São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2000


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FUTEBOL
Ressaca do Carnaval

TOSTÃO

Hoje, assim como o final do ano, simboliza a entrada para um novo mundo. Depois da farra do Carnaval, até para quem tomou um porre de cinema, leitura e seios de silicone na TV, é hora de pensar no futuro e fazer planos para o ano.
Parece até crônica de final de ano. O dia 31 de dezembro foi a despedida do ano velho e o momento de pensar no futuro. Como as coisas importantes no Brasil só ocorrem após o Carnaval, essa é também a hora de planejar e agir. O último dia do ano foi de reflexão, de ensaio. Agora, é pra valer.
Tenho muitos planos. Fazer a viagem de férias que não fiz, escrever as coisas que não consegui, cuidar melhor da saúde, convencer aquela doce mulher que vale a pena, ler os livros que não li, brincar com a vida, conviver melhor com a natureza etc.
São tantos os desejos, que, se eu realizar 50% deles, estarei satisfeito. Alguns, em parte, dependem de mim. Nos que não posso interferir, resta-me torcer. Sem sofrer.
  Muitos me perguntam como eu formaria o melhor time do mundo de todos os tempos, entre os jogadores que vi atuar.
No gol, colocaria o russo Yashin, o ""Aranha Negra". Como diz seu apelido, jogava todo de preto e tinha uma elasticidade incrível.
Na lateral direita, Carlos Alberto, com sua passada larga, cabeça em pé, passe perfeito e boa marcação. Na esquerda, Nilton Santos, a ""Enciclopédia do Futebol". Foi tão bom quanto Beckenbauer. Nilton Santos fazia tudo certo, com simplicidade e perfeição.
Na zaga, Baresi, da Itália, com sua estupenda colocação e capacidade de antever o passe e chegar sempre antes do atacante, sem fazer faltas. A seu lado, o seguro, eficiente e clássico chileno Figueroa, que foi campeão brasileiro pelo Inter, de Porto Alegre.
No meio-campo, Beckenbauer, símbolo da técnica perfeita e da elegância. Um pouco mais adiantado, quatro supercraques: Maradona, Platini, Cruyff e Di Stefano. Qual deles foi o melhor? Todos jogavam na mesma posição, entre o meio-campo e o ataque. Vinham buscar a bola, davam o passe decisivo ou saíam driblando e tabelando, até fazer o gol.
Maradona não foi o melhor, mas certamente foi o mais artístico jogador do mundo. Seu futebol representava a ousadia e a paixão do tango. Platini, ao contrário, simbolizava a técnica, o passe preciso, o olhar profundo e a conclusão perfeita. Cruyff e Di Stefano foram além coletivamente, pois foram craques de uma área à outra. Só os dois, em todo futebol mundial, foram capazes disso.
Um pouco mais na frente, pela direita, escalo Garrincha, o mais lúdico de todos os tempos. Bailava em campo, como Fred Astaire e Charles Chaplin. Garrincha não ficava só no drible. Passava e cruzava com perfeição.
Na frente, Pelé, o melhor de todos. Ele unia o máximo do talento com a máxima eficiência. Quase não fazia firulas e driblava sempre em direção ao gol. Foi o rei.
Acabo de perceber que escalei 12 jogadores. Você, se quiser, pode tirar um. Eu não consigo.
Nesse time, ainda escalaria Eusébio, Bob Charlton, Gérson, Rivelino, Didi, Zico, o alemão Muller, Falcão, Puskas, Zizinho, Romário, Reinaldo e muitos outros.
Os pragmáticos, apaixonados pela tática e pelo equilíbrio, devem estar questionando se seria possível ter tantos craques numa mesma equipe, e ela ser competitiva. Não estariam faltando os pegadores e os cabeças-de-áreas?
Com certeza, esse time seria possível. Se não fosse, não me importaria. Essa não é uma equipe para vencer, mas para alegrar e sonhar. É o que vale na vida.
  A presença dos novos gerentes contratados pelas empresas, no futebol, com funções administrativas, não anula a necessidade de um outro profissional, ainda não reconhecido, talvez utópico, para ser o coordenador técnico. Este teria a função de coordenar e escolher toda a comissão técnica, inclusive o técnico.
O treinador passaria a ter a função de treinar, escalar, comandar o time nos jogos e sugerir contratações, o que já é muito. Na prática, durante algum tempo, será difícil a convivência pacífica entre ele e o coordenador técnico.
Existem poucos profissionais no futebol brasileiro com condições de exercer bem essa função. Parreira é um deles. Com sua experiência e seus conhecimentos que ultrapassam a parte técnica, ele tem o perfil ideal par o cargo.
Provavelmente, os técnicos de hoje, mais bem preparados, preocupados com o planejamento, como Luxemburgo e outros, serão os coordenadores técnico no futuro. Será a evolução natural de suas carreiras.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


Tostão escreve às quartas-feiras e aos domingos

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