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Governo titubeia e põe intervenção em risco
Advocacia Geral hesita em avalizar artigo que permitiria ingerência na CBF
DA REPORTAGEM LOCAL E
DO PAINEL FC
Dado como certo pelo governo
federal há um mês, o artigo de
uma medida provisória que abriria caminho para a intervenção
do Ministério Público na CBF já
está ameaçado.
O texto da MP, cuja apresentação era aguardada para hoje, não
sairá esta semana e, segundo a Folha apurou, caso fosse editado
agora, não traria o artigo permitindo a interferência externa nas
entidades esportivas.
Maiores entusiastas da intervenção, o ministro Carlos Melles
(Esporte e Turismo) e os senadores Álvaro Dias (PDT-PR) e Geraldo Althoff (PFL-SC), respectivamente presidente e relator da
CPI do Futebol, concluída no mês
passado no Senado, esbarram
num obstáculo dentro do próprio
governo: ainda não conseguem
convencer a Casa Civil e a Advocacia Geral da União da conveniência da medida.
Além disso, aliados da CBF em
Brasília têm procurado convencer
o governo de que a medida poderia acarretar em um desgaste.
O Planalto está disposto a editar
uma MP que coloque em prática
as conclusões da CPI do Futebol,
mas, cada vez mais convicto de
que a intervenção tem motivações
mais políticas do que jurídicas, já
pretende retirá-la do texto.
Cientes de que o trunfo que tanto alardearam corre risco, os adversários de Teixeira se movimentam para tentar salvá-lo.
Althoff deve se encontrar até o
dia 15 com o advogado-geral da
União, Gilmar Mendes.
Ele interromperá suas férias, já
que o Congresso se encontra em
recesso, para tentar convencer
Mendes de que o artigo não fere a
Constituição e que, em nome da
urgência da moralização do esporte brasileiro, precisa ser mantido na medida provisória.
Mas, se nos bastidores os adversários de Teixeira aparentam certo desespero, ao mesmo tempo
procuram mostrar certeza da vitória. Segundo assessores, Althoff
não cogita a possibilidade de o
texto ser enviado para sanção presidencial sem o artigo que trata da
intervenção do Ministério Público nas entidades desportivas, entre elas a CBF.
O texto que serve de base para a
MP foi elaborado pela CPI do Futebol e ganhou o nome de Lei de
Responsabilidade Social do Futebol Brasileiro.
Álvaro Dias, que presidiu a comissão, está na Europa e tem planos de visitar a Fifa. Por telefone,
ele disse à Folha ter recebido informações do governo de que todo o texto seria mantido na MP.
Diz o texto em seu artigo 14, parágrafo único:
"Constatadas irregularidades
[em entidades desportivas", o Ministério Público poderá representar em juízo, requerendo o afastamento de administradores por
prazo determinado, bem como a
indicação de um ou mais associados para atuarem como interventores, até a realização de assembléia para preenchimento dos
cargos declarados vagos".
Dias afirma acreditar que o atraso na apresentação da MP pode
estar ocorrendo porque o ministro Carlos Melles quer esperar o
fim do recesso parlamentar.
Inicialmente, a expectativa do
senador era de que o texto da medida fosse apresentado antes mesmo do final do ano passado.
Uma possível visita de Dias,
parlamentar do bloco de oposição
ao governo, à sede da entidade
que comanda o futebol mundial,
em Zurique, teria o objetivo de
convencer o presidente da entidade, Joseph Blatter, da necessidade
da intervenção.
Mas é justamente aí que reside
outra hesitação do governo em
incluir na MP a brecha para a intervenção. O Planalto também teme ser responsabilizado por um
eventual fracasso da seleção brasileira na Copa do Mundo.
O encontro entre Blatter e Dias
só será possível se tiver a intermediação do ex-jogador Pelé, que está em alta com a Fifa.
Teixeira, que está afastado do
cargo por recomendação médica,
se encontra na Suíça.
Ele já acertou com Blatter que a
Fifa sairia em apoio da CBF,
ameaçando punir a seleção, caso
houvesse uma intervenção do governo federal sem uma condenação sua na Justiça, ainda que em
primeira instância.
Em dezembro, o relatório final
da CPI do Futebol sugeriu o indiciamento do dirigente ao Ministério Público pela suposta prática
de crimes fiscais, lavagem de dinheiro e apropriação indébita.
Ainda no mês passado, a Justiça
autorizou a transferência dos sigilos bancário e fiscal do cartola da
CPI para o Ministério Público,
mas Melles, Dias e Althoff desejam uma reformulação na entidade antes mesmo de a Justiça analisar os dados levantados pela CPI
-a intervenção possibilitaria a
retirada de Teixeira do cargo antes mesmo de ele ser julgado pelos
indícios de irregularidades apontados no relatório final.
Se o artigo que permite a intervenção for editado, os advogados
de Teixeira e de outros dirigentes
que tiveram indiciamento ao pedido pela CPI devem recorrer ao
STF (Supremo Tribunal Federal).
Antônio Carlos de Almeida
Castro, um dos principais advogados do presidente da CBF, afirma que ele deve ficar no cargo e se
defender na Justiça.
Castro está em férias e retorna
ao trabalho dia 11.
(FÁBIO VICTOR, JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO E JOSÉ ALBERTO BOMBIG)
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