São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

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Após um ano, Nenê volta atrás e diz querer seleção

Principal nome do basquete nacional, ala-pivô, que rompeu com a CBB e se recupera de cirurgia no joelho, pretende jogar no Mundial deste ano

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele está de volta.
Um ano após anunciar boicote à seleção, o ala-pivô Nenê Hilário, 23, maior nome do basquete do país na atualidade, mantém as críticas à administração da Confederação Brasileira de Basquete.
No entanto, ele afirma que quer atuar na equipe dirigida pelo técnico Lula Ferreira. Assim, corre contra o tempo para estar em forma até o Mundial do Japão, que começa em agosto.
"Quero estar inteiro e em forma para defender o Brasil", afirma Nenê, 2,11 m, 122 kg e salário de cerca de US$ 3 milhões (R$ 6,3 milhões) por ano, em entrevista à Folha, de Denver, onde defende a equipe local na NBA, referindo-se à lenta recuperação da cirurgia a que foi submetido no joelho direito, em novembro do ano passado.
 

Folha - Como está a sua recuperação da cirurgia no joelho?
Nenê -
Graças a Deus, está correndo tudo dentro do esperado. Já comecei a fazer arremessos sem movimento, alguns exercícios, e estou fazendo reforço e fisioterapia de forma intensiva. Não dá para dizer quando terei condições de jogo. Não quero ficar colocando prazos e criar expectativas, quando não depende apenas da minha vontade, que é estar jogando amanhã. Mas preciso obedecer os limites do meu corpo, dar tempo ao tempo para não correr risco de uma volta precipitada. Estou me dedicando ao máximo para poder voltar o mais rápido possível. Ninguém mais do que eu quer que o tempo passe logo. Mas só voltarei quando os médicos me liberarem, quando estiver totalmente recuperado.

Folha - Seu boicote à seleção por causa de divergências com o presidente da confederação brasileira, Gerasime Bozikis, o Grego, foi criticado por Oscar, que pediu para você voltar a defender o Brasil. Como foram essas conversas?
Nenê -
Continuo discordando e insatisfeito com muitas coisas que hoje acontecem dentro do basquete brasileiro e, quando critico, é com a intenção de que as coisas sejam melhoradas, não é uma coisa gratuita, sem sentido. Não dá para ver que as coisas estão erradas e ficar calado, não falar nada. O Oscar conversou bastante comigo, é uma pessoa que me passou muitos conselhos e me fez entender que a seleção brasileira não tem nada a ver com isso. Não posso misturar as coisas. Minhas críticas não podem me fazer abandonar a seleção.

Folha - Quer dizer então que você pretende jogar pela seleção no Mundial do Japão, em agosto?
Nenê -
Quero estar inteiro, em forma e pronto para defender a seleção brasileira, mas não dá para dizer que isso vai acontecer antes do Mundial... É muito difícil. Minha lesão foi muito séria, a recuperação é lenta, delicada, e estou correndo contra o tempo para estar à disposição do Lula.

Folha - Você já conversou com o treinador da seleção sobre a volta?
Nenê -
Não, não conversei com o Lula, mas acho que ainda não é o momento. Estou concentrado na minha recuperação e tentando evitar ao máximo essa ansiedade.

Folha - Acredita que a seleção brasileira possa resgatar seu prestígio internacional?
Nenê -
Acho, sim, que o Brasil vem resgatando esse prestígio. O país vem se firmando novamente, aos poucos, como uma força no basquete. E o maior exemplo disso é o sucesso que os brasileiros estão tendo na NBA e na Europa. Há uma safra muito boa de jogadores, a minha geração está mais madura, experiente, e acho que a seleção tem tudo para ir bem nesse Mundial. Tem chances de brigar por um lugar de destaque. Todo mundo sabe que será difícil. O Brasil vai enfrentar times fortes como Austrália, Turquia, Grécia e Lituânia, mas aposto que vai conseguir bom resultado no Japão.

Folha - Recentemente você deixou seus antigos agentes. O que aconteceu?
Nenê -
Minha relação com Joe [Santos] e [Michael] Coyne já estava um pouco desgastada. E isso já vinha acontecendo de uns meses para cá. Então achei que era o momento de mudar... Agradeço a eles por tudo que fizeram por mim. Sei do esforço que fizeram para eu chegar à NBA, mas era hora de mudar. Expliquei a eles as minhas razões e fui apresentado ao Dan Fegan, um empresário sério e muito respeitado aqui nos EUA. Conversamos e me senti à vontade, ele me passou confiança, me deixou tranqüilo. Acredita no meu potencial, e estou apostando nessa nova fase da minha carreira.

Folha - Joe Santos pede indenização pelo fim do compromisso com ele. O que você achou disso?
Nenê -
Tudo o que soube sobre o Joe pedir indenização foi pela imprensa, mas isso está entregue aos meus advogados e corre em segredo de Justiça. Estou tranqüilo com relação a isso. Tenho certeza de que tomei a decisão certa.

Folha - Você se torna agente livre a partir da próxima temporada da NBA. Pretende ficar no Denver?
Nenê -
É cedo para falar, mas gostaria de continuar aqui em Denver. Ficar ou não, não depende apenas de mim, mas gostaria de permanecer na cidade. Todos aqui me receberam com muito carinho, e me sinto em casa. Mas, claro, sou profissional, qualquer proposta que chegue precisa ser avaliada e considerada. Deixo isso nas mãos de Deus, ele sabe o que é melhor para mim e vai me indicar o caminho no momento certo.

Folha - O que você tem achado da temporada dos outros brasileiros na NBA?
Nenê -
Acho que o Brasil está muito bem representado. Leandrinho e Anderson [Varejão] estão vivendo bons momentos, se destacando em suas equipes, enquanto o Rafael [Araújo, o Baby] é quem está enfrentando mais dificuldades. Leandrinho está jogando bem, mantendo uma regularidade importante em suas atuações e já conquistou seu espaço dentro do Phoenix. O mesmo para o Anderson, que vem tendo boas atuações, voltou bem após a contusão no ombro e é peça fundamental no tipo de jogo do Cleveland. O Baby [que atua pelo Toronto] precisa de uma boa seqüência, para ter tranqüilidade e confiança para jogar.

Folha - Gostaria de atuar ao lado de um deles na NBA?
Nenê -
Seria muito legal poder jogar numa equipe da NBA com outro brasileiro, claro... Quem sabe isso um dia não acontece?

Folha - O que você tem achado das brigas no basquete brasileiro entre CBB e Nossa Liga?
Nenê -
É difícil dizer que uma coisa que dividiu o basquete foi boa. Mas acho que isso tudo pode ter sido o começo de uma mudança significativa dentro do basquete brasileiro, um recomeço. Acho que é hora de se pensar em fazer basquete. Essa briga já está se arrastando por muito tempo, e aqui nos EUA essa divisão repercutiu muito mal para a imagem do nosso basquete.

Folha - Você acredita em uma conciliação entre CBB e NLB?
Nenê -
Cada um defende o seu lado, mas acho que todos esperam por uma união dentro do basquete. E isso só vai acontecer quando todos entenderem que o esporte vai crescer muito quando houver conversa. Vamos ganhar muito mais com o fim desse racha. O basquete do Brasil precisa de união, e torço para isso aconteça o mais rápido possível.

Folha - Por que o São Carlos, time de sua cidade, deixou a Nossa Liga?
Nenê -
Existe um projeto em São Carlos, de longo prazo, de investimento e apoio ao basquete da cidade. É um projeto para oferecer e estimular a prática do esporte entre jovens e crianças, em todas as categorias. Mas, infelizmente, os recursos não foram suficientes. O pessoal agora está buscando parceiros e ajuda para que o time volte com mais estrutura e possa trabalhar com mais tranqüilidade para a próxima temporada.


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