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FUTEBOL
As lágrimas de Alaor, o torcedor
JOSÉ ROBERTO TORERO
No domingo, vi o jogo final do
torneio classificatório para a
Olimpíada na casa de Alaor, o
torcedor. Era seu aniversário de
40 anos, e logo depois do jogo comeríamos um bolo.
Quando acabou a partida, eu,
que já tinha tomado três caipirinhas, comemorava o primeiro lugar dançando um sambinha com
meus indicadores levantados.
Alaor, porém, estava impassível.
Isso é muito estranho, porque
Alaor, o torcedor, é um fanático,
daqueles que tomam porres,
usam fantasias e soltam fogos pela janela. Mas, dessa vez, nada.
Preocupado, perguntei-lhe o que
tinha acontecido.
""É essa seleção. Eu não consigo
me identificar com essa seleção",
disse ele.
""Mas é a seleção brasileira." E
comecei a cantar: ""90 milhões em
ação, pra frente Brasil...".
""Que noventa?" Ele interrompeu. ""O Brasil já tem quase 180.
Esse é o problema."
""O aumento populacional?"
""Não, seu tonto, eu não sou do
mesmo tempo desses garotos. Eu
nasci na década de 60, e eles, na
de 80!"
""E daí?"
""E daí que eu e eles não temos
nada em comum. Eles não usaram camisa amarela pelas ""Diretas Já", só viram um papa na vida, não sabem o que foi a Guerra
Fria, nem desconfiam que o Fernando Henrique Cardoso já foi de
esquerda, ""Day After" para eles é
uma pílula e não um filme, conheceram só uma Alemanha, não sabem o que é Atari, nunca jogaram
Pac-Man, nem sabem o que é um
aparelho de televisão com apenas
13 canais, muito menos a marca
Telefunken, não foram ao Rock'n
Rio 1, acham a Luciana Vendramini uma senhora, não têm a menor idéia do que é o Palácio da
Justiça dos Superamigos, acham
que o Paulo Ricardo começou sua
carreira agora, jamais calçaram
um Bamba, um Kichute ou um
Montreal (aquele que o Silvio
Santos sorteava no Domingo no
Parque), nem imaginam o que é
um SP2, Michael Jackson para
eles sempre foi branco, não desconfiam que a Xuxa já foi da
Manchete, jamais ouviram falar
de Betamax e não passaram pela
febre da ""promoção ioiô" da Coca-Cola! Agora me diz, como é
que eu posso torcer por esses garotos? Eu sou um velho!"
Então Alaíde, a esposa de Alaor,
entrou com o bolo de aniversário
com 40 velinhas. E o Alaor começou a chorar.
Por que apenas três veteranos
na Olimpíada? Por que não fazer
uma competição para valer, assim como nos outros esportes?
Provavelmente porque a Fifa perderia dinheiro. Não é à toa que ela
quer a Copa a cada dois anos.
Recebi por esses dias um e-mail
com uma série de piadas sobre o
pouco simpático Eurico Miranda.
Faltam-me provas, mas tudo leva
a crer que o remetente seja um flamenguista.
Segundo o texto, Eurico nasceu
para ser vice: é vice-presidente do
clube, vice-campeão carioca e bi-vice-campeão mundial. E isso sem
falar do vice no Carioca de futsal,
no Carioca de basquete, no Brasileiro de basquete e na Taça Guanabara. São vicissitudes que vicejam. Espero que não viciem.
Não posso deixar de exaltar o
desempenho do quarteto brasileiro na Davis, principalmente a árdua vitória de Meligeni sobre Pioline. Que venha a Eslováquia!
Agora, alguém poderia me explicar por que a contagem dos pontos num game é 15, 30 e 40, e não
15, 30 e 45, ou 10,20 e 30?
E-mail torero@uol.com.br
José Roberto Torero escreve às terças e às
sextas-feiras
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