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FUTEBOL
Futebol sem meias
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Renato completou 300 jogos
como profissional na vitória
do Santos sobre o Guarani, clube
que o revelou. É hoje, a meu ver, o
mais importante jogador do Santos e um dos mais completos futebolistas em atividade no país.
Se, depois do fracasso brasileiro
no Pré-Olímpico, Diego caiu de
produção, Renato só melhorou.
Juntos e em forma, os dois dão
equilíbrio ao Santos e liberdade
para Robinho (que não jogou ontem) brilhar.
Ao que parece, há cada vez
mais times que abrem mão de um
meia-armador.
Refiro-me ao organizador do
jogo no meio-de-campo, aquele
que os ingleses chamam de "playmaker", e os franceses, de "meneur du jeu".
Dois exemplos desse "futebol
sem meias", em que há um vácuo
entre os volantes e os atacantes,
são o atual Corinthians e a atual
seleção brasileira.
Não se trata bem de um vazio
geográfico, físico, mas de função.
Jogadores como Zé Roberto, ou
Kléberson, ou Rincón, até chegam
eventualmente ao ataque, mas
não exercem o papel de organizadores, de armadores de jogadas.
Dependendo da qualidade dos
jogadores em campo e de uma série de outros fatores, esse esquema
pode eventualmente dar certo, como aconteceu na Copa-2002.
Mas não escondo que o futebol
que me agrada ver é o dos times
que contam com um ou mais armadores, ou seja, aqueles sujeitos
que arredondam a bola, viram o
jogo, descobrem o espaço que ninguém percebeu e antevêem a melhor jogada a ser feita.
No Brasil, quem faz isso? Alex,
Diego, Pedrinho, Zinho e mais
uns poucos. Uns com mais brilho,
outros com mais constância. O
que importa é que o jogo de suas
equipes parece fluir mais macio.
Geralmente esse tipo de jogador
potencializa as qualidades de
seus companheiros de meio-campo e ataque. Com Zinho no Flamengo, por exemplo, Felipe fica mais livre para cair pelas extremas e se aproximar da área adversária.
Tudo isso foi um preâmbulo para dizer que, no Palmeiras, parece
estar se formando uma dupla
inusitada e feliz: Magrão e Pedrinho. São dois antípodas que se
complementam e se equilibram.
Enquanto o primeiro, com seu
estilo voluntarioso e quase peladeiro, corre o campo todo, desdobrando-se no desarme e na chegada ao ataque, Pedrinho joga
mais com a cabeça, limitando-se
a uma faixa menor de terreno,
mas clareando o jogo para os
avanços dos alas e a definição dos
atacantes.
É quase uma inversão da mais
célebre dupla de meio-de-campo
palmeirense, Dudu e Ademir, na
qual o primeiro praticamente restringia-se à função defensiva, liberando o segundo não apenas
para armar o time, mas também
para "ir pessoalmente" a todos os
cantos do gramado.
Magrão e Pedrinho podem não
fazer história como seus antecessores, mas tudo indica que, ao lado do bom Diego Souza, farão pelo menos uma boa temporada.
Ordem no terreiro
Ao ganhar bem de seus respectivos adversários neste final de
semana, o Cruzeiro e o Santos
parecem dispostos a superar os
tropeços e mostrar que ainda
são os melhores times atualmente no Brasil. Na rodada
paulista, a única surpresa foi o
número de gols do São Caetano
sobre o Paulista, até então a
sensação do torneio.
Ainda a lista
O mestre Janio de Freitas lembra mais um deslize da lista de
Pelé para a Fifa. Segundo ele,
"incluir o pobre Cafu e não o
inigualado Leandro, que introduziu boa parte do que hoje é
natural na posição, é intolerável". Cotejando o futebol dos
dois, dou razão a Janio, mas as
conquistas de Cafu na seleção
brasileira tornaram quase obrigatória a sua escolha.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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