São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2000


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Dirigente entrega à Rede Globo o principal Estadual do país
Paulista sobrevive com malabarismos de Farah

Caio Guatelli/Folha Imagem
Luiz Felipe Scolari em treino do Palmeiras, que pega o Guarani



Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos estréiam hoje no torneio que desafia a tendência de globalização do futebol


RODRIGO BUENO
da Reportagem Local

Desafiando os críticos dos torneios estaduais, o Campeonato Paulista do ano 2000 começa para valer hoje, quando os quatro times ""grandes" do Estado fazem suas estréias.
Para se manter vivo até este ano, o principal Estadual do país vem passando por quase todo tipo de experiências, promovidas pelo presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah.
Nos últimos dez anos, foram testadas novas regras, contratados juízes estrangeiros, atletas e cheerleaders, os clubes passaram a ter cotas por jogo, e até houve a terceirização.
A última tentativa é uma parceria com a Rede Globo, que gastou R$ 17 milhões para adquirir os direitos sobre a competição (sem contar a quantia paga pelos direitos de TV). A emissora cuidará da publicidade estática dos estádios, da venda de ingressos e pode até multar os participantes.
""Os campeonatos estaduais vêm sendo combatidos há muito tempo por um grupo de jornalistas competentes", disse Farah, justificando tudo o que tentou.
O dirigente, mais que qualquer outra coisa, vem lutando para evitar a extinção do Paulista.
""Lutamos com dificuldade. Houve um período que foi um massacre contra os Estaduais. De 90 a 94, foi terrível. Foi o período mais difícil", disse o dirigente.
Em 1990, Farah resgatou o exame antidoping no Paulista, sua primeira grande tentativa de valorizar a imagem do torneio. A iniciativa mostrou resultado. Jogadores, como Jura (então na Internacional de Limeira), foram flagrados em exames e punidos.
Em 1994, ano em que o Paulista teve a concorrência da Copa nos EUA, Farah apostou em experiências com novas regras, como lateral com o pé, impedimento a partir da grande área e limite de faltas coletivas. Todas as idéias foram vetadas ou ignoradas pela Fifa.
No ano seguinte, o dirigente continuou experimentando. Tempo técnico e cartão azul foram rechaçados pela máxima entidade do futebol. O uso de sete bolas, porém, foi elogiado e seguido pela Fifa.
""Nem tudo foi aprovado pela Fifa, mas ainda será, pois são mudanças inevitáveis", disse Farah.
Também em 1995, o dirigente trouxe juízes estrangeiros e de outros Estados para apitar em São Paulo. O resultado vinha sendo positivo, com atuações elogiadas até o Paulista-98, quando o argentino Javier Castrilli teve polêmica atuação em uma semifinal entre Corinthians e Lusa.
Em 1997, o Paulista foi terceirizado, e os clubes passaram a ganhar cota mínima por partida. A VR, empresa que investiu pesado no torneio, teve prejuízo, mas os times melhoraram seus caixas.
""A cota mínima foi o grande escudo de preservação do Estadual. Já a parceria com a VR, financeiramente, foi fantástica (R$ 41 milhões para um torneio de 4 meses), mas a VR veio sem conhecer o futebol. Não conseguimos na prática fazer com que ela tivesse um retorno para seu trabalho. Falhamos conjuntamente", disse.
No ano seguinte, a Kaiser foi a patrocinadora oficial do Paulista, que consagrou a contratação de atletas do exterior, como Marcelinho, do Corinthians, pela FPF.
""Com a Kaiser, tivemos um crescimento de resultado, tanto que, ao término do campeonato, ela recebeu de volta o dinheiro."
A compra de jogadores para os clubes deixou os times mais fortes, mas a dispendiosa prática não teve sequência.
""Nunca consideramos o dinheiro envolvido no Paulista como uma despesa, e sim como um investimento", disse Farah.
O investimento do dirigente resultou até em distribuição de lanches, realização de shows e importação de cheerleaders. Nada contribuiu para um aumento significativo de público nos estádios. Hoje, só as animadoras de torcida continuam firmes no Paulista.
A partir de 98, os clubes ""grandes" passaram a ser poupados da fase inicial, para poder disputar o Torneio Rio-São Paulo.
Após tantas apostas, Farah acha que o acordo com a Globo será a salvação definitiva do Paulista.
""Com a Globo, a tendência é melhorar muito. Ela entende de publicidade estática, de transmissão e de venda de ingressos, pois já teve experiência vitoriosa no Rio. Em dois ou três anos, o Brasil estará entre os melhores em organização. Hoje, não estamos."


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