São Paulo, domingo, 08 de março de 2009

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Rio-2016 quer diplomacia a serviço da candidatura

Comitê organizador cria documento para instruir funcionários do Itamaraty

Diplomatas são orientados a incluírem membros do COI em suas listas de contatos e a distribuírem convites para eventos nas embaixadas

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Finalista na disputa pelos Jogos de 2016, o Rio de Janeiro precisa correr atrás de votos mais do que qualquer outro concorrente. Para isso, o governo brasileiro já acionou cabos eleitorais pelo mundo.
Postos do país no exterior receberam documento com instruções de ações para promover a candidatura, argumentos para seduzir dirigentes e pontos fortes dos adversários.
O texto ao qual a Folha teve acesso foi acompanhado de lista dos prováveis membros votantes do Comitê Olímpico Internacional (COI), com fotos.
A eleição da sede de 2016 será em 2 de outubro. Na primeira etapa do processo, o Rio recebeu piores notas que Tóquio, Chicago e Madri, suas rivais.
O Ministério das Relações Exteriores, via assessoria de imprensa, afirmou que o documento foi formulado pelos órgãos governamentais ligados à Rio-2016 em parceria com o Comitê Olímpico Brasileiro. E o Itamaraty usa sua rede mundial de contatos para ajudar na projeção da candidatura.
O texto lista ações que poderão render frutos. O governo pede, por exemplo, que seus representantes no exterior citem a candidatura sempre que possível e peçam apoio explicitamente. Essa é a prática a ser adotada pelo presidente da República em todos os encontros bilaterais, afirma o documento.
Os diplomatas também são instruídos a incluírem membros votantes em suas listas de contatos e a distribuírem convites para eventos na embaixada. Há, porém, um alerta: "De acordo com o Código de Ética do COI , não será permitido a organização em consulados e embaixadas de eventos concebidos exclusivamente para divulgar a candidatura".
Apesar do veto, o manual reforça que alusão à candidatura, exibição de fotos ou filmes e distribuição de material promocional não são proibidos.
Para ajudar as embaixadas a convencerem os membros do COI a votarem no Rio, o governo lista argumentos como o ineditismo dos Jogos na América do Sul e a oportunidade de levar o olimpismo aos jovens.
A organização do Pan-2007 e da Copa-2014 também é citada como trunfo do Brasil.
Outros fatores positivos apresentados são as ações de cooperação com países africanos, asiáticos e latino-americanos, como a exportação do Segundo Tempo, projeto do Ministério do Esporte.
O amistoso que levou a seleção ao Haiti e causou comoção em Porto Príncipe também é lembrado. Segundo o texto, o jogo "deu relevante contribuição para a pacificação" do país.
Para angariar apoios, os representantes do Brasil no exterior também precisam conhecer os pontos fortes dos rivais.
O apoio de Barack Obama é apresentado como o principal trunfo de Chicago. E, graças ao presidente, deverá ganhar os votos africanos na região de "influência do Quênia".
Os EUA, no entanto, teriam um ponto fraco: os Jogos de Atlanta-1996, um dos mais criticados da história. "O fato de abrigarem duas Olimpíadas nos últimos 25 anos poderia constituir grave entrave à candidatura", diz o documento.
A geopolítica também é apontada como argumento contra Madri. Na avaliação do governo brasileiro, será no mínimo surpreendente se outra cidade europeia vier a ser escolhida logo em seguida a Londres, sede do evento em 2012.
O plano de Tóquio é apresentado como a "Olimpíada verde". No entanto, diz o texto, a imprensa especializada aponta como problema o fuso, malvisto pelas TVs de EUA e Europa. Em 2008, os Jogos de Pequim tiveram programação alterada por causa das transmissões.
O documento às embaixadas brasileiras termina com a afirmação de que, segundo a imprensa, "a contenda final se dará entre Chicago e Rio".
Para a candidatura nacional chegar a esse estágio, o corpo-a-corpo terá de ser eficiente.


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