São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2000


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FUTEBOL
As lágrimas de Alaor, o torcedor

JOSÉ ROBERTO TORERO

No domingo, vi o jogo final do torneio classificatório para a Olimpíada na casa de Alaor, o torcedor. Era seu aniversário de 40 anos, e logo depois do jogo comeríamos um bolo.
Quando acabou a partida, eu, que já tinha tomado três caipirinhas, comemorava o primeiro lugar dançando um sambinha com meus indicadores levantados. Alaor, porém, estava impassível. Isso é muito estranho, porque Alaor, o torcedor, é um fanático, daqueles que tomam porres, usam fantasias e soltam fogos pela janela. Mas, dessa vez, nada. Preocupado, perguntei-lhe o que tinha acontecido.
""É essa seleção. Eu não consigo me identificar com essa seleção", disse ele.
""Mas é a seleção brasileira." E comecei a cantar: ""90 milhões em ação, pra frente Brasil...".
""Que noventa?" Ele interrompeu. ""O Brasil já tem quase 180. Esse é o problema."
""O aumento populacional?"
""Não, seu tonto, eu não sou do mesmo tempo desses garotos. Eu nasci na década de 60, e eles, na de 80!"
""E daí?"
""E daí que eu e eles não temos nada em comum. Eles não usaram camisa amarela pelas ""Diretas Já", só viram um papa na vida, não sabem o que foi a Guerra Fria, nem desconfiam que o Fernando Henrique Cardoso já foi de esquerda, ""Day After" para eles é uma pílula e não um filme, conheceram só uma Alemanha, não sabem o que é Atari, nunca jogaram Pac-Man, nem sabem o que é um aparelho de televisão com apenas 13 canais, muito menos a marca Telefunken, não foram ao Rock'n Rio 1, acham a Luciana Vendramini uma senhora, não têm a menor idéia do que é o Palácio da Justiça dos Superamigos, acham que o Paulo Ricardo começou sua carreira agora, jamais calçaram um Bamba, um Kichute ou um Montreal (aquele que o Silvio Santos sorteava no Domingo no Parque), nem imaginam o que é um SP2, Michael Jackson para eles sempre foi branco, não desconfiam que a Xuxa já foi da Manchete, jamais ouviram falar de Betamax e não passaram pela febre da ""promoção ioiô" da Coca-Cola! Agora me diz, como é que eu posso torcer por esses garotos? Eu sou um velho!"
Então Alaíde, a esposa de Alaor, entrou com o bolo de aniversário com 40 velinhas. E o Alaor começou a chorar.
  Por que apenas três veteranos na Olimpíada? Por que não fazer uma competição para valer, assim como nos outros esportes? Provavelmente porque a Fifa perderia dinheiro. Não é à toa que ela quer a Copa a cada dois anos.

Recebi por esses dias um e-mail com uma série de piadas sobre o pouco simpático Eurico Miranda. Faltam-me provas, mas tudo leva a crer que o remetente seja um flamenguista.
Segundo o texto, Eurico nasceu para ser vice: é vice-presidente do clube, vice-campeão carioca e bi-vice-campeão mundial. E isso sem falar do vice no Carioca de futsal, no Carioca de basquete, no Brasileiro de basquete e na Taça Guanabara. São vicissitudes que vicejam. Espero que não viciem.
  Não posso deixar de exaltar o desempenho do quarteto brasileiro na Davis, principalmente a árdua vitória de Meligeni sobre Pioline. Que venha a Eslováquia! Agora, alguém poderia me explicar por que a contagem dos pontos num game é 15, 30 e 40, e não 15, 30 e 45, ou 10,20 e 30?

E-mail torero@uol.com.br


José Roberto Torero escreve às terças e às sextas-feiras

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