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FUTEBOL
Ressaca do Carnaval
TOSTÃO
Hoje, assim como o final do ano,
simboliza a entrada para um novo mundo. Depois da farra do
Carnaval, até para quem tomou
um porre de cinema, leitura e
seios de silicone na TV, é hora de
pensar no futuro e fazer planos
para o ano.
Parece até crônica de final de
ano. O dia 31 de dezembro foi a
despedida do ano velho e o momento de pensar no futuro. Como
as coisas importantes no Brasil só
ocorrem após o Carnaval, essa é
também a hora de planejar e agir.
O último dia do ano foi de reflexão, de ensaio. Agora, é pra valer.
Tenho muitos planos. Fazer a
viagem de férias que não fiz, escrever as coisas que não consegui,
cuidar melhor da saúde, convencer aquela doce mulher que vale a
pena, ler os livros que não li, brincar com a vida, conviver melhor
com a natureza etc.
São tantos os desejos, que, se eu
realizar 50% deles, estarei satisfeito. Alguns, em parte, dependem
de mim. Nos que não posso interferir, resta-me torcer. Sem sofrer.
Muitos me perguntam como eu
formaria o melhor time do mundo de todos os tempos, entre os jogadores que vi atuar.
No gol, colocaria o russo Yashin,
o ""Aranha Negra". Como diz seu
apelido, jogava todo de preto e tinha uma elasticidade incrível.
Na lateral direita, Carlos Alberto, com sua passada larga, cabeça
em pé, passe perfeito e boa marcação. Na esquerda, Nilton Santos, a
""Enciclopédia do Futebol". Foi
tão bom quanto Beckenbauer.
Nilton Santos fazia tudo certo,
com simplicidade e perfeição.
Na zaga, Baresi, da Itália, com
sua estupenda colocação e capacidade de antever o passe e chegar
sempre antes do atacante, sem fazer faltas. A seu lado, o seguro, eficiente e clássico chileno Figueroa,
que foi campeão brasileiro pelo
Inter, de Porto Alegre.
No meio-campo, Beckenbauer,
símbolo da técnica perfeita e da
elegância. Um pouco mais adiantado, quatro supercraques: Maradona, Platini, Cruyff e Di Stefano.
Qual deles foi o melhor? Todos jogavam na mesma posição, entre o
meio-campo e o ataque. Vinham
buscar a bola, davam o passe decisivo ou saíam driblando e tabelando, até fazer o gol.
Maradona não foi o melhor,
mas certamente foi o mais artístico jogador do mundo. Seu futebol
representava a ousadia e a paixão
do tango. Platini, ao contrário,
simbolizava a técnica, o passe preciso, o olhar profundo e a conclusão perfeita. Cruyff e Di Stefano
foram além coletivamente, pois
foram craques de uma área à outra. Só os dois, em todo futebol
mundial, foram capazes disso.
Um pouco mais na frente, pela
direita, escalo Garrincha, o mais
lúdico de todos os tempos. Bailava
em campo, como Fred Astaire e
Charles Chaplin. Garrincha não
ficava só no drible. Passava e cruzava com perfeição.
Na frente, Pelé, o melhor de todos. Ele unia o máximo do talento
com a máxima eficiência. Quase
não fazia firulas e driblava sempre em direção ao gol. Foi o rei.
Acabo de perceber que escalei 12
jogadores. Você, se quiser, pode tirar um. Eu não consigo.
Nesse time, ainda escalaria Eusébio, Bob Charlton, Gérson, Rivelino, Didi, Zico, o alemão Muller,
Falcão, Puskas, Zizinho, Romário,
Reinaldo e muitos outros.
Os pragmáticos, apaixonados
pela tática e pelo equilíbrio, devem estar questionando se seria
possível ter tantos craques numa
mesma equipe, e ela ser competitiva. Não estariam faltando os pegadores e os cabeças-de-áreas?
Com certeza, esse time seria possível. Se não fosse, não me importaria. Essa não é uma equipe para
vencer, mas para alegrar e sonhar.
É o que vale na vida.
A presença dos novos gerentes
contratados pelas empresas, no
futebol, com funções administrativas, não anula a necessidade de
um outro profissional, ainda não
reconhecido, talvez utópico, para
ser o coordenador técnico. Este teria a função de coordenar e escolher toda a comissão técnica, inclusive o técnico.
O treinador passaria a ter a função de treinar, escalar, comandar
o time nos jogos e sugerir contratações, o que já é muito. Na prática, durante algum tempo, será difícil a convivência pacífica entre
ele e o coordenador técnico.
Existem poucos profissionais no
futebol brasileiro com condições
de exercer bem essa função. Parreira é um deles. Com sua experiência e seus conhecimentos que
ultrapassam a parte técnica, ele
tem o perfil ideal par o cargo.
Provavelmente, os técnicos de
hoje, mais bem preparados, preocupados com o planejamento, como Luxemburgo e outros, serão os
coordenadores técnico no futuro.
Será a evolução natural de suas
carreiras.
E-mail tostao.folha@uol.com.br
Tostão escreve às quartas-feiras e aos domingos
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