestras" e a euforia de seus ""tifosi".
Os clubes mais ítalo-brasileiros do país, aliás, estiveram ligados de certa forma no ano da redenção.
O Cruzeiro apostou quase todas as suas fichas no técnico Wanderley Luxemburgo, que projetou sua carreira no Palmeiras. Aliás, o último time do treinador antes de ir para Belo Horizonte em 2002.
O capitão e principal jogador cruzeirense é um ídolo palmeirense: Alex. O reserva dele, que foi decisivo no jogo que garantiu o título para o Cruzeiro (2 a 1 no Paysandu, domingo passado), também é lembrado com bastante carinho pelos palmeirenses: Zinho.
No Palmeiras, o grande xodó da torcida é hoje o goleiro Marcos. Mesmo após ter ganho a Copa de 2002 com a seleção e de ter recebido vantajosa proposta do Cruzeiro, o jogador aceitou jogar a Série B e não trocou de ""Palestra".
Outros jogadores palmeirenses, como o atacante colombiano Muñoz, também foram namorados pelo Cruzeiro, mas continuaram atuando no estádio Palestra Itália.
Na comemoração do título no último domingo, o presidente cruzeirense, Alvimar Perrella, não esqueceu do ""irmão" paulista que havia subido uma semana antes. ""Infelizmente, o Palmeiras caiu no ano passado. Mas agora estamos todos comemorando."
O presidente do Palmeiras, Mustafá Contursi, assim como os dirigentes cruzeirenses, superou críticas e, sem investir muito, teve mais sucesso do que quando quis um esquadrão -o Cruzeiro falhou no Brasileiro com um supertime, e o Palmeiras caiu com vários atletas consagrados.
Os Perrella e Contursi não tiveram apenas Luxemburgo como treinador em comum. O pentacampeão mundial Luiz Felipe Scolari, hoje técnico da seleção de Portugal, marcou época no Palmeiras nos anos 90 e depois passou pelo Cruzeiro. Mais humilde, Marco Aurélio também treinou os dois times recentemente.
Acompanhando suas equipes, as torcidas palestrinas roubaram a cena. O Palmeiras foi líder de público na Série B; o Cruzeiro é na Série A. Ostentando estrelas douradas ou estendendo faixas nas cores da bandeira italiana, cruzeirenses e palmeirenses construíram algumas das melhores imagens do futebol nacional no ano.
Na temporada em que o futebol italiano deu o tom, com uma inédita final entre Juventus e Milan na Europa, o Brasil reverenciou seus mais gloriosos ""oriundi".


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