São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2004

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FUTEBOL

Futebol sem meias

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Renato completou 300 jogos como profissional na vitória do Santos sobre o Guarani, clube que o revelou. É hoje, a meu ver, o mais importante jogador do Santos e um dos mais completos futebolistas em atividade no país.
Se, depois do fracasso brasileiro no Pré-Olímpico, Diego caiu de produção, Renato só melhorou. Juntos e em forma, os dois dão equilíbrio ao Santos e liberdade para Robinho (que não jogou ontem) brilhar.

Ao que parece, há cada vez mais times que abrem mão de um meia-armador.
Refiro-me ao organizador do jogo no meio-de-campo, aquele que os ingleses chamam de "playmaker", e os franceses, de "meneur du jeu".
Dois exemplos desse "futebol sem meias", em que há um vácuo entre os volantes e os atacantes, são o atual Corinthians e a atual seleção brasileira.
Não se trata bem de um vazio geográfico, físico, mas de função. Jogadores como Zé Roberto, ou Kléberson, ou Rincón, até chegam eventualmente ao ataque, mas não exercem o papel de organizadores, de armadores de jogadas.
Dependendo da qualidade dos jogadores em campo e de uma série de outros fatores, esse esquema pode eventualmente dar certo, como aconteceu na Copa-2002.
Mas não escondo que o futebol que me agrada ver é o dos times que contam com um ou mais armadores, ou seja, aqueles sujeitos que arredondam a bola, viram o jogo, descobrem o espaço que ninguém percebeu e antevêem a melhor jogada a ser feita.
No Brasil, quem faz isso? Alex, Diego, Pedrinho, Zinho e mais uns poucos. Uns com mais brilho, outros com mais constância. O que importa é que o jogo de suas equipes parece fluir mais macio.
Geralmente esse tipo de jogador potencializa as qualidades de seus companheiros de meio-campo e ataque. Com Zinho no Flamengo, por exemplo, Felipe fica mais livre para cair pelas extremas e se aproximar da área adversária.
Tudo isso foi um preâmbulo para dizer que, no Palmeiras, parece estar se formando uma dupla inusitada e feliz: Magrão e Pedrinho. São dois antípodas que se complementam e se equilibram.
Enquanto o primeiro, com seu estilo voluntarioso e quase peladeiro, corre o campo todo, desdobrando-se no desarme e na chegada ao ataque, Pedrinho joga mais com a cabeça, limitando-se a uma faixa menor de terreno, mas clareando o jogo para os avanços dos alas e a definição dos atacantes.
É quase uma inversão da mais célebre dupla de meio-de-campo palmeirense, Dudu e Ademir, na qual o primeiro praticamente restringia-se à função defensiva, liberando o segundo não apenas para armar o time, mas também para "ir pessoalmente" a todos os cantos do gramado.
Magrão e Pedrinho podem não fazer história como seus antecessores, mas tudo indica que, ao lado do bom Diego Souza, farão pelo menos uma boa temporada.

Ordem no terreiro
Ao ganhar bem de seus respectivos adversários neste final de semana, o Cruzeiro e o Santos parecem dispostos a superar os tropeços e mostrar que ainda são os melhores times atualmente no Brasil. Na rodada paulista, a única surpresa foi o número de gols do São Caetano sobre o Paulista, até então a sensação do torneio.

Ainda a lista
O mestre Janio de Freitas lembra mais um deslize da lista de Pelé para a Fifa. Segundo ele, "incluir o pobre Cafu e não o inigualado Leandro, que introduziu boa parte do que hoje é natural na posição, é intolerável". Cotejando o futebol dos dois, dou razão a Janio, mas as conquistas de Cafu na seleção brasileira tornaram quase obrigatória a sua escolha.

E-mail: jgcouto@uol.com.br


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