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Após um ano, Nenê volta atrás e diz querer seleção
Principal nome do basquete nacional, ala-pivô, que rompeu com a CBB
e se recupera de cirurgia no joelho, pretende jogar no Mundial deste ano
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele está de volta.
Um ano após anunciar boicote à
seleção, o ala-pivô Nenê Hilário,
23, maior nome do basquete do
país na atualidade, mantém as críticas à administração da Confederação Brasileira de Basquete.
No entanto, ele afirma que quer
atuar na equipe dirigida pelo técnico Lula Ferreira. Assim, corre
contra o tempo para estar em forma até o Mundial do Japão, que
começa em agosto.
"Quero estar inteiro e em forma
para defender o Brasil", afirma
Nenê, 2,11 m, 122 kg e salário de
cerca de US$ 3 milhões (R$ 6,3
milhões) por ano, em entrevista à
Folha, de Denver, onde defende a
equipe local na NBA, referindo-se
à lenta recuperação da cirurgia a
que foi submetido no joelho direito, em novembro do ano passado.
Folha - Como está a sua recuperação da cirurgia no joelho?
Nenê - Graças a Deus, está correndo tudo dentro do esperado.
Já comecei a fazer arremessos sem
movimento, alguns exercícios, e
estou fazendo reforço e fisioterapia de forma intensiva. Não dá para dizer quando terei condições
de jogo. Não quero ficar colocando prazos e criar expectativas,
quando não depende apenas da
minha vontade, que é estar jogando amanhã. Mas preciso obedecer
os limites do meu corpo, dar tempo ao tempo para não correr risco
de uma volta precipitada. Estou
me dedicando ao máximo para
poder voltar o mais rápido possível. Ninguém mais do que eu quer
que o tempo passe logo. Mas só
voltarei quando os médicos me liberarem, quando estiver totalmente recuperado.
Folha - Seu boicote à seleção por
causa de divergências com o presidente da confederação brasileira,
Gerasime Bozikis, o Grego, foi criticado por Oscar, que pediu para você voltar a defender o Brasil. Como
foram essas conversas?
Nenê - Continuo discordando e
insatisfeito com muitas coisas que
hoje acontecem dentro do basquete brasileiro e, quando critico,
é com a intenção de que as coisas
sejam melhoradas, não é uma coisa gratuita, sem sentido. Não dá
para ver que as coisas estão erradas e ficar calado, não falar nada.
O Oscar conversou bastante comigo, é uma pessoa que me passou muitos conselhos e me fez entender que a seleção brasileira não
tem nada a ver com isso. Não posso misturar as coisas. Minhas críticas não podem me fazer abandonar a seleção.
Folha - Quer dizer então que você
pretende jogar pela seleção no
Mundial do Japão, em agosto?
Nenê - Quero estar inteiro, em
forma e pronto para defender a
seleção brasileira, mas não dá para dizer que isso vai acontecer antes do Mundial... É muito difícil.
Minha lesão foi muito séria, a recuperação é lenta, delicada, e estou correndo contra o tempo para
estar à disposição do Lula.
Folha - Você já conversou com o
treinador da seleção sobre a volta?
Nenê - Não, não conversei com o
Lula, mas acho que ainda não é o
momento. Estou concentrado na
minha recuperação e tentando
evitar ao máximo essa ansiedade.
Folha - Acredita que a seleção
brasileira possa resgatar seu prestígio internacional?
Nenê - Acho, sim, que o Brasil
vem resgatando esse prestígio. O
país vem se firmando novamente,
aos poucos, como uma força no
basquete. E o maior exemplo disso é o sucesso que os brasileiros
estão tendo na NBA e na Europa.
Há uma safra muito boa de jogadores, a minha geração está mais
madura, experiente, e acho que a
seleção tem tudo para ir bem nesse Mundial. Tem chances de brigar por um lugar de destaque. Todo mundo sabe que será difícil. O
Brasil vai enfrentar times fortes
como Austrália, Turquia, Grécia e
Lituânia, mas aposto que vai conseguir bom resultado no Japão.
Folha - Recentemente você deixou seus antigos agentes. O que
aconteceu?
Nenê - Minha relação com Joe
[Santos] e [Michael] Coyne já estava um pouco desgastada. E isso
já vinha acontecendo de uns meses para cá. Então achei que era o
momento de mudar... Agradeço a
eles por tudo que fizeram por
mim. Sei do esforço que fizeram
para eu chegar à NBA, mas era
hora de mudar. Expliquei a eles as
minhas razões e fui apresentado
ao Dan Fegan, um empresário sério e muito respeitado aqui nos
EUA. Conversamos e me senti à
vontade, ele me passou confiança,
me deixou tranqüilo. Acredita no
meu potencial, e estou apostando
nessa nova fase da minha carreira.
Folha - Joe Santos pede indenização pelo fim do compromisso com
ele. O que você achou disso?
Nenê - Tudo o que soube sobre o
Joe pedir indenização foi pela imprensa, mas isso está entregue aos
meus advogados e corre em segredo de Justiça. Estou tranqüilo
com relação a isso. Tenho certeza
de que tomei a decisão certa.
Folha - Você se torna agente livre
a partir da próxima temporada da
NBA. Pretende ficar no Denver?
Nenê - É cedo para falar, mas
gostaria de continuar aqui em
Denver. Ficar ou não, não depende apenas de mim, mas gostaria
de permanecer na cidade. Todos
aqui me receberam com muito
carinho, e me sinto em casa. Mas,
claro, sou profissional, qualquer
proposta que chegue precisa ser
avaliada e considerada. Deixo isso
nas mãos de Deus, ele sabe o que é
melhor para mim e vai me indicar
o caminho no momento certo.
Folha - O que você tem achado da
temporada dos outros brasileiros
na NBA?
Nenê - Acho que o Brasil está
muito bem representado. Leandrinho e Anderson [Varejão] estão vivendo bons momentos, se
destacando em suas equipes, enquanto o Rafael [Araújo, o Baby]
é quem está enfrentando mais dificuldades. Leandrinho está jogando bem, mantendo uma regularidade importante em suas
atuações e já conquistou seu espaço dentro do Phoenix. O mesmo
para o Anderson, que vem tendo
boas atuações, voltou bem após a
contusão no ombro e é peça fundamental no tipo de jogo do Cleveland. O Baby [que atua pelo Toronto] precisa de uma boa seqüência, para ter tranqüilidade e
confiança para jogar.
Folha - Gostaria de atuar ao lado
de um deles na NBA?
Nenê - Seria muito legal poder
jogar numa equipe da NBA com
outro brasileiro, claro... Quem sabe isso um dia não acontece?
Folha - O que você tem achado
das brigas no basquete brasileiro
entre CBB e Nossa Liga?
Nenê - É difícil dizer que uma
coisa que dividiu o basquete foi
boa. Mas acho que isso tudo pode
ter sido o começo de uma mudança significativa dentro do basquete brasileiro, um recomeço. Acho
que é hora de se pensar em fazer
basquete. Essa briga já está se arrastando por muito tempo, e aqui
nos EUA essa divisão repercutiu
muito mal para a imagem do nosso basquete.
Folha - Você acredita em uma
conciliação entre CBB e NLB?
Nenê - Cada um defende o seu
lado, mas acho que todos esperam por uma união dentro do
basquete. E isso só vai acontecer
quando todos entenderem que o
esporte vai crescer muito quando
houver conversa. Vamos ganhar
muito mais com o fim desse racha. O basquete do Brasil precisa
de união, e torço para isso aconteça o mais rápido possível.
Folha - Por que o São Carlos, time
de sua cidade, deixou a Nossa Liga?
Nenê - Existe um projeto em São
Carlos, de longo prazo, de investimento e apoio ao basquete da cidade. É um projeto para oferecer e
estimular a prática do esporte entre jovens e crianças, em todas as
categorias. Mas, infelizmente, os
recursos não foram suficientes. O
pessoal agora está buscando parceiros e ajuda para que o time volte com mais estrutura e possa trabalhar com mais tranqüilidade
para a próxima temporada.
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