São Paulo, quarta-feira, 07 de dezembro de 2005

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TÊNIS

Simpatia, quase amor

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Jose-Luis Clerc. Na época em que eu, criança, começava a consumir tênis, era esse o nome que me chamava a atenção, por razões que jamais descobriria.
Obviamente John McEnroe, Jimmy Connors e Bjorn Borg eram mais presentes na TV. Mas como não torcer, sem saber o motivo, para Jose-Luis Clerc quando era anunciado nos torneios por aqui, Guarujá, por exemplo?
Anos depois, a mesma reação com Gabriela Sabatini. Ainda moleque, era difícil escolher uma tenista que, quase sempre, perdia na final (várias finais) para a tal Steffi Graf. Mas isso não fazia diferença. Por causa de Sabatini, cresci com rejeição a Graf (talvez o único jogo em que desejei vê-la vencedora foi a final de Roland Garros-99, ante Martina Hingis, quando a suíça "barbarizou").
Ver Sabatini bater Graf na final do Aberto dos EUA-90 foi um dos maiores prazeres esportivos que experimentei enquanto morava nos EUA naquele ano. Quando tive a primeira chance de, já jornalista, entrevistar Sabatini, "gastei" mais da metade do papo para lembrar desse jogo. Obviamente a entrevista não rendeu -por culpa exclusivamente minha, diante da simpatia da atleta.
Em outro caso, há apenas três anos, via Gustavo Kuerten enfrentar Guillermo Coria no Torneio da Costa do Sauípe. Manhã de sol, calor insuportável, torcida fanática, jogo equilibrado, disputa de título. Guga chegou a salvar um match point, virou uma partida fantástica e, após quase três horas, ficou com o troféu.
A conversa pós-jogo de Kuerten com os jornalistas foi só euforia. A entrevista oficial de Coria caminhava para uma mera formalidade quando perguntei a ele, em bom português, se os juízes de linha não haviam errado demais.
Coria, simpático, sorriu ironicamente. "Erraram bastante. Tive de engolir." Perguntei o que achara da torcida: "Tive medo, não pude reagir". Um colega tentou amenizar o papo ao dizer que os brasileiros não estavam acostumados com tênis. Coria rebateu: "Quem me chamava de "argentino de merda" e "filho da puta" eram torcedores perto da quadra, pessoas com certo nível cultural".
Todos foram embora considerando aquilo choro de perdedor; eu achava que Coria tinha razão. Mais: que viraria top ten e não desejaria mais jogar por aqui. Infelizmente deu no que deu...
Lembrei disso tudo porque recentemente alguns leitores tiveram a impressão de que eu "detesto, desprezo e não dou valor" aos tenistas argentinos -naquela semana, escrevi que Federer "deixou o caminho aberto" para Nalbandian levar o Masters.
Nada tenho contra Nalbandian, argentinos, russos, iraquianos, iranianos, brasileiros ou americanos. Ainda hoje admiro Clerc, Sabatini e Coria. Coincidentemente, são argentinos. Também admiro Patrick Rafter, Goran Ivanisevic, Pete Sampras, Stefan Edberg, Mahesh Bupathi, Roger Federer, Rafael Nadal, australiano, croata, americano, sueco, indiano, suíço, espanhol, respectivamente, entre outros.
Deve ser porque são excelentes tenistas, independentemente de suas nacionalidades. Desconfio.

Programão
Com Guga, Martina Hingis, Ricardo Mello, Nicolas Kiefer, Robby Ginepri, Nicolas Lapentti e Anna Kournikova, entre outros, o Desafio Petrobras, na praia de Copacabana, no Rio, é o melhor programa para este verão. Vai até sábado à noite e, o que é melhor, sai de graça.

Emoção
Fantástico e merecido o título croata na Davis. No banco, o apoio do carismático Goran Ivanisevic. Em quadra, a vitória no último jogo com Mario Ancic, jovem talentoso e, lá, chamado de "Baby Goran".

Dinossauro
Em fevereiro, John McEnroe estará de volta ao circuito profissional. Faz dupla com Jonas Bjorkman no Torneio de San Jose, nos EUA.

E-mail reandaku@uol.com.br


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